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Implosão


           Dizem por aí que, durante as madrugadas, que é quando, conforme se sabe, o filhinho chora e a mamãe não vê, a internet anda cheia de vidas ocultas e de acontecimentos estranhos. E que é muito maior o contingente dentro dela contabilizado do que aquele que dizem ser os números de IP’s conectados. O censo populacional virtual anda atrasado há muito tempo.
  Estar on-line, a partir da meia-noite, significa estar sujeito a testemunhar todo tipo de manifestação silenciosa, porém nociva ao corpo e ao cérebro, muito mais a este do que àquele, deve-se reconhecer, apesar de haver consideráveis controvérsias. Andam dizendo mesmo é que existe um sem-número de mistérios ainda não esclarecidos, como sobre se é possível que seres humanos que tenham feito a passagem no mundo real ainda sobrevivam na grande rede, perpetuados certamente em bytes e em softwares moderníssimos e de grande sofisticação, programados não se sabe em que lugar do tempo e nem por quem.
                É isso o que, pelo menos, tem se ouvido falar nessas páginas de fóruns de discussões e tudo o mais. O povo da internet se ajuda muito. A porta de entrada, garantem os mais estudiosos do assunto, é um link escondido dentro de um vídeo pornô asiático ou latino-americano qualquer. Contam que, ao se clicar sobre os tais vídeos, abre-se um portal cheio de enigmas e de perguntas específicas, como uma espécie de código a que só tem acesso um número limitadíssimo de pessoas, talvez os membros vitalícios de uma grande seita ou de uma grande confraria, não se sabe ainda ao certo do que se trata.
                Há relatos por todo o canto de que eles estão em crescimento e de que é constante a realização de provas de recrutamento, onde são cobrados conhecimentos específicos sobre o internetês e outros neologismos mais, além de conhecimentos político, econômico e militar, em diversas línguas ainda por cima, o candidato que se vire. Estima-se que haja do lado de lá um exército em acelerada expansão. O perfil procurado e o nível de exigência ainda não são conhecidos; há quem aposte, convicto, que são os nerds e os maus resolvidos com a vida os que têm mais chances, havendo inclusive quem dê provas de estranhamento nos comportamentos de uns e de outros, que somem durante a luz do sol e têm reconhecidos os seus avatares perambulando já a partir das 23h.
                Parece se tratar de grande espionagem: são frequentes os depoimentos de quem se percebe estudado em cada passo, em cada clique e em cada carregamento de página. Navegar na internet não é mais uma viagem privada; o internauta anda sujeito a todo tipo de invasão; já há inclusive até sindicatos saindo em defesa de sua causa e, como não poderia ser diferente, ganhando dinheiro à rodo.
A desconfiança tem se propagado rapidamente e o comentário quase unânime é de que não se trata de um feito como o do famigerado Julian Assange, mas de um acontecimento cujo efeito e intenção são paralelamente contrários. Especula-se por aí que governos de grandes nações tenham conhecimento dessas reuniões, mas, muito mais do que coniventes, são ainda por cima os grandes investidores.
                Os hackers e os crackers do lado de cá que, não por incompetência, não conseguiram se infiltrar no portal, observam pelas frestas e fazem grandes anotações, mas é sabido que eles nada mais sabem a não ser que lá dentro circulam grandes vilões da história mundial, muitos deles já defuntos de longas datas, a exemplo de Adolph, Benito e um tal de Antônio, sendo este último um morto mais recente e, conforme as observações podem atestar, o membro que se revela o mais exaltado de todos. O conteúdo dos aquivos em .doc, em .pdf e sobretudo em .html em que eles registram as atas das reuniões ainda não é conhecido, mas, do lado de cá, o pessoal não anda muito disposto a aguardar, não. A história está aí pra ensinar. A guerra implodirá.


RF

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