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Cá te espero

O sol apontava mais um dia de intenso calor na querida capital baiana. As nuvens certamente haviam ido buscar algum lugar sombreado para se acomodarem, pois no céu já não davam nenhum sinal.

O suor começava a aparecer nas concavidades do meu rosto e o caminho parecia estar mais longe que o de costume. Passei, então, em uma banca de revistas e comprei um jornal, mais para que ele me servisse como guarda-sol do que como habitual instrumento de leitura. A parte do jornal que estava a me encarar, meio com dó, meio com desdém, anunciava:

HoróscopoPeixes: hoje, você será surpreendido pela simplicidade, por coisas que normalmente não têm relevância para a sua agitada vida e que te darão o poder de transformá-la radicalmente. Sua cor da sorte é o verde”.

Como agnóstico declarado, nunca fui de acreditar que os astros pudessem influenciar na minha vida cotidiana e não seria naquela ocasião que iria me entregar assim, mas, sem nenhuma explicação tangível, não consegui tirar aquele anúncio do meu pensamento no decorrer do caminho.

Finalmente cheguei ao colégio. Lá, os professores já arrumavam os alunos no ônibus, para que pudéssemos iniciar a nossa excursão à Reserva de Sapiranga. Fui um dos últimos a subir para o ônibus e, enquanto procurava onde me acomodar, fui olhando as pessoas que estavam ali. Percebi, então, que não havia nem sequer um conhecido.

Sendo assim, decidi por dormir o percurso inteiro, até chegarmos à dita Reserva. Arrumamo-nos e iniciamos, juntamente com um instrutor, a caminhada com o intuito de nos tornarmos conhecedores das diversas plantas que a Reserva dispunha, ou seja, um martírio ecológico. Porém, após galgar os primeiros quilômetros, recebi um pisão no pé. 

Um ato simples, embora complexo; inexplicável, mas inesquecível; dolorido, mas apaixonante. O corpo se encarregou de fazer o que faz rotineiramente: agiu pelo impulso, sem saber que desta vez se impressionaria com a descoberta e, ao olhar para o lado, viu a pessoa responsável por aquele tropeço. 

Deparei-me com O SORRISO. Sereno, ele ofuscou o brilho do sol e, vislumbrado pelos meus olhos, ao mesmo tempo em que sentido por todo o meu corpo, me pareceu capaz de fazer brotar a mais linda e perfumada flor num deserto.

Pediu-me desculpa, exalando toda candura comum ao universo feminino. Respondi que não havia necessidade de desculpas, e ela, para me provar que a consequência da primeira vez não tinha sido produto duma ilusão, sorriu novamente.

Transformamos o iminente martírio ecológico num jogo de conhecimentos, com perguntas e respostas, onde o vencedor foi meu coração, pois ganhou como troféu um sentimento incomensurável que nascera em mim naquele dia.

Desde então, não consigo pensar em outra coisa a não ser em nós dois. Embora a vida goste de apregoar peças na nossa caminhada, como idas e vindas, proximidade e, infelizmente, distância, tenho certeza de que passaremos diversos agostos juntos, e assim seu pé repousará perpetuamente sobre o meu.

Comentários

Eliana Vilas Bôas disse…
Que lindo! Diante de tudo que li, só posso concluir: Estás apaixonado.Continue escrevendo, meu querido, você vai longe. Bjs.
JOCIMAR FRANÇA disse…
Frutificou... conversa vai, conversa vem e o mosaico vai sendo formado... parece que os frutos não demorarão a aparecer. É claro que o título foi ligado ao nome no momento que li: SAPIRANGA. Parabéns pela coragem do texto.
Gabriel França disse…
"Cá te espero" nos revelou o lado inspirador de uma paixão. Sentimento que arrebata, inspira, transforma. Belo texto, belas palavras!
Unknown disse…
Muito lindo seu texto Lilo! Esperando a simplicidade te surpreender e ela te surpreendeu com um pisão no pé... um pisão apaixonador.
Parabéns!
maeronmabbitt disse…
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