Pular para o conteúdo principal

Tempo, tempo, tempo...

Sua passagem inexorável nos assombra, mas o que deveria nos sobressaltar é a nossa incapacidade de utilizar bem o nosso tempo. O blog completou 10 anos em agosto e sequer tivemos um texto comemorativo. Cada um dos colaboradores tem as suas desculpas e todas elas convergem para a falta de tempo. Entretenimento, trabalho, obrigações, lazer, rotina religiosa, viagens, feriados, futebol, redes sociais, games, filhos, casamento, saúde. O leque é enorme, mas ele não acomoda a nossa total falta de prioridade em fazer o que um dia mais nos impulsionou: o puro desejo de escrever. Não importava o assunto, não interessava o alcance e a audiência, apenas valia o cristalino propósito de se expressar por meio dos vocábulos entrelaçados, às vezes retorcidos, talvez distorcidos, muitos imaturos, mas todos verdadeiros, pois foram a mais plena demonstração do que transbordava a alma em cada momento. O fato de ninguém ter a obrigação de escrever (e publicar) talvez tenha sido decisivo para o arrefecimento dos colaboradores. Mas alguém precisa ser compelido a fazer algo que gosta? Essa é a reflexão mordaz que nos resta! Após um decênio, muita coisa mudou, mas por que perdemos tanto o nosso ímpeto de escritor? A famigerada falta de tempo não pode ser a única razão. Talvez o amadurecimento nos envergonhou, limitou a exposição, promoveu um preciosismo descabido, que nos manteve redigindo, mas sem coragem de postar. Talvez a falta de foco definido, que era tão salutar no início de tudo, seja a grande vilã do esvaziamento. Talvez seja uma aglutinação de todas as possibilidades. Talvez, talvez, talvez. Nesse momento, arde uma inquietação: ainda podemos prosseguir? Uma década denota uma história, um legado indelével. As lamúrias não resolvem, recomeçar é sempre a palavra de ordem, enquanto o implacável tempo não findar a nossa existência aqui. Às vezes, esquecemos, mas é sempre bom relembrar: ainda é tempo de morangos.

TF

Comentários

Gabriel França disse…
"Talvez o amadurecimento nos envergonhou". Acredito ser essa a causa mais razoável para o nosso afastamento do blog. Mas sempre, mesmo sem publicar durante um bom tempo, reli os textos antigos e lamentava o fato de termos abandonado o saudoso Intitulável. Ainda há tempo e vontade para continuarmos o trabalho e, quem sabe, chegarmos aos vinte anos de blog.
Por agora, só resta dizer: parabéns pelos 10 anos!
Anônimo disse…
Já voltamos! Agora daremos sequência. Sobrevivemos ao tempo. Parabéns!

RF
Unknown disse…
Meninos, se vcs soubessem o quanto de orgulho que tenho ao ler os textos de vcs não parariam de escrever. Hoje, já não leio mais romances, infelizmente, por muitas das desculpas aí citadas, por não saber distribuir o meu tempo com o que é acrescentados. Mas ler os textos de vcs já me remetem à uma época boa na qual eu os pia e me deliciava com eles. Falem de amor, falem de futebol, falem de coisas novas e coisas velhas, mas escrevam! É sempre acrescentador. Ainda é tempo de morangos!
Quéren França

Postagens mais visitadas deste blog

EDMÉIA WILLIAMS - UM EXEMPLO DE FORÇA E CORAGEM

Vivemos em um mundo altamente egoísta. São raras as ações de humanitarismo e solidariedade. Por isso mesmo, elas merecem grande destaque. São poucos os relatos de pessoas que abandonam o seu cotidiano e a sua comodidade para contribuírem para o bem-estar do próximo. A “personalidade da semana” do INTITULÁVEL é uma dessas exceções da sociedade hodierna. Edméia Willians nasceu em Santarém, interior do Pará. Entretanto, sua família migrou para Salvador, na Bahia, onde ela passou a maior parte de sua vida. Aqui ela cresceu, realizou seus estudos, se casou, constitui família e obteve os bacharelados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Música. A sua vida era normal, como de muitos. Passou a morar no Rio de Janeiro, devido ao emprego de seu marido. Chegou até a morar no Iraque, ainda na época de Sadan, também por motivos profissionais relativos ao seu esposo. Tudo transcorria normalmente até que duas tragédias mudaram a história de sua vida. Em um período muito curto, Edméia perdeu o seu es

POR DENTRO DA CAIXA DE PANDORA

Mais uma operação da Polícia Federal. Seu nome: CAIXA DE PANDORA. Os resultados: corrupção, caixa dois, mensalão. Envolvidos: José Roberto Arruda (DEM) - governador do Distrito Federal , Paulo Octávio (DEM) - vice-governador, Durval Barbosa (o delator) - secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal e mais uma corja enorme de deputados distritais corruptos. E o que podemos aprender com tudo isso? Vamos começar pelo excêntrico nome da operação policial. Pandora é uma personagem da mitologia grega, considerada a primeira mulher, filha primogênita de Zeus. A famosa Caixa de Pandora era usada por ela para guardar lembranças e a sua mente. A tragédia aconteceu quando ela guardou lá um colar que seu pai havia dado a ela. A caixa não podia guardar bens materiais e por isso o colar foi destruído. Pandora entra em depressão e tenta dar fim na caixa, mas ela era indestrutível. Por fim, ela se mata, por não conseguir continuar vivendo carregando aquela maldição. Comumente, a expres

TELA AZUL

Meu recente deslumbramento com a qualidade dos livros de Fernanda Torres permitiu que eu olhasse o livro da Maitê (É duro ser cabra na Etiópia) com olhar caridoso, adquirindo-o para o longínquo voo. A leitura diferente e intrigante, com textos de vários autores desconhecidos, rememorou em mim que o meu prazer de ler sempre foi equivalente ao de escrever. Apesar da voracidade para acabar o livro, a rinite estava atacada. Além disso, os últimos dias haviam sido bem cansativos. Decidi, então, tentar cochilar. Fone no ouvido, voo de cruzeiro. O barulho das crianças no assento de trás não era mais tão perceptível. O avião estava acima da enorme nebulosidade e eu observei a luminosidade variando na asa para avaliar possíveis turbulências. Tudo planejado, era hora de tentar dormir, coisa rara para mim em voos. Entre as variadas cochiladas, a mente tentava conciliar o descanso exigido e a consciência plena da situação. Num dos lampejos, após tornar a fechar os olhos, vi tudo azul.