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UM PAÍS SEM GÊNIOS?

Comumente, usamos o vocábulo “gênio”, no seu sentido figurado, para nos referirmos a alguém com alto grau de capacidade mental criadora em qualquer sentido, ou mesmo a alguém com grande talento inato. Nós, brasileiros, temos Machado de Assis como o gênio da literatura, Pelé como o gênio da bola e Villa-Lobos como um gênio da música. O fato é que o nosso conceito está intimamente ligado às artes. Existe no Brasil uma escassez de gênios da ciência, inventores de tecnologia, criadores de inovação. Os mais conhecedores da história brasileira vão se lembrar do inesquecível Santos Dumont. Sim, é fato que ele foi um gênio e a sua área de atuação foi a aviação, ainda então inusitada e desconhecida. A capacidade do Pai da Aviação é indiscutível. Ele foi um exemplo maior na pequena história de ciência no Brasil. Mas onde estão os novos inventores? Os futuristas a lá Da Vinci? Os incompreendidos semelhantes a Einstein? Os pesquisadores destemidos como Darwin? Será que não existe mais capacidade mental criadora em nossa nação?

Carlos Paz de Araújo é um brasileiro desconhecido que pode ser chamado de gênio. Ele é o fundador da Symetrix, uma empresa que tem por objetivo inventar tecnologias e vendê-las. Infelizmente, a inteligência desse potiguar só foi reconhecida lá fora. Aos 17 anos fez um intercâmbio nos EUA e nunca mais voltou. Com talento e muito estudo, ele se destacou no seu curso de Engenharia Elétrica. Fez mestrado e também doutorado. Foi o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio máximo de inovação tecnológica - uma premiação similar ao Prêmio Nobel. Sua grande invenção é a FeRAM, uma memória ferroelétrica que tem capacidade de armazenamento de 64 mbps, pode ser lida cerca de 100 trilhões de vezes e mesmo assim utiliza dez vezes menos eletricidade que a Flash, a memória não-volátil mais utilizada no mundo. Enquanto as autoridades brasileiras desconhecem este gênio da engenharia e suas invenções, o mundo considera Araújo como o Bill Gates das memórias.

Obviamente, a genialidade é uma característica inerente ao ser humano. Entretanto, o modelo educacional tem o poder de produzir cientistas, inventores e, conseqüentemente, gênios. Faltam no Brasil políticas públicas que privilegiem a iniciação científica e o desenvolvimento de linhas de pesquisa. Quase sempre, os estudiosos vão para o exterior para desenvolver suas pesquisas e inovações. Lá fora, eles encontram campo vasto para atuarem, reconhecimento e financiamento. Aqui, praticamente todos estes fatores estão escasseados. São poucos os heróis brasileiros que conseguem fazer ciência sem deixar o país. Nossa nação necessita urgentemente de uma reforma no sistema educacional e de um maior apoio político à pesquisa científica; desse modo os gênios ressurgirão.

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