Saudade, a palavra, teima em aparecer nos meus projetos mentais de textos, sempre que, como hoje, passo diante do mar. É quando a mistura de sensações torna-se inevitável e eu, tocado pelo vento que carrega consigo ínfimas fragrâncias azuis, me recordo dos melhores verões da minha vida.
Tenho mania de fazer longas arqueologias, de vez em quando. O mar tem para mim uma conotação lúdica e refrescante: os verões da minha infância - e de quase toda a minha adolescência - foram bem aproveitados na praia que fica próxima à minha casa, onde a água azul beijava a bola e nos convidava para um mergulho quase sem volta.
Íamos à praia - eu, meu irmão e alguns primos - em qualquer dia da semana; bastava-nos apenas que o vento colorido desse-nos boas notícias da maré. Os nossos "babas" - partidas amadoras de futebol - sempre terminavam sob o apito final do mar, que cobria grande parte do campo improvisado na areia para tornar-se, em seguida, ouvinte dos nossos sonhos e planos.
O caminho que me leva da Universidade ao trabalho, sob o sol escaldante do meio dia, tem em seu início um cenário deslumbrante: as praias de Ondina e da Barra, bairros tradicionais de Salvador. É encantado por essa visão que interrompo a leitura à janela do ônibus para, tomado pela palavra que iniciou o texto, sentir-me novamente como o banhista de outrora, com aquele cheiro salgado no nariz a sonorizar os cenários e a dar forma ao barulho das idas e vindas do mar.
A praia que mais frequentei na vida ainda existe, mas eu já não sou como o mesmo praieiro de antes. O olhar do menino que brilhava ao ver aquele imenso azul perdeu-se, certamente, entre as obrigações da vida em que tudo é de concreto; nada é sinestésico.
RF
Tenho mania de fazer longas arqueologias, de vez em quando. O mar tem para mim uma conotação lúdica e refrescante: os verões da minha infância - e de quase toda a minha adolescência - foram bem aproveitados na praia que fica próxima à minha casa, onde a água azul beijava a bola e nos convidava para um mergulho quase sem volta.
Íamos à praia - eu, meu irmão e alguns primos - em qualquer dia da semana; bastava-nos apenas que o vento colorido desse-nos boas notícias da maré. Os nossos "babas" - partidas amadoras de futebol - sempre terminavam sob o apito final do mar, que cobria grande parte do campo improvisado na areia para tornar-se, em seguida, ouvinte dos nossos sonhos e planos.
O caminho que me leva da Universidade ao trabalho, sob o sol escaldante do meio dia, tem em seu início um cenário deslumbrante: as praias de Ondina e da Barra, bairros tradicionais de Salvador. É encantado por essa visão que interrompo a leitura à janela do ônibus para, tomado pela palavra que iniciou o texto, sentir-me novamente como o banhista de outrora, com aquele cheiro salgado no nariz a sonorizar os cenários e a dar forma ao barulho das idas e vindas do mar.
A praia que mais frequentei na vida ainda existe, mas eu já não sou como o mesmo praieiro de antes. O olhar do menino que brilhava ao ver aquele imenso azul perdeu-se, certamente, entre as obrigações da vida em que tudo é de concreto; nada é sinestésico.
RF
Comentários
Ficou bom mesmo o texto, velho!
Parabéns.
Tiago França