Correria
do dia, pensamento a mil por hora. (“Hold up”). Tanta coisa do trabalho e da
faculdade para resolver. (“Hold on”). Hora de buscar minha filha (“Don’t be
scared”). Eu nem percebi, mas a sonoridade que saía da trilha sonora do filme
que passava na tela em minha frente me invadiu. Eu nunca fui um fã inveterado
do Oasis. Mas aquela melodia de Stop Crying Your Heart Out, aquelas palavras
ativaram todas as conexões neurológicas possíveis, mexeram com meu sistema
límbico e ele buscou no meu córtex cerebral toda aquela memória. Eu senti
naquele momento a mesma sensação nostálgica que eu senti quando terminei de ver
Efeito Borboleta com meus primos em 2004. Já escrevemos sobre esse filme aqui
no blog (http://caundo.blogspot.com/2009/04/efeito-borboleta.html),
inclusive. Mas quero falar da sensação que tive ao reviver toda aquela
nostalgia num átimo de segundo. Segundo o pesquisador e psicológo Tim
Wildschut, a nostalgia é uma resposta imunológica psicológica, pois lembrar dos
bons tempos cria a sensação positiva que combate a ameaça existencial. É
interessante e paradoxal, visto que a experiência da nostalgia parece altamente
melancólica. É incrível como nossa mente é capaz de reviver memórias com base
em pequenas percepções sensitivas. O olfato é um dos mais potentes evocadores
de memória, por causa da conectividade neural entre o nervo olfatório,
hipocampo e sistema límbico. Mas as reminiscências são disparadas por gatilhos
sensoriais diversos, como a imagem de algo ou alguém, o sabor de um alimento e
uma sonoridade marcante. Nem sempre as memórias evocadas são boas. Outro dia
minha esposa teve a mesma sensação nostálgica ao ouvir num restaurante uma
música do Nirvana que ela sequer sabia o nome (Smell Like Teen Spirit). Ela
só sabia dizer que a música a lembrava de momentos angustiantes da sua
adolescência que ela sempre tentou esquecer. O fato é que as lembranças são
extremamente importantes, pois nos relembram quem somos. Como dizia a brilhante
poeta Cecília Meireles: “De que são feitos os dias? De pequenos desejos,
vagarosas saudades, silenciosas lembranças”. Um temperamento nostálgico exige o
compartilhamento, é imperativo, sob pena de se tornar um grande castigo, já
vaticinava Saramago, por meio do seu Homem Duplicado. Aquela simples melodia,
em um momento fugaz, fez-me evocar, reviver, relembrar e constatar que o
passado que não volta nem pode ser mudado é a mola propulsora para o futuro.
Ainda que de modo tímido, consegui entender Clarice Lispector, quando ela dizia
que acordava com nostalgia de ser feliz, no seu Sopro de Vida. É o que resta a
mim e a você: ser feliz! ”You’ll never change what’s been and gone!”
Vivemos em um mundo altamente egoísta. São raras as ações de humanitarismo e solidariedade. Por isso mesmo, elas merecem grande destaque. São poucos os relatos de pessoas que abandonam o seu cotidiano e a sua comodidade para contribuírem para o bem-estar do próximo. A “personalidade da semana” do INTITULÁVEL é uma dessas exceções da sociedade hodierna. Edméia Willians nasceu em Santarém, interior do Pará. Entretanto, sua família migrou para Salvador, na Bahia, onde ela passou a maior parte de sua vida. Aqui ela cresceu, realizou seus estudos, se casou, constitui família e obteve os bacharelados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Música. A sua vida era normal, como de muitos. Passou a morar no Rio de Janeiro, devido ao emprego de seu marido. Chegou até a morar no Iraque, ainda na época de Sadan, também por motivos profissionais relativos ao seu esposo. Tudo transcorria normalmente até que duas tragédias mudaram a história de sua vida. Em um período muito curto, Edméia perdeu o seu es...
Comentários
"É incrível como nossa mente é capaz de reviver memórias com base em pequenas percepções sensitivas".
Ótimo texto!
RF
Tentarei mudar a forma de interpretar minhas nostalgias daqui em diante, sempre atribuí à melancolia e isso não me faz muito bem, afinal de contas, a nostalgia acentua em mim o peso irretratável do tempo.
O filme "Questão de Tempo" tem uma similitude com "Efeito Borboleta', ele também divaga sobre viagens no tempo e com o enredo preso à mesma lição: Viva intensamente (minha interpretação, rs).
Pai de Arthur!