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Eu, Marina e as nossas voltas

A volta à escrita, quando precedida pela instalação de uma nova rotina, torna-se muito mais do que prazerosa. Torna-se imprescindível: a pesquisa, o ajuste de idéias e a elaboração de textos preparam melhor a mente - e o corpo - para sobreviver às exigências do mercado de trabalho e às intermináveis atividades acadêmicas. Imerso neste contexto, retorno - com muito prazer e com uma nova foto - à página do Intitulável.
Durante o curto tempo em que fui inteiramente um leitor deste site, eu sabia muito bem que os escândalos envolvendo o Senado Federal e o alastramento da gripe suína seriam pautas interessantes para serem discutidas aqui, mas andei meio preguiçoso e pouco disposto a falar sobre tudo o que a mídia já falava por completo - e ainda está falando -, confesso. Ler e nada escrever, de vez em quando, pode ser tão importante quanto ouvir e nada falar. Pode ser - e é, penso - um gesto essencial para o nosso crescimento e o nosso eterno aprendizado, mesmo que o Tiago e os nossos leitores mais ávidos por textos não "comam" nada desse meu "agá".
Marina Silva (PT-AC) também retornou, recentemente. Não à sua atividade de senadora, que já exercia; ao debate político. O motivo: as últimas pesquisas eleitorais apontaram-na como forte candidata à sucessão presidencial, contrariando a previsão que polarizava, no PT e no PSDB, a disputa ao cargo de novo presidente do País. A surpresa foi tão grande que a ex-ministra do meio ambiente está, nessa semana, na capa de duas revistas de circulação nacional - embora a real intensão destes meios de comunicação para com a novidade seja ainda um objeto a ser estudado.
Enquanto ministra, Marina teve a sua atuação amplamente criticada principalmente pela Casa Civil, da então ministra Dilma Roussef. Muito pressionada por apresentar uma postura radical e, portanto, contrária à da grande maioria governista, que fazia pouco caso do crescimento do desmatamento, da grilagem e da atuação de ONG'S fantasmas na Amazônia - crimes ambientais tão denunciados por esta acreana de 51 anos - e somente visava a aquisição de licenças ambientais para a realização de obras de infra-estrutura, pediu demissão, em 2006, do cargo que assumira na equipe de Lula, ainda no primeiro mandato do presidente, em 2003.
As pesquisas basearam-se numa provável troca de partido: Marina deixaria o PT e candidatar-se-ia pelo PV. Com a mais recente demonstração da considerável preferência popular por Marina, um novo cenário já revela que a sua saída do Minsitério do Meio Ambiente não foi totalmente digerida e que, puxados pelos entraves ambientais, os embates sociais, ultimamente tão esquecidos, podem voltar à tona.
Se a troca de partido e a candidatura da ambientalista forem consumadas, Dilma e Serra terão que trabalhar ainda mais em suas campanhas e incluir, finalmente, algum discurso que não envolva estradas, construções e muita lama.
Volta com tudo, Marina. Eu já voltei.

RF

Comentários

Anônimo disse…
Ainda bem que ambos voltaram. A curto prazo, a sua volta me foi mais benéfica. A longo prazo, a volta de Marina será mais proveitosa para mim e para o país. Ainda não entendia como ela permanecia no PT. Sua candidatura possivelmente não vingará, mas renasce a esperança de ver ética e competência na política brasileira. Marina e Heloísa são radicais, no bom sentido da palavra; cada uma ao seu estilo. Elas, mesmo em partidos pífios que detém pouco tempo na tv, irão apimentar a sucessão presidencial. Dilma e Serra que se cuidem. E os homens também, porque as mulheres vieram para ficar.

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