Crônica de Armando Oliveira
"Para mim, você é jornal de ontem: já li, já reli, não serve mais".
Estes primeiros versos de um velho "fox canção" gravado, se não me falha a gasta memória, por Orlando Silva, simbolizam bem a efemeridade das folhas diárias, que depois de lidas têm o lixo como sepultura, quando não sujeitas a outros mistérios ainda menos gratificantes (epa!) que o pudor impede-me de mencionar.
Entretanto, quanto suor é derramado na elaboração de um número, quanta gente se mexe, gasta o precioso fosfato, se dá, por inteira, nas redações e oficinas da vida!
Isso faz parte das regras do jogo, eu sei, mas não deixa de ser deveras desalentador pra quem alimenta perdidas ilusões a respeito do jornalismo...
Com relação à literatura, existe quem proceda da mesma forma, entendendo que obra lida é obra superada e só lhe resta conviver com a poeira e as traças nas estantes. Sobretudo os livros de fraca notoriedade, sacados por autores obscuros e desidratados de qualquer valia didática.
Na parte que me toca (como leitor, obviamente!), faço o possível para prestigiar os escritores do terceiro escalão, pois, escrevinhador de "vinte e oito eleitores", sinto-me na obrigação de dar valor às minorias. E quase nunca deixo de voltar ao local do crime, lendo, no mínimo, três vezes, todos os livros que me agradam.
A cada repeteco, descubro novas jogadas d'antes não curtidas, pois a sofreguidão da primeira leitura se assemelha ao êxtase da posse inicial: a vertigem de palmilhar território até então desconhecido.
Os velhos livros são como velhos amigos (esta imagem ainda vai ficar famosa!) e, como em matéria de amizades sou mais radicalmente conservador que o Dr. Corção em transas religiosas, às vezes prefiro reencetar o silencioso papo com antigos e amarelecidos companheiros, que iniciar o difícil relacionamento com lustrosas e novidadeiras brochuras.
Ademais, sou meio alérgico ao odor da tinta fresca. O médico - especialista, naturalmente - que consultei a respeito, garantiu que dita alergia tem origem psicológica.
Segundo o sábio esculápio, estabelece-se uma associação de ideias entre cheiro e preço, despertando secretos impulsos de poupança...
Já o mofado aroma das antigas encadernações faz-me bem à saúde e ao bolso. O despetalar das páginas, a velha capa desbotada ou coisa assim (dá-lhe Roberto!) e, principalmente, a certeza de que irei transar com personagens da minha maior intimidade, manjadíssimos nos seus heroísmos e vilanias. Nada de truques, armadilhas semânticas ou arapucas poéticas.
A leitura repetida de um bom livro acaba nos transportando às paragens sacadas pelo autor e, não raro, permitindo-nos certas interferências no encaminhamento da estória.
Ainda outro dia fiz valer os meus direitos de estabilidade, adquiridos em dez anos de convívio com determinada obra. Descobri então que o epílogo sempre me desagradara um pouco, uma vez que, após um penúltimo capítulo em que as coisas pareciam caminhar para o mais hollywoodiano dos happy end, no finalzinho o autor matava a heroína e premiava o vilão.
Com respaldo na Moral e nos Bons Costumes, inclusive, arranquei a última página, atribuindo-lhe o desfecho da minha preferência...
Estes primeiros versos de um velho "fox canção" gravado, se não me falha a gasta memória, por Orlando Silva, simbolizam bem a efemeridade das folhas diárias, que depois de lidas têm o lixo como sepultura, quando não sujeitas a outros mistérios ainda menos gratificantes (epa!) que o pudor impede-me de mencionar.
Entretanto, quanto suor é derramado na elaboração de um número, quanta gente se mexe, gasta o precioso fosfato, se dá, por inteira, nas redações e oficinas da vida!
Isso faz parte das regras do jogo, eu sei, mas não deixa de ser deveras desalentador pra quem alimenta perdidas ilusões a respeito do jornalismo...
Com relação à literatura, existe quem proceda da mesma forma, entendendo que obra lida é obra superada e só lhe resta conviver com a poeira e as traças nas estantes. Sobretudo os livros de fraca notoriedade, sacados por autores obscuros e desidratados de qualquer valia didática.
Na parte que me toca (como leitor, obviamente!), faço o possível para prestigiar os escritores do terceiro escalão, pois, escrevinhador de "vinte e oito eleitores", sinto-me na obrigação de dar valor às minorias. E quase nunca deixo de voltar ao local do crime, lendo, no mínimo, três vezes, todos os livros que me agradam.
A cada repeteco, descubro novas jogadas d'antes não curtidas, pois a sofreguidão da primeira leitura se assemelha ao êxtase da posse inicial: a vertigem de palmilhar território até então desconhecido.
Os velhos livros são como velhos amigos (esta imagem ainda vai ficar famosa!) e, como em matéria de amizades sou mais radicalmente conservador que o Dr. Corção em transas religiosas, às vezes prefiro reencetar o silencioso papo com antigos e amarelecidos companheiros, que iniciar o difícil relacionamento com lustrosas e novidadeiras brochuras.
Ademais, sou meio alérgico ao odor da tinta fresca. O médico - especialista, naturalmente - que consultei a respeito, garantiu que dita alergia tem origem psicológica.
Segundo o sábio esculápio, estabelece-se uma associação de ideias entre cheiro e preço, despertando secretos impulsos de poupança...
Já o mofado aroma das antigas encadernações faz-me bem à saúde e ao bolso. O despetalar das páginas, a velha capa desbotada ou coisa assim (dá-lhe Roberto!) e, principalmente, a certeza de que irei transar com personagens da minha maior intimidade, manjadíssimos nos seus heroísmos e vilanias. Nada de truques, armadilhas semânticas ou arapucas poéticas.
A leitura repetida de um bom livro acaba nos transportando às paragens sacadas pelo autor e, não raro, permitindo-nos certas interferências no encaminhamento da estória.
Ainda outro dia fiz valer os meus direitos de estabilidade, adquiridos em dez anos de convívio com determinada obra. Descobri então que o epílogo sempre me desagradara um pouco, uma vez que, após um penúltimo capítulo em que as coisas pareciam caminhar para o mais hollywoodiano dos happy end, no finalzinho o autor matava a heroína e premiava o vilão.
Com respaldo na Moral e nos Bons Costumes, inclusive, arranquei a última página, atribuindo-lhe o desfecho da minha preferência...
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