À exceção do que pensam os eleitores decididos – e aficionados - pelos demais candidatos e a grande mídia nacional, o resultado do debate promovido pela TV Bandeirantes, que concorria com a semi-final da Taça Libertadores, transmitida pela TV Globo no mesmo horário, ontem à noite, não deixou dúvidas: vitória convincente do candidato Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL.
O debate promovido pela BAND serviu a Plínio como holofote, e a tendência a partir de agora é que a sua candidatura possa enfim ser impulsionada a ganhar maior visibilidade. O candidato mostrou-se sempre incisivo em suas colocações, todas elas absolutamente heterodoxas em comparação aos mornos discursos de Dilma, de Serra e de Marina, embora, para muitos, a sua insistência em denunciar o preconceito contra o PSOL tenha ficado mais evidente.
Plínio falou diretamente à maioria pobre da população, tocando em pontos fulminantes, como distribuição igualitária de renda e reforma agrária, uns dos tópicos mais clássicos da bandeira socialista. Quando indagado sobre a proposta do seu partido em dar um calote na dívida externa, Plínio ironizou, dizendo que “calote quem deu foi o governo, na dívida social”. Após a declaração, os jornalistas e os convidados dos partidos presentes no estúdio sorriram timidamente, mas puderam ser ouvidos no ar.
Dilma Roussef, a candidata do PT para suceder o presidente Lula, preocupou-se muito mais em fazer contas e em apresentar os números do seu governo. Era o tipo do discurso que já se esperava de uma ex-ministra absolutamente tecnocrata como Dilma. Ancorada na inevitável comparação entre os governos de Lula e de FHC, a candidata que é hoje a mais cotada a presidente do Brasil arriscou-se pouco. Dilma foi comedida e, longe dos palanques e da imagem de Lula, revelou fragilidades quando precisava improvisar no discurso, chegando até mesmo a gaguejar.
Gago também se apresentou José Serra. O ex-governador de São Paulo também não comprometeu, mas até se arriscou um pouco, quando atacou os descasos do governo petista para com a APAE e para com os portos brasileiros. Em seu discurso final, destacou a presença da filha. Tentou comover; não conseguiu. E a sua frieza de articulista político metódico permaneceu indissociável da sua figura, embora ele seja de longe o candidato com maior habilidade para se comportar em debates.
Marina Silva, de quem mais se esperava da noite, decepcionou. A candidata do Partido Verde manteve-se incontestavelmente inteligente e lúcida, mas demasiadamente tímida. Com um discurso ameno e sempre conciliador, a ambientalista apresentou uma estratégia minimamente controversa para quem precisa deixar para trás a esperançosa terceira posição na preferência do eleitorado. Parecia mais uma candidata da dissidência situacionista ainda a serviço do governo, dada a ausência de confrontamentos diretos aos candidatos que, segundo confirmam os institutos de pesquisas de intenção de voto, lhe tiram a vaga do segundo turno.
Plínio, que chamou a candidata de Lula de “Dona Dilma”, a do PV de “ecocapitalista” e o dos tucanos de “hipocondríaco”, deu show, mas a platéia que o assistia era diminuta, se comparada à maioria esmagadora que acompanhava a atração da inescrupulosa Rede Globo. A portentosa emissora atingiu picos de audiência e se consagrou como a “solidária” da semana, ao não privar o seu público das decisões da Copa do Brasil e da Taça Libertadores da América, conseguindo facilmente alocar a realização dos dois jogos para dias diferentes. E, como nos exemplos mais recentes do futebol, O PSOL de Plínio ganhou, mas não levou.
RF
Comentários
Grande abraço.
O que fica evidente é que os debates não servem para decidir coisa alguma, pois a mídia jamais permitirá que pessoas como Plínio tenha muito espaço. No final vencerá quem dispõe de maiores recursos financeiros e maior projeção da mídia, e nesses requisitos Dilma já está eleita, para tristeza da democracia. Tenho que tirar o chapéu para a atitude da Globo em transmitir o clássico numa quinta-feira, dia atípico de futebol naquela emissora. Deu um banho de estratégia. E entre a emoção real do futebol e a farsa do debate maquiado, venceu a paixão nacional.
Parabéns pela lucidez da postagem.
Abraços,
Tio Bay.
PARABÉNS!