A carta que segue postada abaixo, enviada para o nosso endereço de email, por um(a) internauta não identificado(a), em 18/06/2011, não foi editada. O seu conteúdo original segue inalterado para que não haja interferência em sua compreensão. O INTITULÁVEL, de antemão, assume a sua neutralidade em relação às opiniões por ele(a) expressadas.
Descobri o blog de vocês pesquisando alguma coisa num grande buscador da internet. Não sei explicitar agora se não me recordo o nome dele, do buscador, ou se é mais prudente suprimi-lo. Acredito, no entanto, mais provável que seja pela segunda do que pela primeira opção, pois sou avesso a todo tipo de publicidade gratuita. Não tenciono jamais ceder ao modelo capitalista – não sou adepto de modelo econômico nenhum, na verdade - e, por conseguinte, não gero receita pra ninguém.
É, antes de tudo, reconheço, e desde já peço desculpas aos senhores intituláveis, a quem através desta com muito esmero escrevo, imperativo antecipar-lhes que permanecerei anônimo e que isso, eu bem que compreenderia, poderá lhes dar o direito incontestável – e até constitucional - de não publicar esta carta, mas será mesmo inválida a tentativa de me pedir o nome ou a minha procedência. Faço-lhes um pedido: fiquem com o relato. Aposto em como a página de vocês muito ganhará.
Aliás, tem algo que, antes de tudo, quero pontuar sobre vocês. O blog é razoavelmente bom, apesar do nome que o intitula, que me soa quase como um neologismo, sobretudo porque vocês tentam empregar à palavra “intitulável” um sentido reverso, que não é o original e o reconhecido pela nossa polivalente língua. Não saberia mais, contudo, lhes dizer com convicção o que, linguisticamente, podemos afirmar sobre uma palavra cuja significação não é restrita a um único sentido, mas me arriscaria ainda a chamá-la de polissêmica.
Faz muito tempo, afinal, que deixei a universidade. Lá certamente aprendi sobre isso e sobre outras coisas tantas igualmente importantes. Depois de memoráveis quatro anos de estudos, de palestras e de pesquisas, de lá saí com um diploma sob o braço e decidi que era hora de colaborar para com um grande processo de reconstrução de um grande país. Mas a verdade é que me formei em letras e, hoje, na bebida, busco esquecer.
Nunca mais a uma sala de aula retornarei. Dedico-me agora, faz quase já uma semana, se bem me lembro, à observação silenciosa através da minha janela. Nunca mais tornarei a me arriscar em mais algum outro engajamento qualquer, principalmente nisso que parece ser tão insistentemente ignorado pelos nossos senhores governantes: a educação. A minha morte, eu sei, uma hora me chegará entrante pela porta da minha casa sem bater e sem nem se preocupar em me dizer, como quem tem alguma razão nessa vida, que eu estava certo, que o pessimismo é uma virtude e que eu não sou merecedor de ter nascido no país em que nasci.
Estou aqui para antecipar aos senhores, antes de me entregar de vez à cirrose ou ao limbo de um provável coma alcóolico, que o Brasil, apesar dos avanços econômicos e de todo esse alarde propagado de que entraremos em breve para o seleto grupo dos países de primeiro mundo, não será um País de grandes progressos. O nosso problema está na raiz. Está nas salas de aulas. Um país que não respeita a sua língua, somente a título de exemplo, tá?, não tem respeito por si próprio. A língua, apesar das inevitáveis reconfigurações, como em nosso caso, é a ciência própria de cada nação. Reconheço também, é claro, que não seria somente o aprofundamento linguístico que tornaria os nossos jovens semianalfabetos mais bem preparados. Reconheço a importância das outras ciências, tanto das convencionais como de outras novas, que também acredito deveriam ser implantadas, mas aludo aqui principalmente à falta que farão pensadores nativos, num futuro muito próximo, quando esta aqui for novamente uma terra povoada por estrangeiros, num modelo econômico ultramoderno que, de tão nocivo e inexorável, muito aos sobreviventes fará sentir saudades do antiquíssimo colonialismo.
Não vejo avanços, pois. Não me venham com estatísticas disso e daquilo. Não me venham dizer que o governo federal gastou não sei quantos bilhões construindo novas universidades públicas e que ele tem investido em educação “como nunca antes na história deste país”. Ou que ele tem incentivado o brasileiro mais pobre a estudar, através destes programinhas de bolsa-estudo, bolsa-educação e não sei mais o quê. Eu proporia - não proponho mais porque, lembro-lhes, me entreguei - de pararmos tudo por aqui e de pormos tudo à prova, dando vozes a representações sociais diversas, a todas elas, se possível, o que me pareceria muito mais próximo do que convencionalmente costumam chamar por aí de democracia.
Estou dizendo que os brasileiros todos deveriam se sentar para discutir. Interrompesse-se a novela das oito e os pregões das bolsas de valores. Congelasse-se a burocracia. Uma semana? Tudo bem. Uma semana. Um dia, que seja. Permitíssemo-nos a pensar. Todos juntos. Sem estrangeiros dando pitacos. Sem organizações mundiais disso ou daquilo dizendo o que é certo ou o que é errado. Fossem à merda – me desculpem pelo termo – todos esses vampiros de riquezas alheias. Fecharíamos as nossas portas. Mediríamos os nossos próprios desempenhos. Em todas as esferas.
Incomodava-me mais profundamente ainda outra preocupação nacional muito em voga. Vêm me dizer alguns especialistas, muitos deles articulistas dos nossos grandes jornais, cheios de empáfia, como se as suas análises e as suas previsões sejam as únicas corretas, que será um avanço para o Brasil a realização em nosso território de um grandessíssimo evento esportivo como a Copa do Mundo. Faça-me uma garapa. Copa do Mundo por agora, quando as coisas parecem finalmente estar em franca evolução? Isso é atraso, isso sim. Quererão mesmo, os estrangeiros de primeira linha, é nos pôr a pensar por quatro anos em como melhor hospedá-los - estando o primeiro ano já em curso, só para lembrá-los - para, ao final, fazerem elogios dispensáveis, enquanto, com sorrisos matreiros, rirão por trás por não termos avançado em pesquisas e em tecnologia. Em educação. É isso o que quero dizer.
Virão por aí novas pontes, novos aeroportos, trem-balas e uma infinidade de aparatos tecnológicos tantos mais. Mas virão tudo por importação. Nada será originário do Brasil. E isso me era extremamente vergonhoso, quando eu não era indiferente. É que cansei, mesmo. Cansei. Já não suportava mais o noticiário. O faz de conta do jogo político. A nossa política, aliás, é recheada de pura barganhação partidária. Quase não se discute os temas mais relevantes, a não ser a desimportante divisão, entre eles, de fatias de diversos setores da máquina pública. À merda todos os nossos partidos. Abaixo esse sistema de governo em que impenetráveis agremiações políticas influenciam e sobrepujam o Estado.
Despeço-me, enfim.
Comentários
=)
MASARACHAMADOGO