Essa é uma postagem atrasada. Fui ver esse filme com minha esposa no fim do ano passado. A sinopse não era atrativa, nem o pôster. Mas o nome do diretor do filme me fez optar por vê-lo. Era uma segunda-feira. Pegamos a última sessão. Foi proposital, porque eu iria buscar um primo meu que chegaria no aeroporto, vindo de São Paulo, no início da madrugada. Uma grande vantagem era o cinema estar vazio. Poucos fazem a loucura de sair de um cinema por volta de meia noite! No meu caso, havia uma explicação lógica. Presumo que os que estavam ali presentes também tinham seus motivos. Mas, vamos ao filme.
'Los Abrazos Rotos' é o mais novo filme de Pedro Almodóvar. Esse famoso cineasta espanhol tem uma vasta história no cinema, com inúmeros filmes dirigidos e algumas premiações na carreira, como o Oscar de Melhor Roteiro Original, por Fale com Ela(2002). Almodóvar tem como grande característica a metalinguagem. Na sua mais nova película, ele volta a demonstrar essa faceta, pois o filme fala, sobretudo, da paixão pelo cinema. O filme tem a sua complexidade, dada talvez pela prolixidade do roteiro. Existem inúmeros símbolos de cinefilia e trechos que remontam a um set de gravação. O protagonista tem uma obsessão pelo som e pela imagem, lembrando o diretor Almodóvar. O ponto forte de Abraços Partidos continua sendo Penélope Cruz. Ela é uma das atrizes preferidas de Pedro e por isso tem um papel de protagonista no longa. Ela é multifacetada: sensual, vaidosa e sofrida. Ela representa o verdadeiro amor ao cinema, na pele da personagem Lena. É uma personagem rica e extremamente trágica. Conforme o próprio Almodóvar, o outro protagonista, Mateo – um cineasta cego, representava uma metáfora da sociedade espanhola, que havia perdido a sua memória histórica. São inúmeras citações de cinema ao longo da trama. Foi uma espécie de autobiografia cinematográfica. Há ainda uma defesa da família e dos valores dessa instituição para a sociedade. O maior erro de Almodóvar é o exagero. Aparentemente, ele se empolga com sua história e não consegue terminá-la, tornando o filme cansativo. Quanto a isso, as críticas sempre foram acentuadas para ele, embora nunca ter havido manifestação de desapreço do mesmo. Afinal, ele não mudou.
Ao sair do cinema, fica uma sensação de haver um turbilhão de ideias circulando na cabeça. São inúmeras reflexões que se entrelaçam. Talvez essa seja sempre a intenção de Almodóvar: fazer uma agitação mental, visando a obter, pelo menos, um fim benéfico na cabeça do telespectador. É um filme interessante para ser visto. Recomendo, mas previno o leitor do Intitulável das dificuldades interpretativas que ele poderá ter ao ver Abraços Partidos. De qualquer modo, é mais uma oportunidade para aprender e crescer.
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