Pular para o conteúdo principal

Sobre nossa existência

“Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo.”
“O homem não é nada mais do que aquilo que faz a si próprio.”
JEAN-PAUL SARTRE

Após acordar, temos a exata sensação que ainda estamos vivos, mesmo que raramente reflitamos sobre este fato. E nem sempre também nos perguntamos por que razão mesmo estamos vivos. Quem sou eu? De onde vim? O que estou fazendo aqui? O que representa a vida para mim? Para onde vou? Perguntas difíceis. Para muitos, apenas perguntas retóricas. Muitos fogem dessas indagações por toda a vida e, diriam alguns, vivem utopicamente. Levariam eles uma vida sem sentido? Buscar sentido para as coisas é algo inato do ser humano. Mas não ter resposta é algo que odiamos. E talvez essa seja a causa do distanciamento de grande parte da população a estes questionamentos. É possível ponderar também que na nossa sociedade contemporânea, cuja alcunha de sociedade fast-food cairia como uma luva, os indivíduos querem respostas prontas. Se a ciência não as der formalmente através da formação intelectual, eles provavelmente as obterão nas religiões. Mas quando usamos o verbo ‘obter’, não queremos transparecer a ideia de que os homens buscam na religião as respostas que lhes faltam. Quem busca o sentido para as coisas, quem busca respostas, mais cedo ou mais tarde ancorará numa crença ou numa filosofia. O que falta hoje é própria busca. Parece que ela não é mais necessária e que hoje podemos simplesmente optar por um sistema religioso-filosófico que nos forneçam as tais respostas. Jean-Paul Charles Aymard Sartre foi um filósofo francês que fez incessantemente estes questionamentos. Hoje é conhecido como o maior representante do existencialismo, doutrina ético-filosófica que afirmava a prioridade da existência sobre a essência. Muitos vinculam Sartre e toda sua náusea a um pessimismo descabido. Os gnósticos não aceitaram os argumentos dele, já que o mesmo tinha como pressuposto a não existência de um deus ou divindade. Não há qualquer intenção nestas malfadadas linhas de se fazer um julgamento da filosofia proposta por ele. Há apenas que se ressaltar que ele buscou o sentido, chegou às suas implicações. E você? Já procurou ? Ou decidiu não tentar? Entender o sentido da vida é de uma plenitude tal que talvez nenhum homem a tenha alcançado. Muitos com certeza chegaram perto. Mas a beleza da vida está justamente em viver na contínua busca. Do mesmo modo, a felicidade, outro conceito abstrato e complexo, é uma eterna procura ao longo da existência.


Esse arremedo de discurso proposto no parágrafo inicial tem um objetivo faustoso: comemorar o aniversário do Intitulável – este canal que nos leva até você. Hoje completamos 3 anos de existência. E em festas somos tentados a simplesmente comemorar. Talvez por isso o Eclesiastes tenha afirmado que é melhor ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete. No luto, ficamos inconformados com as perguntas existenciais e isso nos impulsiona a uma busca, através de uma reflexão. Queremos hoje celebrar a data com uma festa, mas um banquete do saber, que envolva a reflexão tão comum nos dias sombrios. O Intitulável não existe só porque existe. Ele é um produto de seus criadores, um anseio e, sem dúvida, um projeto que tem inúmeros objetivos. Como no curso da vida de qualquer pessoa, esse blog também atravessou seus altos e baixos, mas pode hoje celebrar a sua existência. E mais: a sua audiência. São muito os que nos seguem, que nos acompanham nessa jornada, que já contribuíram com textos, com discussões, com elogios, com críticas. Alguns nos seguem à distância, mas esses também são importantes. Indubitavelmente, ainda haverá muitos que se somarão a este trabalho. Continuamos objetivando levar conhecimento, talvez muito mais que informação e algumas vezes queremos mais instigar o leitor a buscar o conhecimento e não a obtê-lo pronto aqui. Continuaremos a postar contos, crônicas, divagações, ensaios, análises. Obras de colaboradores que estão em franco processo de aprimoramento, portanto, escritores em construção, que necessitam do apoio incondicionado. Não almejamos lucro, o que já uma coisa boa, dado o mundo capitalista em que vivemos. Sermos reconhecidos é algo que nos apraz, mas não é a meta em si. Queremos crescer, solidificar, amadurecer e propiciar tudo isso também a você que perde( ou ganha?) alguns minutos da sua semana para ler e comentar por aqui. A festa é nossa! Intitulável, parabéns por existir!

Comentários

Gabriel França disse…
Parabéns pro nosso querido blog! Passamos por alguns momentos difíceis, mas a nossa vontade em colaborar nunca padeceu. São três anos. Escrevemos muito e aprendemos muito com este endereço eletrônico. Parabéns a Tiago França, Rafael França - idealistas do blog - e a todos os colaboradores que, de certa forma, fazem o sucesso do INTITULÁVEL!
Anônimo disse…
Parabéns pela data. Manter um blog por tanto tempo não é fácil, e o Intitulável está de parabéns por tantas reflexões trazidas aos leitores.

E que venham muitas outras! :)

Até.
Rafael França disse…
Essa página virou um lar. A sensação de vê-la carregar no navegador, sempre à cata de um insólito e inédito comentário, me proporciona um rareado frenesi. É gostoso demais escrever e ler aqui. Construímos nela um ambiente familiar. Alegradaram-me os comentários, as críticas e os elogios - expressos publicamente ou não. Do que sinto quando ciente das visitas que nos ocorrem inesperadamente, sejam elas de um primo distante ou de um internauta procurando informações, então, não sei nem falar. Não disponho igualmente de palavras para falar das meninas cujas assinaturas sem rosto me fizeram imaginar pequenos gestos e benevolentes feições. Das pessoas dos nossos passados que certamente ainda nos lê - para estas, o meu agradecimento salta do fundo do peito. Dos brasileiros que já nos enviaram emails diretamente do exterior. Colegas de classe ou do trabalho que nos cumprimentam no transcurso de uma manhã ou num findar de tarde, confessando leituras de postagens recentes. Dos que odeiam a nossa página e já confessaram esta ojeriza honestamente. Dos que corrigem os meus textos. Dos que nos dão sugestões. Dos que lêem os textos até a metade e me mandam escrever menos, porque, se eu escrever menos, poderá até ser que leiam o que escrevo, um dia, quem sabe. Das flores e dos convites pra sair que já recebi - mentira. São três anos aí de estradinha. Devagarinho, quase parando, mas sem parar, chegaremos lá. Quando eventualmente não sinto preguiça, escrevo. Quando nem preguiça sinto, os nossos colaboradores escrevem e salvam a página. E assim ela segue. E assim seguirá.

RF

Postagens mais visitadas deste blog

EDMÉIA WILLIAMS - UM EXEMPLO DE FORÇA E CORAGEM

Vivemos em um mundo altamente egoísta. São raras as ações de humanitarismo e solidariedade. Por isso mesmo, elas merecem grande destaque. São poucos os relatos de pessoas que abandonam o seu cotidiano e a sua comodidade para contribuírem para o bem-estar do próximo. A “personalidade da semana” do INTITULÁVEL é uma dessas exceções da sociedade hodierna. Edméia Willians nasceu em Santarém, interior do Pará. Entretanto, sua família migrou para Salvador, na Bahia, onde ela passou a maior parte de sua vida. Aqui ela cresceu, realizou seus estudos, se casou, constitui família e obteve os bacharelados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Música. A sua vida era normal, como de muitos. Passou a morar no Rio de Janeiro, devido ao emprego de seu marido. Chegou até a morar no Iraque, ainda na época de Sadan, também por motivos profissionais relativos ao seu esposo. Tudo transcorria normalmente até que duas tragédias mudaram a história de sua vida. Em um período muito curto, Edméia perdeu o seu es

POR DENTRO DA CAIXA DE PANDORA

Mais uma operação da Polícia Federal. Seu nome: CAIXA DE PANDORA. Os resultados: corrupção, caixa dois, mensalão. Envolvidos: José Roberto Arruda (DEM) - governador do Distrito Federal , Paulo Octávio (DEM) - vice-governador, Durval Barbosa (o delator) - secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal e mais uma corja enorme de deputados distritais corruptos. E o que podemos aprender com tudo isso? Vamos começar pelo excêntrico nome da operação policial. Pandora é uma personagem da mitologia grega, considerada a primeira mulher, filha primogênita de Zeus. A famosa Caixa de Pandora era usada por ela para guardar lembranças e a sua mente. A tragédia aconteceu quando ela guardou lá um colar que seu pai havia dado a ela. A caixa não podia guardar bens materiais e por isso o colar foi destruído. Pandora entra em depressão e tenta dar fim na caixa, mas ela era indestrutível. Por fim, ela se mata, por não conseguir continuar vivendo carregando aquela maldição. Comumente, a expres

TELA AZUL

Meu recente deslumbramento com a qualidade dos livros de Fernanda Torres permitiu que eu olhasse o livro da Maitê (É duro ser cabra na Etiópia) com olhar caridoso, adquirindo-o para o longínquo voo. A leitura diferente e intrigante, com textos de vários autores desconhecidos, rememorou em mim que o meu prazer de ler sempre foi equivalente ao de escrever. Apesar da voracidade para acabar o livro, a rinite estava atacada. Além disso, os últimos dias haviam sido bem cansativos. Decidi, então, tentar cochilar. Fone no ouvido, voo de cruzeiro. O barulho das crianças no assento de trás não era mais tão perceptível. O avião estava acima da enorme nebulosidade e eu observei a luminosidade variando na asa para avaliar possíveis turbulências. Tudo planejado, era hora de tentar dormir, coisa rara para mim em voos. Entre as variadas cochiladas, a mente tentava conciliar o descanso exigido e a consciência plena da situação. Num dos lampejos, após tornar a fechar os olhos, vi tudo azul.