No mítico ano de 1835, explodiu um levante que ficou conhecido como a Guerra dos Farrapos, em que gaúchos foram às ruas para protestar contra o Governo Imperial brasileiro. O motim teve um resultado positivo, mas a República Rio-Grandense durou apenas dez anos – de 1835 a 1845. O Estado, que àquela época almejava tornar-se um País independente, até hoje mantém - ainda que timidamente - resquícios dos ideários (quase) separatistas de outrora.
O tom libertário de hoje, no entanto, também pode ser notado em outro cenário: nas arquibancadas dos estádios de futebol da capital. É lá que os torcedores do Internacional e do Grêmio incentivam os seus times do coração com ritmos e cânticos que não são vistos em territórios tupiniquins adentro. E há de quem disser que eles ajudam a compor o time de torcidas organizadas do Brasil: eles querem ser reconhecidos como integrantes das barras bravas, exatamente como são chamadas as facções mais inflamadas dos clubes uruguaios e argentinos. Nisto, e apenas nisto, colorados e gremistas são unidos.
Mas o que já não dava pra esconder - a centenária rivalidade grenal é tida como a mais ferrenha do Brasil - ficou ainda mais latente após a última rodada do brasileirão, quando ficou explícito que o possível título do Inter dependeria de um tropeço do Flamengo, que é justamente o próximo adversário do Grêmio.
Desde o final da rodada passada, já não se fala em outra coisa: "Ninguém vai se meter na escalação do Grêmio", disse um dirigente gremista em entrevista coletiva logo após a vitória do tricolor sobre o Grêmio Barueri, no domingo passado. "Ninguém quer ser reconhecido como o jogador que entregou um título para o seu maior rival", defendeu-se Souza, meia do Grêmio. Do lado do Inter, as declarações que surgiram na mídia foram de pura cautela e de nítido comedimento; alguns torcedores do gigante da beira-rio apareceram na tevê com pedidos singelos - e carregados de boas doses de ironia - para que o seu rival lhes socorra.
No Estado mais ao sul do Brasil ninguém parece ter pensado, entretanto, que esse duelo tem sido insistentemente incitado pela Rede Globo, pelos milhões de flamenguistas e pela CBF. A mesma CBF que, diga-se de passagem, cedeu a Granja Comary para a delegação rubro-negra treinar nesta última semana e cuja sede localiza-se no Estado do Rio de Janeiro.
O jejum do clube da Gávea, que já dura 17 anos, parece estar chegando ao fim. O Flamengo terá méritos e honras se consagrar-se campeão: o time deu uma virada no campeonato como não se via há anos e, com Adriano, Petkovic e Bruno em seu elenco, apresenta um futebol de primeira linha. Mas vê-lo campeão por intermédio de um boicote gremista fará com que o sentimento de descrédito sobre o melhor campeonato do mundo fique marcado na maioria dos torcedores heterodoxos do País.
Esta é a oportunidade de os gaúchos revelarem que movimentos contrários a hegemonias também podem ser implodidos. A dupla poderia insugir-se contra a concentração do futebol na Região Sudeste e deixar de lado uma rivalidade imbecil. O Grêmio, depois que tiver concedido a benesse tão previamente anunciada ao maior clube do Brasil, terá este seu último gesto atirado para sempre sobre a penumbra do esquecimento. Ele somente será lembrado se decidir-se hoje por lutar honrosamente, às 17h (horário de Brasília), como os guerreiros farrapos o fizeram. E como bem contam os livros de história.
RF
O tom libertário de hoje, no entanto, também pode ser notado em outro cenário: nas arquibancadas dos estádios de futebol da capital. É lá que os torcedores do Internacional e do Grêmio incentivam os seus times do coração com ritmos e cânticos que não são vistos em territórios tupiniquins adentro. E há de quem disser que eles ajudam a compor o time de torcidas organizadas do Brasil: eles querem ser reconhecidos como integrantes das barras bravas, exatamente como são chamadas as facções mais inflamadas dos clubes uruguaios e argentinos. Nisto, e apenas nisto, colorados e gremistas são unidos.
Mas o que já não dava pra esconder - a centenária rivalidade grenal é tida como a mais ferrenha do Brasil - ficou ainda mais latente após a última rodada do brasileirão, quando ficou explícito que o possível título do Inter dependeria de um tropeço do Flamengo, que é justamente o próximo adversário do Grêmio.
Desde o final da rodada passada, já não se fala em outra coisa: "Ninguém vai se meter na escalação do Grêmio", disse um dirigente gremista em entrevista coletiva logo após a vitória do tricolor sobre o Grêmio Barueri, no domingo passado. "Ninguém quer ser reconhecido como o jogador que entregou um título para o seu maior rival", defendeu-se Souza, meia do Grêmio. Do lado do Inter, as declarações que surgiram na mídia foram de pura cautela e de nítido comedimento; alguns torcedores do gigante da beira-rio apareceram na tevê com pedidos singelos - e carregados de boas doses de ironia - para que o seu rival lhes socorra.
No Estado mais ao sul do Brasil ninguém parece ter pensado, entretanto, que esse duelo tem sido insistentemente incitado pela Rede Globo, pelos milhões de flamenguistas e pela CBF. A mesma CBF que, diga-se de passagem, cedeu a Granja Comary para a delegação rubro-negra treinar nesta última semana e cuja sede localiza-se no Estado do Rio de Janeiro.
O jejum do clube da Gávea, que já dura 17 anos, parece estar chegando ao fim. O Flamengo terá méritos e honras se consagrar-se campeão: o time deu uma virada no campeonato como não se via há anos e, com Adriano, Petkovic e Bruno em seu elenco, apresenta um futebol de primeira linha. Mas vê-lo campeão por intermédio de um boicote gremista fará com que o sentimento de descrédito sobre o melhor campeonato do mundo fique marcado na maioria dos torcedores heterodoxos do País.
Esta é a oportunidade de os gaúchos revelarem que movimentos contrários a hegemonias também podem ser implodidos. A dupla poderia insugir-se contra a concentração do futebol na Região Sudeste e deixar de lado uma rivalidade imbecil. O Grêmio, depois que tiver concedido a benesse tão previamente anunciada ao maior clube do Brasil, terá este seu último gesto atirado para sempre sobre a penumbra do esquecimento. Ele somente será lembrado se decidir-se hoje por lutar honrosamente, às 17h (horário de Brasília), como os guerreiros farrapos o fizeram. E como bem contam os livros de história.
RF
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Um abraço