Crônica de Armando Oliveira A cobrança é intensa, mas sua possibilidade de quitação fica cada vez mais tão remota quanto o da nossa dívida externa. Pedem-me um livro, se possível pinçado de quinze anos de escrivinhações diárias nesta imorata folha. Matéria, não falta, reconheço, a maioria mera sucata do cotidiano, assuntos que se perderam na voragem do tempo, coisas mais minhas que do tolerante leitorado. Por sinal, acho que escrevo mais pra mim do que pros outros, daí esta relutância em encadernar vivências, anseios e frustrações. Dia desses dei uma relida em vários recortes, generosamente colecionados por mãos amigas e muito queridas, encontrando dificuldades em admitir sua autoria. Tive fases de romantismo piegas, ira mal contida, descrença assumida, ironia cruel, como juntar tudo isso numa obra que se pretende coerente? A quem interessaria bisbilhotar meus bons e maus humores, essa vocação de mutante potencial, essa vontade de ficar, mas tendo que ir embora (e vice-v...
Prazer em ler...