O título é deveras sugestivo. Os detentores de um maior grau de cultura literária logo lembrarão de Carlos Drummond de Andrade – o poeta da pedra no meio do caminho, o poeta gauche e de sete faces, o poeta do conhecimento. Aos menos dedicados à literatura salutar, resta acreditar que este texto vai falar sobre as manchetes jornalísticas referentes ao caso da universitária da Uniban, em São Paulo. Só quem não leu Drummond, não vê os jornais e anda bastante desatualizado vai pensar que este emaranhado de palavras buscará formar um conto ou uma crônica. Quando me propus o título foi realmente tencionando refletir sobre o controvertido fato da jovem com um vestido rosa curto, entretanto, a minha memória literária me fez reviver as delícias das poesias de Drummond. Portanto, vou usar este espaço para falar sobre ambas as coisas.
O poeta mineiro, nascido em Itabira, foi um fenômeno na poesia nacional – não há como duvidar disto. A composição poética denominada “O caso do vestido” foi publicada em 1983, junto a outras, num livro chamado de “Nova Reunião”. Utilizando-se de dísticos de versos regulares, Drummond usa o poema para relatar um drama, semelhante ao que ocorre em “A morte do leiteiro”, também de Drummond. Na história, uma mulher relata a suas filhas a aventura extraconjugal do marido, sua humilhação perante a amante, o fim do caso, o pedido de perdão da mulher, a volta do esposo e a personificação daquela história num vestido pendurado na parede. Paira no texto uma expectativa pela terrível história que a mãe está a relatar e pela iminência da chegada do pai ao local onde elas estão. O poema, repleto de arcaísmos, é uma obra-prima. Revela o drama cotidiano de uma sociedade patriarcal onde impera a brutalidade masculina. Há uma beleza teatral no poema, que gera uma crispada expectação na narrativa. Há uma clara exaltação de uma mulher resignada, que vigorosamente sai da extrema humilhação para o supremo perdão. Ter o vestido na parede, aparentemente parece ser um sinal de derrota. Mas no bojo da história, percebe-se que é uma genial represália da mulher, registrando para sempre a felonia de seu marido.
Graças a um vestido rosa muito curto, Geisy Vila Nova Arruda, aluna do curso de Turismo da Uniban, foi pivô de uma enorme confusão que envolveu uma turba ensandecida de cerca de 700 alunos. A história já é conhecida de quase toda a população brasileira, devido às inúmeras reportagens em toda a imprensa. É simplesmente incompreensível que apenas o ato de utilizar o micro-vestido tenha causado tamanha balbúrdia. A jovem foi inicialmente retratada como vítima de uma enorme intolerância. Depois, surgiram os argumentos de que a mesma se trajava propositalmente assim para provocar. Houve boatos de que ela era uma prostituta. Mas a veracidade destes fatos não exime a nenhum dos vândalos. O conceito de adequado é realmente muito relativo no Brasil. Somos considerados um povo que se veste despudoradamente, graças ao clima tropical e às heranças indígenas. Existem milhares de mulheres neste momento se vestindo de modo igual ou pior que Geisy em todo o Brasil. Não estou defendendo a garota. Ela, como a maioria dos brasileiros, precisa compreender o conceito de adequação. O fato é que com aquele vestido, Geisy jamais teria acesso a um fórum, a um tribunal ou a um cartório. Entretanto, nas universidades este comportamento é muito comum. A situação toda se midiatizou. A tentativa de culpar Geisy ou a turba não deu certo. Então, a culpa recaiu na medíocre Uniban, que arbitrariamente expulsou a aluna e suspendeu os alunos. Entretanto, o Reitor da Uniban, ao ver a reação pública ao desligamento da garota, revogou a decisão.
Existe algo nos bastidores ainda incerto. Os falatórios sobre Geisy podem até ser verdadeiros. Mas volto a repetir: nada justifica tamanha violência. Existem meios legais, morais e coerentes de se resolver qualquer situação. Mas, eu acredito particularmente que o objetivo de Geisy Arruda foi se tornar atração na mídia, algo que já conseguiu. Para mim, ela agiu semelhantemente à professora dançarina de Salvador, na Bahia. Ambas utilizaram a mídia e advogados para aumentar o estardalhaço de suas cenas horrorizantes. Faltou a elas sapiciência e pudor para agirem discretamente, pendurarem o vestido da vergonha na parede( como no belo poema de Drummond) e prosseguirem suas vidas.
O poeta mineiro, nascido em Itabira, foi um fenômeno na poesia nacional – não há como duvidar disto. A composição poética denominada “O caso do vestido” foi publicada em 1983, junto a outras, num livro chamado de “Nova Reunião”. Utilizando-se de dísticos de versos regulares, Drummond usa o poema para relatar um drama, semelhante ao que ocorre em “A morte do leiteiro”, também de Drummond. Na história, uma mulher relata a suas filhas a aventura extraconjugal do marido, sua humilhação perante a amante, o fim do caso, o pedido de perdão da mulher, a volta do esposo e a personificação daquela história num vestido pendurado na parede. Paira no texto uma expectativa pela terrível história que a mãe está a relatar e pela iminência da chegada do pai ao local onde elas estão. O poema, repleto de arcaísmos, é uma obra-prima. Revela o drama cotidiano de uma sociedade patriarcal onde impera a brutalidade masculina. Há uma beleza teatral no poema, que gera uma crispada expectação na narrativa. Há uma clara exaltação de uma mulher resignada, que vigorosamente sai da extrema humilhação para o supremo perdão. Ter o vestido na parede, aparentemente parece ser um sinal de derrota. Mas no bojo da história, percebe-se que é uma genial represália da mulher, registrando para sempre a felonia de seu marido.
Graças a um vestido rosa muito curto, Geisy Vila Nova Arruda, aluna do curso de Turismo da Uniban, foi pivô de uma enorme confusão que envolveu uma turba ensandecida de cerca de 700 alunos. A história já é conhecida de quase toda a população brasileira, devido às inúmeras reportagens em toda a imprensa. É simplesmente incompreensível que apenas o ato de utilizar o micro-vestido tenha causado tamanha balbúrdia. A jovem foi inicialmente retratada como vítima de uma enorme intolerância. Depois, surgiram os argumentos de que a mesma se trajava propositalmente assim para provocar. Houve boatos de que ela era uma prostituta. Mas a veracidade destes fatos não exime a nenhum dos vândalos. O conceito de adequado é realmente muito relativo no Brasil. Somos considerados um povo que se veste despudoradamente, graças ao clima tropical e às heranças indígenas. Existem milhares de mulheres neste momento se vestindo de modo igual ou pior que Geisy em todo o Brasil. Não estou defendendo a garota. Ela, como a maioria dos brasileiros, precisa compreender o conceito de adequação. O fato é que com aquele vestido, Geisy jamais teria acesso a um fórum, a um tribunal ou a um cartório. Entretanto, nas universidades este comportamento é muito comum. A situação toda se midiatizou. A tentativa de culpar Geisy ou a turba não deu certo. Então, a culpa recaiu na medíocre Uniban, que arbitrariamente expulsou a aluna e suspendeu os alunos. Entretanto, o Reitor da Uniban, ao ver a reação pública ao desligamento da garota, revogou a decisão.
Existe algo nos bastidores ainda incerto. Os falatórios sobre Geisy podem até ser verdadeiros. Mas volto a repetir: nada justifica tamanha violência. Existem meios legais, morais e coerentes de se resolver qualquer situação. Mas, eu acredito particularmente que o objetivo de Geisy Arruda foi se tornar atração na mídia, algo que já conseguiu. Para mim, ela agiu semelhantemente à professora dançarina de Salvador, na Bahia. Ambas utilizaram a mídia e advogados para aumentar o estardalhaço de suas cenas horrorizantes. Faltou a elas sapiciência e pudor para agirem discretamente, pendurarem o vestido da vergonha na parede( como no belo poema de Drummond) e prosseguirem suas vidas.
Comentários
Parabéns pelo blog, gostei muito daqui!
Mary Carvalho
Badulaques: badu-laques.blogspot.com