Já cansei de falar aqui sobre o tempo. E sobre a necessidade de ler também! Todos nós já estamos cansados de saber que quase sempre falta tempo para ler. Esse texto de hoje é um incentivo! Vai ser uma sugestão de leitura. Eu, como de costume, estava indo para casa no meu ônibus lotado. Estava cansado e estressado. O celular tocou. Rafael me ligava e me pedia uma sugestão para comprar um livro. Coloquei minha mente no lugar. Viajei no meu universo literário buscando uma boa obra para indicar. Eu estava com saudade de ler bons livros. E de reler também. Saudade das minhas tardes fagueiras com romances e mais romances. Como me diverti com a ironia de Machado, com as divagações de Clarice, com as belas histórias de Érico, com a simplicidade de Fernando, com a profundidade de Graciliano, com a complexidade de Saramago e com outros gênios da palavra. Era difícil escolher um para indicar. Resolvi inovar e sugeri um livro de Érico Veríssimo: INCIDENTE EM ANTARES.
Hoje, muitos devem conhecer Veríssimo. Mas a maioria conhece Luís Fernando Veríssimo, filho de Érico. Os estilos são completamente distintos. Luís Fernando tem a enorme capacidade de contar uma boa história com poucas palavras. Ele é o gênio do conto e da crônica. E principalmente do humor. Já o pai é gênio de outra maneira. Seus livros são enormes, detalhistas, reflexivos, históricos. Na leitura dos livros de Érico, o leitor vai chorar, rir, refletir e viajar. O gaúcho Érico Veríssimo gostava de contar longas histórias. Ele criou dinastias e personagens marcantes da literatura brasileira como Ana Terra e Rodrigo Cambará. Érico estreou com "Clarissa" em 1933 e escreveu o belo "Olhai os Lírios do Campo" em 1938. O auge foi com "O tempo e o Vento". Uma longuíssima história contada em três partes: "O continente", "O retrato" e "O arquipélago". Um história fictícia recheada de fatos reais da história brasileira, que começou a ser escrita em 1949 e só acabou em 1961. Já no fim da carreira, vivendo a ditadura militar brasileira, Érico escreveu Incidente em Antares.
A publicação é do ano de 1971. Era o ápice da ditadura com Médici na presidência. Érico deixou sua contribução crítica. Vou apenas sintetizar a história do livro, para deixar o leitor com vontade de quero mais. Na cidade fictícia de Antares, morrem sete pessoas. Os coveiros estão em greve e, por isso, os mortos não podem ser sepultados. Assim, os defuntos, em decomposição, passam a vagar pela cidade falando o que nunca podeeriam falar em vida e requerendo o fim da greve, para poderem descansar em paz. Essa história excêntrica foi um ardil do escritor para criticar o regime. Os mortos podem criticar e falar o que quiserem. O livro menciona uma briga política, onde os comunistas aparecem. O livro segue o molde dos outros livros de Érico, logo é extenso e muito detalhista. Entretanto é uma leitura apreciável e, apesar de sombria, é muito divertida. O meu conselho é fazer uma leitura crítica, remontando o cenário histórico da época. O livro virou minissérie na Globo em 1994. Eu não vi e nem lembro. Quem tiver esta relíquia e puder fazer a gentileza de me enviar, ficarei grato. Por enquanto, fica a sugestão de leitura, não apenas para Rafael, mas para todos os que me acompanham aqui no INTITULÁVEL! Aproveitem, meus caros leitores, enquanto tem tempo para isso. Hoje eu vivo me torturando, pois queria tempo para estar relendo. Ler é de grande valia. Por isso, abra a cabeça, jogue a preguiça longe, tome uma posição e leia!
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RF
Um abraço