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Mostrando postagens de janeiro, 2014

Carta ao meu avô

A discreta, efêmera e bem terminada disputa entre familiares e amigos para assumir uma fatia das hastes através das quais conduziríamos o seu caixão, meu grande avô e pai, me encheu outra vez as medidas a respeito da sua importância, neste janeiro agora preenchido de vazio e também demarcador de uma nova era na minha vida. Um afilhado do senhor me encarou firmemente nos olhos e me tomou o lugar. Um primo me reconheceu a disposição para te fazer as honras e me prometeu que te levaria somente até ali, se eu quisesse ele me daria a vez e eu então te carregaria no trajeto final do cortejo. Dei nele um abraço e tentei investidas mais ao fundo, onde os mais velhos te seguravam com afinco, mas desisti quando vi que não tencionavam te largar. Envolvi-me ainda em tácitas negociações com o meu pai e com um tio, mas acabei escanteado. Antes, ainda no velório e também mais afastado, as frequências maiores dos soluços dos enlutados me trouxeram de volta à realidade diversas vezes, cessando em mim