Pular para o conteúdo principal

Flor de Jasmim

Texto enviado por Danilo França


Mesmo um analfabeto – ou analflorbeto, como desejar – no quesito flora, pode perceber o quão grande é a diversidade de plantas neste Brasil varonil e as suas respectivas características, responsável pela identificação da planta, mediante tantas outras.
Dentre inúmeras plantas, uma me chamou à atenção. Seu nome é Jasmim, mas para lhes ser sincero, o que de fato me chamou à atenção nesta planta, fora o que nasce no ápice de cada galho, foi a sua flor, que de tão bela não pode ser chamada simplesmente de flor, mas de Flor de Jasmim. É aí onde tudo começa. Antes, uma breve apresentação: a Flor de Jasmim é conhecida principal, mas não unicamente, pelo seu aroma, um aroma forte, imponente, desbravador, instigando o olfato de todos que estiverem por perto. Amada por muitos curiosos e admiradores daquela beleza afrodisíaca, e odiada por outros, uns arrogantes, que, tão compenetrados no cotidiano corriqueiro, não se deixam apreciar tão maravilhosa obra da natureza, e acabam pondo a culpa no cheiro forte que a mesma dispõe.
Mesmo sendo uma espécie bela, afável, e bastante erudita – sim, erudita! – não se torna um ser inalcançável, muito pelo contrário, permite-se ser cultivada dentro de vasos, no interior de residências, facilitando a aproximação do ser humano à sua cálida maneira de viver.
Pois bem, estava eu sentado em um ônibus em direção ao trabalho, pronto para viver mais um dia rotineiro. Recostado na janela com um livro de Freud na mão – até então não sabia por que eu tinha pegado aquele livro na biblioteca do colégio, não entenderia o seu conteúdo mesmo, mas o destino é algo incrível – quando vejo, vejo, não! - vislumbrar é mais apropriado - Quando vislumbro a Flor de Jasmim vindo em minha direção, e com toda sutileza que lhe é cabível, sentando-se ao meu lado. Não é coincidência que após ela se sentar ao meu lado, um perfume tomou os ares. E como se fôssemos conhecidos antigos, ela puxou conversa a respeito do livro que eu segurava, - viva Freud, fez valer a pena, todo meu sacrifício de compreender o epílogo – e com demasiada propriedade expandiu a conversa a muitos outros filósofos, suas ideologias e etc. Eu, bestificado, estupefato, regozijado, concordando, com um balançar de cabeça meio que automático, com tudo que ela dizia, torcia interiormente para que o meu destino nunca chegasse, e ficássemos ali, o dia todo. Ela elucidando todos os meus questionamentos a respeito da metafísica, religião, filosofia, etc., e eu, sendo bastante ingrato, retribuía influindo aquele aroma para o mais profundo do meu ser.
Entretanto, nem tudo ocorre como desejado, e meu destino chegou, mas minha alegria ainda se estendeu um pouco, pois ela também descera no meu ponto. Ao saltar do ônibus eu não conseguia parar de repetir:
- Não podemos deixar de nos falar. É difícil encontrar uma flor assim, tão bela.
Com um sorriso no rosto, ela interpelara:
- Mas pretendo brevemente ir para o Rio Grande do Sul.
- Está certo, Yasmim. Mas me prometa que mandarás uma muda sua, para que eu possa cultivar em casa. Não posso ficar longe do teu aroma.
E continuei:
- Muitos podem não compreender seu modo de viver, mas não esmoreça, minha flor. Eles sairão perdendo.
Sucedido de um louvável sorriso, a resposta:
- Quem sabe o destino nos coloque frente a frente, novamente.
- É, torcerei por isso. E como uma maneira de agradecimento pela sua prazerosa e doce presença na minha insossa vida, te dedicarei um texto. Sem dúvida, não estará no nível que a sua formosura merece, mas vou me esforçar.
Assim ela subiu, sem deixar cair seu charme, em outro ônibus, pois havia pegado aquele, erradamente.
 Êta destino.
           

Comentários

JOCIMAR FRANÇA disse…
Entre idas e vindas, versos e prosas, destinos e desatinos, você começa a mostrar para todos o que realmente está no seu interior: a sensibilidade, não rara a um França, de perceber e valorizar a presença simples de uma donzela e permitir que ela seja o centro do seu universo, para que o sol brilhe com mais intensidade para todos.
Parabéns Filhão! SENSIBILIDADE É COISA RARA!
Gabriel França disse…
Chegando devagar, escrevendo aos poucos, vem aí mais um França a conquistar o seu espaço no blog. Foi um belo texto, meu parceiro. Se continuar a escrever assim não demorará para que o seu jardim se encha de flores iguais a essa que você conheceu. Se é que não já está cheio, né?
Grande abraço.

Postagens mais visitadas deste blog

EDMÉIA WILLIAMS - UM EXEMPLO DE FORÇA E CORAGEM

Vivemos em um mundo altamente egoísta. São raras as ações de humanitarismo e solidariedade. Por isso mesmo, elas merecem grande destaque. São poucos os relatos de pessoas que abandonam o seu cotidiano e a sua comodidade para contribuírem para o bem-estar do próximo. A “personalidade da semana” do INTITULÁVEL é uma dessas exceções da sociedade hodierna. Edméia Willians nasceu em Santarém, interior do Pará. Entretanto, sua família migrou para Salvador, na Bahia, onde ela passou a maior parte de sua vida. Aqui ela cresceu, realizou seus estudos, se casou, constitui família e obteve os bacharelados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Música. A sua vida era normal, como de muitos. Passou a morar no Rio de Janeiro, devido ao emprego de seu marido. Chegou até a morar no Iraque, ainda na época de Sadan, também por motivos profissionais relativos ao seu esposo. Tudo transcorria normalmente até que duas tragédias mudaram a história de sua vida. Em um período muito curto, Edméia perdeu o seu es

POR DENTRO DA CAIXA DE PANDORA

Mais uma operação da Polícia Federal. Seu nome: CAIXA DE PANDORA. Os resultados: corrupção, caixa dois, mensalão. Envolvidos: José Roberto Arruda (DEM) - governador do Distrito Federal , Paulo Octávio (DEM) - vice-governador, Durval Barbosa (o delator) - secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal e mais uma corja enorme de deputados distritais corruptos. E o que podemos aprender com tudo isso? Vamos começar pelo excêntrico nome da operação policial. Pandora é uma personagem da mitologia grega, considerada a primeira mulher, filha primogênita de Zeus. A famosa Caixa de Pandora era usada por ela para guardar lembranças e a sua mente. A tragédia aconteceu quando ela guardou lá um colar que seu pai havia dado a ela. A caixa não podia guardar bens materiais e por isso o colar foi destruído. Pandora entra em depressão e tenta dar fim na caixa, mas ela era indestrutível. Por fim, ela se mata, por não conseguir continuar vivendo carregando aquela maldição. Comumente, a expres

TELA AZUL

Meu recente deslumbramento com a qualidade dos livros de Fernanda Torres permitiu que eu olhasse o livro da Maitê (É duro ser cabra na Etiópia) com olhar caridoso, adquirindo-o para o longínquo voo. A leitura diferente e intrigante, com textos de vários autores desconhecidos, rememorou em mim que o meu prazer de ler sempre foi equivalente ao de escrever. Apesar da voracidade para acabar o livro, a rinite estava atacada. Além disso, os últimos dias haviam sido bem cansativos. Decidi, então, tentar cochilar. Fone no ouvido, voo de cruzeiro. O barulho das crianças no assento de trás não era mais tão perceptível. O avião estava acima da enorme nebulosidade e eu observei a luminosidade variando na asa para avaliar possíveis turbulências. Tudo planejado, era hora de tentar dormir, coisa rara para mim em voos. Entre as variadas cochiladas, a mente tentava conciliar o descanso exigido e a consciência plena da situação. Num dos lampejos, após tornar a fechar os olhos, vi tudo azul.