Pular para o conteúdo principal

O acerto de Dunga

A imagem do capitão da seleção brasileira erguendo a taça de campeão, na Copa do Mundo de 1994, nos EUA, não deverá sair tão cedo da memória do povo brasileiro - o povo mais apaixonado por futebol. Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, foi, ao lado de Romário e companhia, um símbolo daquela conquista. Mas o capitão de então, hoje aos 45 anos, é cercado agora por olhares desconfiados que vêm de todo o mundo, diferentemente dos tempos em que vestiu a "amarelinha", quando, com gritos e gestos que mais pareciam ser de um guerreiro de outros tempos e de outros habitats, se tornou uma espécie de héroi nacional.
Dunga estreou como profissional no Internacional - clube em que jogava desde os quinze anos -, jogou em grandes equipes do mundo - como a Fiorentina, por exemplo -, foi tricampeão gaúcho (1982, 1983, 1984) e campeão da taça Guanabara pelo Vasco, em 1987. O jogador, conhecido por sua raça e determinação, encerrou a carreira aos 35 anos, jogando novamente pelo Internacional, no ano de 1999.
Em 2006, foi convidado para, ao lado de Jorginho - seu amigo, ex-jogador e também tetracampeão pela seleção -, assumir um dos cargos mais alvejados do País: o de técnico da seleção brasileira. Como não poderia ser diferente, a CBF foi amplamente criticada pela sua escolha. Quando a imprensa clamava pelo retorno de Felipão - pentacampeão em 2002 -, cogitava a volta de Wanderley Luxemburgo e praguejava contra a permanência de Carlos Alberto Parreira, foi o rosto de Dunga que, surpreendentemente, apareceu nas fotos dos jornais e revistas numa tarde de três anos atrás. A nomeação rendeu muitas polêmicas. A principal era a de que seria inconcebível que um treinador de futebol tivesse a sua primeira experiência no posto mais cobiçado do ramo.
O Brasil segue bem rumo à classificação para a Copa de 2010 - segundo lugar com 21 pontos, atrás apenas da seleção do Paraguai -, com Dunga e Jorginho no comando. Foi também com a dupla que a seleção, com o brio e o talento ligeiramente resgatados, conquistou a Copa América de 2007, na Venezuela. Os resultados valorizam o já respeitado treinador, entretanto, a dúvida é se o ex-capitão terá a sorte de continuar no cargo até junho do ano que vem ou se terá o mesmo destino trágico do craque Falcão. O ex-volante, que também foi ídolo do Internacional e da seleção brasileira, foi também considerado um treinador emergente, quando comandou o time canarinho de 1991. Mas a parte da coincidência que não será bem vinda a Dunga é que, antes mesmo de entrar em curso o ano da copa de 1994, Falcão foi deposto do cargo.
Em sua última convocação, ontem, Dunga começou efetivamente a acertar: convocou o habilidoso Nilmar, deu uma chance ao eficiente André Santos e, contra o apelo da rede Globo, que queria Bruno do Flamengo ou Felipe do Corinthians no gol da seleção, anunciou a convocação do excelente Victor, do Grêmio. Mas a pressão pela saída do treinador tende a crescer vertiginosamente depois de ontem, sobretudo porque ele sacou, ainda que timidamente e cheio de eufemismos, o craque batizado por Galvão Bueno de Ronaldinho Gaúcho. Dunga precisa, para merecer ainda mais respeito e manter-se no cargo, seguir em frente com a sua mais recente declaração de que considera o bom futebol como determinante para as suas convocações e, então, deixar de lado jogadores como Josué, Gilberto Silva e Wagner Love.
A seleção disputará, em junho, a Copa das Confederações e já paira no ar a certeza de que este será o grande teste para definir a permanência do treinador. Leonardo Attuch, colunista da revista ISTOÉ e um dos jornalistas mais respeitados do País, preteriu, há duas semanas, a já inconstitucional reeleição de Lula e disse, como quem faz um apelo, que "se há alguém que merece um terceiro mandato, seu nome é Ronaldo". Dunga também merece.
RF

Comentários

Anônimo disse…
Caro companheiro, mais uma vez tenho que discordar de suas efusivas e coerentes declarações. Continuo crítico de Dunga e temo ver o Brasil perder mais uma Copa. Mais crítico ainda de Ronaldo, não quero vê-lo na seleção; basta! Nilmar e Luis Fabiano já são suficientes para a seleção. Sou mais crítico ainda de LULA!!! Mais até do que de Dunga e do que de Ronaldo. 3º MANDATO??? NINGUÉM MERECE!!! Sou a favor da renovação na política, no futebol e na seleção! Um forte abraço...

Tiago frança
Gabriel França disse…
Não diria acerto, mas posso afirmar que ele está trilhando o caminho certo. Fiquei orgulhoso de ver o garoto Nilmar sendo convocado! Ja merecia a convocação há muito tempo, mas o treinador esperou o apelo popular para tomar sua decisão. Victor, André Santos e Ramires também foram escolhas acertadas, mas não dá pra engolir Josué, Gomes, Felipe Melo e Gilberto Silva. Fez bem em não levar os Ronaldos. Eu ainda acho que Dunga não é o técnico ideal pra gente, mas, já que ele tá aí, que faça um bom papel.

Abraço!
Jaqueline disse…
Não sou a pessoa mais indicada para falar de futebol ¬¬'
AMO assitir futebol, principalmente qdo o Palmeiras está jogando!!!
Também não acho que Dunga seja o MELHOR técnico mas... ele não está mal em seu papel o fato de não haver nenhum Ronaldo(se é que realmente não há)me anima.
Ótimo texto Rafael- como sempre.
Concordo com o Tiago...Lula terceiro mandato? O.o muuuita paciência.

Um beijão para vc's
J.

Postagens mais visitadas deste blog

EDMÉIA WILLIAMS - UM EXEMPLO DE FORÇA E CORAGEM

Vivemos em um mundo altamente egoísta. São raras as ações de humanitarismo e solidariedade. Por isso mesmo, elas merecem grande destaque. São poucos os relatos de pessoas que abandonam o seu cotidiano e a sua comodidade para contribuírem para o bem-estar do próximo. A “personalidade da semana” do INTITULÁVEL é uma dessas exceções da sociedade hodierna. Edméia Willians nasceu em Santarém, interior do Pará. Entretanto, sua família migrou para Salvador, na Bahia, onde ela passou a maior parte de sua vida. Aqui ela cresceu, realizou seus estudos, se casou, constitui família e obteve os bacharelados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Música. A sua vida era normal, como de muitos. Passou a morar no Rio de Janeiro, devido ao emprego de seu marido. Chegou até a morar no Iraque, ainda na época de Sadan, também por motivos profissionais relativos ao seu esposo. Tudo transcorria normalmente até que duas tragédias mudaram a história de sua vida. Em um período muito curto, Edméia perdeu o seu es

POR DENTRO DA CAIXA DE PANDORA

Mais uma operação da Polícia Federal. Seu nome: CAIXA DE PANDORA. Os resultados: corrupção, caixa dois, mensalão. Envolvidos: José Roberto Arruda (DEM) - governador do Distrito Federal , Paulo Octávio (DEM) - vice-governador, Durval Barbosa (o delator) - secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal e mais uma corja enorme de deputados distritais corruptos. E o que podemos aprender com tudo isso? Vamos começar pelo excêntrico nome da operação policial. Pandora é uma personagem da mitologia grega, considerada a primeira mulher, filha primogênita de Zeus. A famosa Caixa de Pandora era usada por ela para guardar lembranças e a sua mente. A tragédia aconteceu quando ela guardou lá um colar que seu pai havia dado a ela. A caixa não podia guardar bens materiais e por isso o colar foi destruído. Pandora entra em depressão e tenta dar fim na caixa, mas ela era indestrutível. Por fim, ela se mata, por não conseguir continuar vivendo carregando aquela maldição. Comumente, a expres

TELA AZUL

Meu recente deslumbramento com a qualidade dos livros de Fernanda Torres permitiu que eu olhasse o livro da Maitê (É duro ser cabra na Etiópia) com olhar caridoso, adquirindo-o para o longínquo voo. A leitura diferente e intrigante, com textos de vários autores desconhecidos, rememorou em mim que o meu prazer de ler sempre foi equivalente ao de escrever. Apesar da voracidade para acabar o livro, a rinite estava atacada. Além disso, os últimos dias haviam sido bem cansativos. Decidi, então, tentar cochilar. Fone no ouvido, voo de cruzeiro. O barulho das crianças no assento de trás não era mais tão perceptível. O avião estava acima da enorme nebulosidade e eu observei a luminosidade variando na asa para avaliar possíveis turbulências. Tudo planejado, era hora de tentar dormir, coisa rara para mim em voos. Entre as variadas cochiladas, a mente tentava conciliar o descanso exigido e a consciência plena da situação. Num dos lampejos, após tornar a fechar os olhos, vi tudo azul.