Eu
sou burro, mas tão burro, que quem agora me lê acredita que eu sei escrever.
E,
sendo tão burro e insensato, resolvi falar da minha burrice para receber um
elogio contrário ao que condeno sobre mim.
Muita
burrice mesmo!
Escrevendo
no Word!
Sendo
corrigido pelo traço vermelho de ortografia!
Muita
estupidez!
Eu
sou burro, mas tão burro, que...
Usei
reticências – por não ter outro pensamento para colocar depois da última
palavra.
Usei
travessão para demonstrar que conheço os recursos da língua.
Conheço
nada!
Vi
em algum livro e achei bonito.
Sou
mesmo muito burro!
O
pior de tudo é que, a essa altura, o leitor já deve estar impaciente, porque
deve achar que é soberba minha; hipocrisia barata.
Mas
eu te pergunto, leitor: esse ponto e vírgula que eu usei acima está empregado
corretamente? E mais: é certo o corretor ortográfico do Word sublinhar a minha
pergunta, utilizando a cor verde, insinuando que não há concordância em “ponto
e vírgula” com “está”? Não seria “ponto e vírgula estão empregados corretamente”? Pois é, eu também não sei. Por isso continuo
afirmando. Sou muito burro mesmo!
E
sou tanto, mas tanto, que ainda vou postar isso no Facebook, vou ficar olhando
a postagem o dia todo para ver se tem algum mísero comentário, ou algum pobre
curtir. E sabe qual é o pior? Isso tudo vai encher o meu ego de felicidade!
Nossa! Quanta inteligência!
É
trágico. Eu não sei se o que estou escrevendo é poesia, poema, dissertação,
crônica, ou conto. Não sei mesmo. Se você subir a página agora, vai ver que o
texto não está divido em estrofes, nem em introdução, desenvolvimento e
conclusão. É triste, mas é real.
Meto-me
a escrever, achando que sei alguma coisa da língua portuguesa, ou alguma coisa
de algum assunto. Mas eu não sei nada! E não digo isso querendo imitar
Aristóteles, que disse que só sabe que nada sabe, na sua grandiosa humildade e
sabedoria. E também, não quero lhe parecer inteligente só por saber que foi Aristóteles
quem disse isso um dia. Quem não sabe disso? Resta saber quando ele disse e em
qual obra disse. Aí a minha burrice não alcança. Não vou ler aquelas obras
gregas chatas!
Neste
último parágrafo usei um recurso importante da língua portuguesa. Logo no
início, para não ser corrigido pelo Word, e para tentar mostrar algum
conhecimento, utilizei uma ênclise ao colocar o verbo antes do pronome no começo
da frase. Bendito Google! Salve a minha burrice!
Estou
mesmo impressionado com a minha incapacidade, minha estupidez. Dizem que um
texto para ser bom deve evitar a repetição de palavras. Esse conselho passa
longe do meu texto, pois já usei a palavra “burro” seis vezes e “burrice”, quatro
vezes. E tem mais, existe coisa mais burra, mais estúpida, mais estapafúrdia –
além de usar essa última palavra pra impressionar -, que utilizar o “pois”
depois de uma vírgula? Meu Deus do céu! Santa burrice! Cinco vezes.
Não
é humor, não é escrita irônica. É burrice mesmo. E tem sido tanta que as
palavras já se igualaram, agora, no número de repetições nesse texto. Não sei
mais substituí-las. É melhor repetir mesmo.
Eu
sou burro, mas tão burro, que só descobri há pouco tempo que o meu país foi
descoberto em 1500 e que a nossa constituição tem mais de 100 artigos, sendo
que eu só li até o 12. Não sei do código penal, direito do consumidor, direito
administrativo. Sei nada! Sou tão estúpido que não consigo me dar ao trabalho
de continuar a ler “Viva o Povo Brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro, porque o
livro é muito grande e confunde a minha mente. Sou burro demais, porque teve um
livro de Chico Buarque que eu não consegui passar nem do prólogo. Achei chato,
difícil. Sou muito, muito burro.
Se
eu já li José Saramago? Não. Kant? Não. Érico Veríssimo? Não. Jorge Amado? Não.
Clarice Lispector? Não. São muitos nãos para uma mente burra. Se me perguntarem
mais mil autores eu darei a mesma resposta. Se eu fui ao teatro esse ano? Não. Quantos
livros eu já li neste ano? Não chegam nem a 10. E só falta um mês para acabar o
ano. Queria eu que os Maias estivessem certos e que o mundo acabasse mesmo no
final do próximo mês. Acabaria o mundo. Enterraria minha burrice!
Eu
não sei por que o Brasil é desigual, mas queria resolver esse problema. Me
parece injusto ver tantas pessoas com tanto luxo e outras tantas com quase
nada. Mas deixa pra lá, não conseguirei bolar nada pra ajudar. Nunca li nada!
Não assisto nem Jornal na televisão. Nem leio o jornal impresso. Dá uma
preguiça danada! Mas do futebol eu gosto. Assisto jornal, noticiário, leio
notícia, jogo no computador, no vídeo-game. É uma alienação boa. Essa é uma
burrice legal.
Para
comprovar que sou burro, e tão burro, subi a página agora pouco e vi que
escrevi coisa pra caramba. E o melhor – ou pior -: adorei tudo que escrevi! Não
é muita ingenuidade? Muita estupidez? E, para finalizar, para bater o martelo,
vou encerrar o meu texto e colocar no final dele as minhas iniciais, como se eu
fosse um cara importante, escrevendo a coisa mais importante do mundo.
GF
Comentários
Ô seu burro, você publicou o mesmo texto quatro vezes e escondeu as publicações dos outros, rapaz.
Mas me divertiu muito com o texto. A exaltação da burrice, porém, não partiria com tamanha profusão de uma mente insana, antes muitíssimo pelo contrário.
Você é inteligente e esperto, sim, meu irmão. E isso é tão verdadeiro que você sabe reconhecer tudo aquilo que ainda não sabe.
Um abraço do seu irmão igualmente burro e morto de saudade. Volte logo.
RF (iniciais de um insignificante mor)
AF (Iniciais e uma irmã que tenta imitar os irmãos)
Grande texto!!!
MASARACHAMADOGO (Sem iniciais...rs)
Achei fantástica a maneira como você encarnou a grande maioria da população brasileira; a maneira como, através de uma linguagem mais acessível, você expõe a insatisfação com a educação em nosso país e a política vigente em nosso Brasil varonil. Ao menos, foi desta maneira que traduzi este multifacetado texto, rs. Grande abraço, meu irmão.
AF (Seu pai, que tenta, apenas tenta, ser burro...).
E eu não sei botar palavras bonitas :(
E eu não sei botar palavras bonitas :(