Meu pai, certa vez, escreveu sobre por que o amor "morre" na beira da praia. O texto, que em seu título já anunciava o clamor do meu velho, trazia ensinamentos que, de tão profícuos, devem ser reproduzidos numa cartilha, para que sejam lidos a cada manhã, após o primeiro despertar dos corpos - e das almas. Ele, que escreve com a magia comum a poucos mortais, demora a produzir novos contos e novas crônicas. Sou sempre como um fã ansioso a cutucá-lo o ombro insistentemente, clamando por uma nova obra-prima. Mas o título deste último achado, se me lembro bem, era "amor: não deixe que morra".
Entre as divagações do manuscrito, a que ficou marcada foi uma passagem em que o meu pai atribui ao término do amor conjugal a falta cotidiana de pequenos mimos, justamente estes os alicerces que dão segurança ao entrelaçamento dos corpos, que geralmente acontece sob o silêncio e a penumbra noturnos. Concordo com ele. E, agora mesmo, enquanto idealizo o parágrafo de baixo, recordo-me das vezes em que omiti cotidianamente frases como "você está linda" ou "eu te amo".
Iniciei este texto na cama, há algumas horas, enquanto criava frases e viajava pelo tempo, surfando confortavelmente sobre as ondas da memória, que, ainda bem, não costuma negar-me viagens longínquas. Numa destas viagens, nem tão distante assim, confesso, voltei ao verão de 2006. Embalado por “La Belle De Jour”, que Alceu insistia em cantar no meu celular, revivi há pouco a cena de um primeiro beijo. Beijo este que, por muitos anos, fora motivo de um sonhar comum a duas almas.
No verão de então, também nascera o primeiro olhar. Com ele, apresentaram-se os brilhos – dos olhos e dos cabelos - e o perfume, que logo ganhou o seu espaço na memória, instalando nela a sua fragrância e subjugando-me a lembrar eternamente daquela tarde. Também vieram os primeiros abraços. O primeiro beijo, que demorou a acontecer, foi como a explosão de dois corpos em estágio de iminentes erupções.
Entre as divagações do manuscrito, a que ficou marcada foi uma passagem em que o meu pai atribui ao término do amor conjugal a falta cotidiana de pequenos mimos, justamente estes os alicerces que dão segurança ao entrelaçamento dos corpos, que geralmente acontece sob o silêncio e a penumbra noturnos. Concordo com ele. E, agora mesmo, enquanto idealizo o parágrafo de baixo, recordo-me das vezes em que omiti cotidianamente frases como "você está linda" ou "eu te amo".
Iniciei este texto na cama, há algumas horas, enquanto criava frases e viajava pelo tempo, surfando confortavelmente sobre as ondas da memória, que, ainda bem, não costuma negar-me viagens longínquas. Numa destas viagens, nem tão distante assim, confesso, voltei ao verão de 2006. Embalado por “La Belle De Jour”, que Alceu insistia em cantar no meu celular, revivi há pouco a cena de um primeiro beijo. Beijo este que, por muitos anos, fora motivo de um sonhar comum a duas almas.
No verão de então, também nascera o primeiro olhar. Com ele, apresentaram-se os brilhos – dos olhos e dos cabelos - e o perfume, que logo ganhou o seu espaço na memória, instalando nela a sua fragrância e subjugando-me a lembrar eternamente daquela tarde. Também vieram os primeiros abraços. O primeiro beijo, que demorou a acontecer, foi como a explosão de dois corpos em estágio de iminentes erupções.
Mas o amor, infelizmente, vai mesmo morrendo aos poucos na beira da praia. É comum que relacionamentos amorosos virem mornas amizades e que boas amizades virem, num determinado espaço de tempo, apenas boas lembranças de um determinado passado para a memória. Renová-lo cotidianamente foi ensinado, mas não foi aprendido. Esta triste constatação torna mais lenta a leitura e conduz o leitor para fora da página. Até que os seus olhos, que são como a efusiva representação da alma, indicam que o caminho pode estar mais abaixo, num despretencioso e sincero parágrafo.
O título engasgou nas reticências de propósito. É que elas, as reticências, trazem o leitor ávido por uma conclusão ao último parágrafo. “La Belle De Jour”, de Alceu, é agora também codinome da minha companheira daquele fim de tarde que o sol, despedindo-se, ajudava a colorir. É especialmente para “La Belle” que dedico este texto: as palavras que os seus cinco parágrafos organizaram neste blog substituem melhor as palavras que, se proferidas pelo trepidar da minha voz, deixariam dúvidas sobre a veracidade do discurso. Em época de festividades, como a que se apresenta neste fim de ano, será agradavelmente comum recebermos abraços sinceros. Eles se apresentarão como a entrega fragmentada daquele pequeno amor que esteve tão ausente em pequenos gestos durante o ano, mas que, como todos sabemos, não escondia no ar a sua existência. Por ora, esqueçamos as crenças e os simbolismos por trás do Natal e busquemos o brilho nos olhos de um familiar ou da pessoa amada. O amor estará lá, certamente. Não deixemos que morra.
O título engasgou nas reticências de propósito. É que elas, as reticências, trazem o leitor ávido por uma conclusão ao último parágrafo. “La Belle De Jour”, de Alceu, é agora também codinome da minha companheira daquele fim de tarde que o sol, despedindo-se, ajudava a colorir. É especialmente para “La Belle” que dedico este texto: as palavras que os seus cinco parágrafos organizaram neste blog substituem melhor as palavras que, se proferidas pelo trepidar da minha voz, deixariam dúvidas sobre a veracidade do discurso. Em época de festividades, como a que se apresenta neste fim de ano, será agradavelmente comum recebermos abraços sinceros. Eles se apresentarão como a entrega fragmentada daquele pequeno amor que esteve tão ausente em pequenos gestos durante o ano, mas que, como todos sabemos, não escondia no ar a sua existência. Por ora, esqueçamos as crenças e os simbolismos por trás do Natal e busquemos o brilho nos olhos de um familiar ou da pessoa amada. O amor estará lá, certamente. Não deixemos que morra.
RF
Comentários
Muito bom o texto, e parabéns pelo blog!
Até.
ATé!
Você bem sabe o que eu penso...
Mas tudo bem: você continua sendo meu primo e um grande escritor. É um pena que você deixou ele(O AMOR) morrer. Espero que um dia ele ressuscite verdadeiramente para nunca mais deixar de existir.
UM ABRAÇO
(rs)Quando comecei a ler o texto pensei que fosse o Tiago ou de repente o Bieel mas, ao terminar me surpreendi com a 'assinatura'.
você parece sempre tão sério, seus textos são sempre tão... cheios de informações e poucas emoções que não tive como não me surpeender com o tema principal.
ÓTIMO texto!!! Mais uma vez, escreveu de forma extraordinária!
Tenho que concordar com você que o que basicamente nos mantem fortes para a rotina, os chamados 'mimos', não existem mais. "Eu te amo" é dito de forma tão descomprometida que é dificil acharmos que é verdadeiro...
Parabéns pelo textooO!!!
BeijoO
Jaque