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UMA MULHER

Aquele dia parecia ser diferente. Mas ela ainda não sabia bem por quê. Sentia algo inusitado. Não era mais uma menininha. Lembrou-se que muitos disseram que ela havia se tornado mulher quando a sua primeira menstruação chegou. A lembrança daquele sangue vermelho-vivo brotando no meio de suas delgadas pernas era bem vívida. Mas ela também não olvidara que não se sentiu essa mulher toda. Aquele dia foi realmente diferente. Mas a menarca havia chegado há mais de seis anos atrás. O tempo passou. Veio o primeiro beijo. O segundo, o terceiro...até que perdeu a conta. Depois o primeiro namorado de verdade. Não durou muito. Ela concluiu o Ensino Médio e passou no Vestibular para Biologia. O seu futuro profissional começava a se desenhar. Mas em muitos momentos ela ainda se sentia despreparada e imatura. Conheceu um cara legal que estava muito apaixonado por ela. Ela demorou um pouco a sentir o mesmo por ele. Mas aos poucos foi sendo conquistada. Começou sentindo por ele uma enorme afeição e se viu muito apaixonada, completamente dependente do amor dele. Já tinham três anos e meio de namoro. Crises já tinham acontecido, mas superaram todas. O namoro estava evoluindo e a relação deles era estável. Havia confiança mútua. Ela, que nunca acreditou em príncipe encantado, via nele o seu amor eterno. Para sorte dela, ele também a via assim. Projetavam se casar. Ela no início temia que o compromisso acabasse com a bela relação que existia. Ouvia muita gente dizer que a pessoa se transforma depois que se casa. Tinha medo, mas não levava muita fé nesses falatórios. Ela conhecia bem o seu companheiro; ele não mudaria. Para oficializarem a união matrimonial só faltava a situação financeira de ambos melhorar. Ele era mais adiantado que ela e já estava terminando a faculdade de Análise de Sistemas, mas só estagiava e a grana era curta. Ele fez um teste para ser trainee de uma grande empresa da região. O salário era dos sonhos e a efetivação na empresa era garantida. Ele se esforçou bastante. Preparou-se como nunca e ela o apoiou. Eles viam ali uma grande chance para selar o futuro deles. Ele havia feito boa prova. Mas teriam que conter a ansiedade por uma semana, quando a empresa divulgaria o resultado. Três dias depois ela tinha acabado de chegar da faculdade quando recebeu de sua mãe o aviso. Ele tinha ligado e pediu para ela se arrumar para saírem para passear. Ela tomou um banho caprichado. Levou quase meia hora para se decidir sobre qual vestido usaria. Quando enfim decidiu, foi fazer a maquiagem e dar uma ajeitada final no cabelo, que já estava escovado e pranchado. Enquanto terminava de se arrumar, sentiu aquela sensação estranha. Estava se sentindo uma mulher de verdade. Se achava madura, pronta para a vida. Sentia-se confiante. Mas ao mesmo tempo sentiu um temor, por ter a consciência de que sua infância já havia passado e em breve não seria mais uma mulher e sim uma velha. Breve? Assustou-se um pouco mais. Depois voltou à tona lembrando que já estava atrasada e quem realmente chegaria em breve era o seu namorado. A noite foi deliciosa e surpreendente. O resultado saiu mais cedo do que eles esperavam e ele havia passado. A alegria e o brilho nos olhos dele eram esfuziantes. Ela contagiou-se facilmente. Em menos de seis meses, eles se casaram. E ela, que já se sentia uma mulher, teve o prazer de ter um eterno companheiro ao seu lado. Se sentia completa. Mas ainda não era tudo. Entretanto, ela só iria sentir aquela sensação distinta novamente, quando no seu ventre um pequenino e novo ser fosse gerado. Ela então seria mulher e mãe.

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