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Mostrando postagens de março, 2015

TELA AZUL

Meu recente deslumbramento com a qualidade dos livros de Fernanda Torres permitiu que eu olhasse o livro da Maitê (É duro ser cabra na Etiópia) com olhar caridoso, adquirindo-o para o longínquo voo. A leitura diferente e intrigante, com textos de vários autores desconhecidos, rememorou em mim que o meu prazer de ler sempre foi equivalente ao de escrever. Apesar da voracidade para acabar o livro, a rinite estava atacada. Além disso, os últimos dias haviam sido bem cansativos. Decidi, então, tentar cochilar. Fone no ouvido, voo de cruzeiro. O barulho das crianças no assento de trás não era mais tão perceptível. O avião estava acima da enorme nebulosidade e eu observei a luminosidade variando na asa para avaliar possíveis turbulências. Tudo planejado, era hora de tentar dormir, coisa rara para mim em voos. Entre as variadas cochiladas, a mente tentava conciliar o descanso exigido e a consciência plena da situação. Num dos lampejos, após tornar a fechar os olhos, vi tudo azul.

Amor à beira do rio

Incrível como só percebi o seu olhar de admiração após a bola ter balançado as redes, no ângulo superior direito do goleiro, fruto de um drible entre dois zagueiros e de um chute bem colocado, que o arqueiro teve o desprazer de receber de mim. Naquele beco estreito, colado à trave, defronte ao muro do Shopping Papagaio, ela me avistou pela primeira vez. No mesmo instante em que a bola estufava as redes, descendo, após atingir o seu ponto mais alto, descobria-se o rosto daquela bela mulher, dos pés à cabeça, como se a esfera a tivesse descortinado, visto que se encontrava exatamente atrás das traves, protegida pelo alambrado. Enquanto eufóricos me abraçavam os companheiros de time, comemorando a pintura de gol que eu fiz, fiquei extasiado, anestesiado com aquele olhar que me encarava fora de campo. Acenei com a mão para cumprimentá-la e fui correspondido com uma piscada do seu olho esquerdo, enobrecido por um tom castanho claro, daquele que faz paralisar qualquer pessoa que se atreva