O poeta flana pela cidade. Flanava, minha senhora, flanava; hoje não mais: ele vive enclausulado, ingere comida industrializada, arrota horrendamente, confere continuamente o status do seu Facebook e se diverte com a tevê; quando, enfim, se descobre solitário, desenvolve amor por uma palavra insólita, protege-a no pensamento, busca pelo seu inteiro significado no dicionário online, faz dela o centro do mundo e só então se senta para escrever. Já não gosta de rimas, porém, e muito pouco entende das métricas tradicionais, quiçá do que teria sido o barroco ou qualquer outro movimento literário impregnado de algum sentido. É bem verdade que ainda carregue na caixola um compêndio, mas em seu imaginário sobrevivem somente anotações esparsas, coisas ditas em Seriados americanos imiscuídas a trechos de leituras longínquas, tenham sido esses trechos saídos de James Joyce, tenham sido trechos com o tempo obscurecidos pela hermética sintaxe de um escritor angolano ou até mesmo sejam trechos retirados de uma letra bonitinha de uma frase empolada de um cidadão cosmopolita qualquer que tenha sido meteoricamente promovido a best-seller. Inconscientemente, segue o poeta do nosso tempo reinventando uma nobre arte. E assim, com os olhos fixados no gelo cujo esmorecimento ajuda a descolorir o que sobra no fundo do copo de uma dose de whisky, segue também a afundar a sua imaginação em questões mundiais cada vez mais proeminentes, reflexões que intercala com o seu idílico estudo sobre a formação e o desenvolvimento dos vértices feminis que as calças jeans mais modernas têm ajudado a rabiscar. Afoga-se ainda, pois, por demais nesse interesse o poeta, e por isso, portanto, ainda está ele entre nós, mesmo que já não morra de fome. Prova-nos a cada dia o poeta ser mesmo imortal.
Vivemos em um mundo altamente egoísta. São raras as ações de humanitarismo e solidariedade. Por isso mesmo, elas merecem grande destaque. São poucos os relatos de pessoas que abandonam o seu cotidiano e a sua comodidade para contribuírem para o bem-estar do próximo. A “personalidade da semana” do INTITULÁVEL é uma dessas exceções da sociedade hodierna. Edméia Willians nasceu em Santarém, interior do Pará. Entretanto, sua família migrou para Salvador, na Bahia, onde ela passou a maior parte de sua vida. Aqui ela cresceu, realizou seus estudos, se casou, constitui família e obteve os bacharelados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Música. A sua vida era normal, como de muitos. Passou a morar no Rio de Janeiro, devido ao emprego de seu marido. Chegou até a morar no Iraque, ainda na época de Sadan, também por motivos profissionais relativos ao seu esposo. Tudo transcorria normalmente até que duas tragédias mudaram a história de sua vida. Em um período muito curto, Edméia perdeu o seu es...
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