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SOB O CÉU ESTRELADO

A noite era agitada. Havia uma enorme multidão em minha volta. Noite de música naquele lugar e eu estava ali. Mas estava, como de costume, sem muito entusiasmo. Absorto em minhas ideias, assustado com algumas formas de expressão, aguardando uma força interna para também utilizar minha linguagem corporal. No meio daquela zoada, daquele show megalomaníaco de luzes, dos safanões e esbarros dos que passavam ou dançavam, eu observei o céu. Sim, inicialmente a intenção foi verificar a possibilidade de chuva. E ela era muito remota. Um gatilho de memória foi acionado em minha mente e de zonas periféricas do meu cérebro aflorou o prazer de olhar o firmamento, costume recorrente de minha infância e adolescência. Logo de súbito, avistei as 3 Marias. Alinhadas como sempre, vistosas e facilmente reconhecidas. Mas eu gostava de procurar coisas mais escondidas. Havia próximo dessas estrelas do Cruzeiro do Sul outras três estrelas aparentemente alinhadas, mas que tinham um brilho muito inferior e por isso não eram tão perceptíveis. Mas eu já as conhecia de longa data e já as chamava de filhote das 3 Marias. Elas piscavam graças às inúmeras explosões ocorridas na superfície delas. Mas para mim era uma forma de expressão delas. E eu entendi como um consolo, como uma mensagem de esperança - a certeza da vitória. Não havia luar. Mas elanão fazia falta naquele momento insígne. Eu havia sido transportado para outra dimensão, mas ninguém ao meu redor via isso e nem poderia entender. A madrugada foi baixando. Os fúlgidos raios do imponente astro rei começaram a aparecer. A noite foi cedendo lugar. A aurora se aproximava. O brilho de minhas queridas estrelas se apagavam. Eu estava de volta a vida cotidiana. Mas estava feliz por ter vivido aquele momento singelo, nostálgico. Rendi-me como sempre a amplidão azul celeste e ao encanto do brilho estrelar. Eu saia daquele lugar de um modo diferente. Mas não por causa do que ali estava. Um novo dia. Uma nova rotina. E no fundo do peito uma saudade fina e gostosa, ansiosa por rever o esplendor da criação divina.

Comentários

Tio Bay disse…
Interessante que vocês foram para o lugar onde muitos diriam que veriam 'estrelas'... de outra dimensão é verdade... Somente um poeta como você para ver o invisível aos olhos da maioria...
Gabriel França disse…
Tiago olhou pra cima e começou a viajar... rsrsrs.
O céu e as estrelas causam mesmo grande fascínio em quem observa fixamente. Essa beleza causa uma sensação de paz e revigoração. Já o fiz algumas vezes, embora o meu principal alvo de observação seja a Lua.
Valeu, parceiro!
Abraço!
Quéren disse…
Uma das Marias era eu! rsrsrs. Ainda bem que quando você olhou pro céu, ele estav estrelado e limpo. Você queria estragar minha madruga, né?!
Guentou até o fim. Bom irmão.rsrsr
Anônimo disse…
Viajei mesmo...eu sempre viajo...rsrs...mas amo esses momentos... só eu sei o quanto eles são importantes para mim...

Um forte abraço
Jaqueline disse…
Aah... Amei o texto!!! Foi o texto mais simples, porém muito bonito que você já fez (na minha opinião).
De fato... olhar as estrelas nos proporciona uma grande paz interior. Quando mais nova, costumava chamar aquelas estrelas pequenas de irmãs da "3 Marias" (rs) e todo dia eu inventava um nome diferente para elas...
Hj não tenho tal prazer .. até mesmo poruqe essa cidade não me deixa fazer isso(ta sempree parecendo q vai chover).
Parabéns pelo texto!

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