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A África impotente perante o futebol



Pela primeira vez na história, uma Copa do Mundo de futebol é realizada no continente africano. Um marco extremamente significativo, fazendo renascer a esperança desse povo sofrido e batalhador, que mesmo nas situações difíceis, exibe, orgulhosamente, o seu sorriso sincero.
Acompanhados da inseparável “vuvuzela”, os africanos assistiram ao início da Copa com grande empolgação. Por ser a anfitriã da festa, a África do Sul teve grande apoio da sua torcida, que saia alegremente pelas ruas, demonstrando todo seu patriotismo. Devido a essa inédita escolha, de colocar um país africano para sediar uma Copa do Mundo e ao grande entusiasmo do povo africano, muitos jornalistas esportivos passaram a acreditar em grandes campanhas das seleções africanas nessa edição dessa competição. Apostaram que todas elas passariam para a segunda fase e até chegaram a transformar a seleção da África do Sul em favorita ao título. Muitos creram nisso, porém, a realidade tem sido completamente diferente desses palpites.
O clima favorável e o apoio constante não tem sido o bastante pra levar os africanos à diante. África do Sul, Nigéria, Gana, Camarões, Costa do Marfim e Argélia não têm empolgado seus torcedores. Com exceção da seleção de Gana, que vem, por meio de muito esforço, alcançando resultados mais significativos que as demais seleções.
Não se pode falar em decepção, pois o nível técnico dessas seleções é realmente baixo. Mas, o que se esperava era mais empenho, como faz o seu povo, ao enfrentar as dificuldades impostas pela vida. Na última quarta feira, dia 16 de junho, foi feriado nacional na África do Sul. A data relembra um acontecimento histórico, no qual estudantes protestavam pacificamente nas ruas contra o ensino obrigatório da língua africana. Os policias responderam com violência, matando dezenas de estudantes. Hector Peterson, de apenas 13 anos, também foi morto nesse dia e ficou marcado na história do seu país, por ter sido fotografado, já morto, nos braços de um dos manifestantes. Essa data se repetiu 34 anos depois e a população relembrou o acontecimento indo ao local do massacre para cantar músicas da resistência negra. Nesse mesmo dia, de luto e lembranças, a seleção da África do Sul tomou 3x0 do Uruguai, decepcionando toda a nação, que acreditava que a data traria bons ânimos aos jogadores. Nada adiantou. A “South África” se complicou de vez em seu grupo, com dois jogos disputados e apenas um ponto conseguido. Decepção total para o país da Copa que, pela primeira vez, deu um descanso às vuvuzelas.
E para piorar, a seleção de Camarões é a primeira matematicamente eliminada da Copa do Mundo de 2010. Uma seleção dependente do seu astro Samuel Eto’o, que sozinho na frente não conseguiu ajudar o seu país. A Costa do Marfim parece ser a mais forte dentre as seleções africanas, porém ainda não mostrou todo o seu potencial. A Argélia e a Nigéria vivem situações complicadas, enquanto Gana pode respirar mais aliviada, por ter mais chances de passar para a próxima fase, mesmo com essa equipe tecnicamente limitada.
O continente africano vive um mês especial, de grandes mudanças, muitos flashes e demasiada esperança. Esperança, que fora repetida várias vezes exatamente por ter um grande significado para esse povo. Um povo que não desiste nunca, mas que no futebol não tem encontrado forças. Permanece o futebol da vontade, da garra, da correria, mas de pouca técnica. Os africanos golearam todos os outros em alegria e em receptividade, mas, na matéria principal do evento, eles estão devendo. Devendo o futebol, que traria mais alegria e menos decepção a esse povo que tanto sofreu.


GF

Comentários

Anônimo disse…
Aê! Texto novo! Os incentivos e ideias do chefe da redação do blog surtiram efeito. O texto tá muito bom, continue assim!

A minha opinião é que a Nigéria será o único time africano a classificar! Mas será no sufoco, porque o jogo contra a Coréia é dificílimo.

Não me decepcionei tanto com o desempenho dos africanos, porque não tinha muitas esperanças.
Estou muito contente com o desempenho dos sulamericanos: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.

Abração
Joás Designer disse…
Eba! Texto novo ²! Só falta eu.
Concordo, Tiago. Como não tinha tantas esperanças, não me decepcionei. Mas gosto de vê-los jogando. É a minha cara! XD.

Acho que Gana se classifica!!

Abraço, Gabriel!!
JOCIMAR FRANÇA disse…
Uma análise geral sobre o comportamento do povo e das seleções africanas... senti falta de algo assim na mídia em geral. Parabéns pelo belo resumo.

Apesar de não levanterem o caneco, todos eles, jogadores e torcedores são campeões. Poucos criam na capacidade de organização dessa gente. Mas aí está, a COPA já é um sucesso. E isso ninguém pode tirar deles.

Grande abraço meu querido sobrinho.
Gildson Souza disse…
Confesso que tbm estava torcendo para as seleções africanas, mas acho, seguindo o raciocínio do texto, que há uma grande dependência do futebol para se ser feliz. E não é bem assim. Futebol é só um anelgásico, que esconde a dor, mas não cura a doença, não cura a pobreza, nem a falta de boa educação.
Post muito interessante e bem escrito.
Abraços

www.badu-laques.blogspot.com
Rafael França disse…
É, amigos. Não tem como não simpatizar com as seleções africanas, principalmente por causa da condição imperativa de humildade dos seus povos, que também exibem, contraditoriamente, nas arquibancadas da África do Sul, singelas manifestações de alegria. Lembram muito o povo soteropolitano, que é composto por uma maioria negra absoluta. Mas no futebol eles realmente não são tão bons. Hoje, duas delas já foram eliminadas. A Costa do Marfim também está numa situação muito delicada. Gana é a única com chances reais de classificação, mas, diante da imponente Alemanha, também deverá sucumbir, rumo à desclassificação. Bom texto, meu irmão.

RF

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