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Mostrando postagens de julho, 2011

A vida de Zé Lindão

Seu José Predestinado da Silva, mais conhecido como Zé Lindão, é um cara sagaz, de grande personalidade, e dono de uma das melhores histórias de vida que eu já ouvi. Hoje, já pelos seus 75 anos, ele recorda o seu passado com grande entusiasmo, alargando um sorriso que quase já não sai tão perfeito, mas que demonstra grande satisfação e orgulho pela pessoa que foi. Trata-se de um senhor tranqüilo, diferente daquele rapazote agitado que fora durante toda sua vida. Também, com a vida que levou, não tinha como ser mesmo de outra forma. Conheci o Predestinado por acaso – um acaso tão difícil de acreditar quanto à história que ele me contou. Foi numa clínica de doadores de sangue, bem distante do caos urbano, bem longe da confusão da cidade. Deitado na maca, dentro da sala específica dos doadores, seu Zé descansava, parecendo esperar alguma pessoa ao lado, para contar-lhe toda sua história. Pela mais pura sorte, pelo destino – que eu não acreditava antes desse episódio -, eu acabei sendo o

Bola, por que te amo?

Fossem nos meus aniversários, nos natais ou noutras datas igualmente festivas, uma embalagem me fazia sobressaltar o olhar e antever acertadamente o seu conteúdo, dada a geometria inimitável de sua forma. Vinha ela desembalada, na verdade, e quem me presenteava já a trazia nesta condição para que, ali mesmo, onde convencionalmente se desenrolava uma comilança geral de doces e salgados, pudéssemos inaugurá-la, a pelota, de pé em pé, de joelho em joelho, de canela em canela. Devo eu ter herdado este mal, o de amar assumidamente a bola, aqui mesmo, no meu País, porque, ao que me parece, somente por estas bandas aprendemos nós, hereditariamente, ainda meninos em formação, a gostar primeiramente de uma bola ou de um clube de futebol em detrimento de aromáticos cachos e de corpinhos violões. Hoje se admite isso com maior dificuldade, é bem verdade, mesmo porque o machismo se nos é quase como que uma imposição da natureza, e passamos mesmo a afirmar que o futebol ocupa o segundo lugar em noss

Extenuação e delírios de livraria

Sofremos nós, os vendedores de livros, alguns reveses em nossa rotina de trabalho que certamente não constam das pautas dos sindicatos dos livreiros e cujas explicações a ciência, dona de todas as razões e que recebe de todos nós, os ignorantes, o mesmo tratamento dispensado a toda entidade suprema, ainda não deu conta de apurar. Um deles, que me ocorre agora mais ligeiramente à memória, é o assombro de antigos fantasmas que de vez em quando se nos aparecem por lá, sejam eles verdadeiros ou não, não é fácil êxito nessa classificação lograr.                 Devemos admitir que somos nós os provocadores destas aparições, uma vez que, conforme defendia Johny Boy, que já não trabalha mais lá, mas que de vez em quando também como fantasma por lá reaparece, somos nós mesmos os criadores de certas crendices e de certas histórias, algumas delas ficcionais, outras nem tanto, que insistimos em compartilhar nalgumas conversas que mantemos às escondidas pelos corredores.                 Um dia des