Pular para o conteúdo principal

Papo eleitoral

- Zé, tu vai votar em quem?
- Não sei.
- Marina?
- Não, mulher. Já lhe disse que não sei. E lhe digo mais: eu não votaria numa conservadora
metida a cosmopolita.
- Mas Marina é ambientalista, Zé. É contra o Estado mínimo e é entusiasta da reforma agrária.
- Mulher, preste atenção...
- Em quê, Zé?
- Marina está só fazendo o seu preço. Quando ultrapassar os 10 milhões de votos que
aparentemente já possui, venderá tudo para o vampiro ou para a durona.
- Quem, Zé? Quem são esses?
- José Serra e Dilma Roussef, mulher. Os palhaços do circo.
- Que circo?
- Esse falso debate eleitoral. Você encontraria outra analogia para uma eleição em que os
principais candidatos são indiferenciáveis? O povo está sem representação política.
- Por que pensa assim, Zé? O PSDB e o PT são partidos historicamente distintos. Estou ansiosa para ver os debates na tevê.
- Mulher, o que acha que o PT e o PSDB irão propor de diferente? Já não existe mais debate. A
briga agora é pra ver quem tem o melhor sorriso. Vencerá a briga quem vier a falar mais alto. Quem conseguir maior espaço na mídia. A briga, acredite, chega a ser até musical.
- Musical?
- Sim, mulher. As musiquinhas das campanhas. Quem tiver uma música melhor, ganha.
- É, Zé. É por isso que eu queria votar em Ciro.
- Ciro é malandro, mas se deu mal. Sucumbiu aos interesses do partido. Vai acabar por
amargar numa pasta ministerial do governo.
- De quem? Está dizendo que o PT vai ganhar?
- Não, mulher. Estou dizendo que Ciro vai estar no governo. Não importa de quem seja.
- Por que, Zé?
- Porque ele é oportunista e não vai se posicionar, por enquanto. Ele fez biquinho contra o PSB
por este ter se rendido a Lula, deixando a sua candidatura pra trás, mas sabe que poderá
precisar de emprego, num futuro próximo.
- Se Serra ganhar...
- Exatamente. Ciro será mais um amiguinho dos tucanos.
- Que coisa. E Martiniano Cavalcanti?
- Faça-me rir, mulher.
- Por quê?
- Porque Martiniano, Heloísa e o PSOL vivem no mundo de Alice. Faltam só ressuscitar Karl
Marx e colocá-lo no palanque pra discursar. Ele é de uma esquerda flutuante, sonhadora.
- Não entendi.
- O PSOL precisa amenizar o seu discurso. O povo jamais ouvirá o PSOL porque a esquerda, no
País, é muda. O lobby dos empressários cala a esquerda. E a direita é intangível.
- Poxa, Zé. Como eu queria que você deixasse esse pessimismo de lado. Desde 1985...
- A democracia é uma farsa. A nossa política não mudou em nada, mulher.
- Mudou, sim.
- Então tá. Você é muito ingênua. Fica aí sonhando que eu vou continuar apoiando o meu
candidato.
- Que candidato, Zé???
- Nulo.

RF

Comentários

Sou centrista, ou sseja, desde que paguem meu salário e ponham comida na minha mesa vai ta tudo muito bem.

Nãop acredito em porta-vozes eleitos, são interesses que constrastam com os meus e da massa.

Apenas mais um ser humano fadado à corruptibilidade assim como todos nós.
Enfim, paz e ótimo texto.
Gildson Souza disse…
Dialógo esclarecedor esse aí, hein?
Esse é um dos motivos pra eu não gostar tanto desse tipo de política mais pro partido do que para uma melhoria social, economica etc. Política virou um négocio e faz tempo já.

Me lembrou tbm uma crônica do mesmo Érico Verissimo que vcs comentaram em um post mais antigo.
Parabéns

www.badu-laques.blogspot.com
Anônimo disse…
Parceiro, seu texto está nota 10!!!

Há tempo eu queria falar sobre a successão presidencial, mas tinha medo de fazer um texto cansativo e chato.

Você conseguiu escrever um texto dinâmico, embasado e interessante.
O seu texto me lembrou Veríssimo, mas o filho. Sua crônica\conto tem o estilo dele. Ficou perfeita.

Quanto à política, você sabe que ainda faço parte do remanescente que acredita na esquerda radical. E é bom salientar que o voto nulo não faz diferença, nem implica cidadania. É difícil escolher, mas o ideal é votar no menos pior, infelizmente!

Seus dotes de jornalista estão mais aguçados! Quero ver mais textos seus!

Um abraço
Rafael Digal disse…
Concordo plenamente com sua leitura sobre a corrida presidencial em relação a falsa polarização entre Dilma e Serra que no final das contas, apesar de simbologias distintas aplicam o mesmo programa neoliberal.
Só discordo desse discurso pessimista que no fim das contas só resulta em apatia. "- Ah, deixa isso pra lá e vamos tomar uma!" rsrsrs
Claro que meu discurso é parcial afinal de contas sou militante comunista! Defendo o Socialismo e a liberdade!
Pra terminar queria falar não só do conteúdo mas da forma do texto. Elogiar a qualidade do texto. parabéns!
Anônimo disse…
[M]. Atahualpa e Rafael Digao: VOLTEM SEMPRE QUE PUDEREM... O INTITULÁVEL AGRADECE A VISITA DE VOCÊS!!! Por aqui, qualquer assunto pode virar texto e a oplítica invariavelmente está presente em nossas postagens.


Um abração

Postagens mais visitadas deste blog

EDMÉIA WILLIAMS - UM EXEMPLO DE FORÇA E CORAGEM

Vivemos em um mundo altamente egoísta. São raras as ações de humanitarismo e solidariedade. Por isso mesmo, elas merecem grande destaque. São poucos os relatos de pessoas que abandonam o seu cotidiano e a sua comodidade para contribuírem para o bem-estar do próximo. A “personalidade da semana” do INTITULÁVEL é uma dessas exceções da sociedade hodierna. Edméia Willians nasceu em Santarém, interior do Pará. Entretanto, sua família migrou para Salvador, na Bahia, onde ela passou a maior parte de sua vida. Aqui ela cresceu, realizou seus estudos, se casou, constitui família e obteve os bacharelados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Música. A sua vida era normal, como de muitos. Passou a morar no Rio de Janeiro, devido ao emprego de seu marido. Chegou até a morar no Iraque, ainda na época de Sadan, também por motivos profissionais relativos ao seu esposo. Tudo transcorria normalmente até que duas tragédias mudaram a história de sua vida. Em um período muito curto, Edméia perdeu o seu es

POR DENTRO DA CAIXA DE PANDORA

Mais uma operação da Polícia Federal. Seu nome: CAIXA DE PANDORA. Os resultados: corrupção, caixa dois, mensalão. Envolvidos: José Roberto Arruda (DEM) - governador do Distrito Federal , Paulo Octávio (DEM) - vice-governador, Durval Barbosa (o delator) - secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal e mais uma corja enorme de deputados distritais corruptos. E o que podemos aprender com tudo isso? Vamos começar pelo excêntrico nome da operação policial. Pandora é uma personagem da mitologia grega, considerada a primeira mulher, filha primogênita de Zeus. A famosa Caixa de Pandora era usada por ela para guardar lembranças e a sua mente. A tragédia aconteceu quando ela guardou lá um colar que seu pai havia dado a ela. A caixa não podia guardar bens materiais e por isso o colar foi destruído. Pandora entra em depressão e tenta dar fim na caixa, mas ela era indestrutível. Por fim, ela se mata, por não conseguir continuar vivendo carregando aquela maldição. Comumente, a expres

TELA AZUL

Meu recente deslumbramento com a qualidade dos livros de Fernanda Torres permitiu que eu olhasse o livro da Maitê (É duro ser cabra na Etiópia) com olhar caridoso, adquirindo-o para o longínquo voo. A leitura diferente e intrigante, com textos de vários autores desconhecidos, rememorou em mim que o meu prazer de ler sempre foi equivalente ao de escrever. Apesar da voracidade para acabar o livro, a rinite estava atacada. Além disso, os últimos dias haviam sido bem cansativos. Decidi, então, tentar cochilar. Fone no ouvido, voo de cruzeiro. O barulho das crianças no assento de trás não era mais tão perceptível. O avião estava acima da enorme nebulosidade e eu observei a luminosidade variando na asa para avaliar possíveis turbulências. Tudo planejado, era hora de tentar dormir, coisa rara para mim em voos. Entre as variadas cochiladas, a mente tentava conciliar o descanso exigido e a consciência plena da situação. Num dos lampejos, após tornar a fechar os olhos, vi tudo azul.