Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
O ambiente ficou pesado. Não havia sinais de paz. Reinava a incompreensão. O abatimento chegou. Minha alma tornou-se um turbilhão. Era uma angústia extenuante. Era uma agonia intermitente. O mundo estava desabando sob minha cabeça. A palavra ouvida não foi terna. Ela penetrou. Invadiu o recôndito do meu ser e traspassou meu coração. De repente, a dor. E ela veio forte. Era estranho, mas era real. Mais agonia. Estava tendo um infarto do miocárdio? Não dava para saber. Apenas sentia. Tudo por dentro se convulsionou até explodir na mais bela forma de expressão dos sentimentos. As minhas glândulas lacrimais trabalharam e, aos poucos, pequenas gotículas brotaram dos meus olhos. Internamente ainda havia um grito, um urro buscando liberdade. Não era um lugar adequado. Eu precisava de máscaras. As aparências são sempre as aparências. Então contive em mim o som. Mas a gotícula já havia se tornado gota. E elas estavam inundando o meu rosto. Tentei lutar contra mim mesmo. Procurei me conter. Lavei o rosto. Tentei não sofrer. Incrivelmente, eu me sentia só, apesar de estar cercado por uma imensa multidão. Os sons que me circundavam eram inaudíveis. A volúpia dos meus pensamentos não me permitia interagir naquele lugar. Mais desespero. E mais dor. Agora na cabeça. Ou seria na nuca? Era uma forte dor. Será que estou hipertenso? Agora era uma confluência de dores no corpo. Parecia que eu teria um derrame. Tudo parecia girar. O mundo estava turvo. Um enorme martelo estava sobre minha cabeça. O meu coração parecia uma espoleta. Faltava calma. Tentei relaxar. Tentei ser racional. A razão deu a mão devagarzinho à emoção para ajudá-la, assim como um pai amoroso dá gentilmente a mão a sua filha para juntos atravessarem a rua. Mas a menina era teimosa. Desgrudou-se do pai. Atravessou correndo e por pouco não foi atropelada. As lágrimas continuavam rolando. Elas pareciam eternas. Eu continuava lutando contra o meu eu. Naquele momento eu não precisava de intelectualidade, mas de inteligência emocional. Eu sabia que essas situações são inerentes ao amor. É difícil a convivência humana. O amor une, mas ele também sofre. E se amamos, sofremos junto com ele. As lágrimas foram se secando. Eu sabia que nada havia acabado ainda. Era preciso uma posição. Era necessário coragem. Era imperioso haver um diálogo. Mas eu me sentia fraco. Diferentemente de Cecília Meireles, eu não queria perder a capacidade de amar. Não queria renunciar aos meus sentimentos. As minhas mãos não podiam se quebrar. Não! Eu quero ainda poder chorar, seja por amor ou pelo que for. A perfeição sem o amor é inexistente. Prefiro as tempestades, as águas revoltas. Não quero findar a tragédia com sarcasmo e humor. Quero paz. Quero reconciliação. Quero amizade. Quero amor. Quero poder recuperar o prestígio. Voltar a amar. Voltar a viver. Tornar a derramar lágrimas.
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
O ambiente ficou pesado. Não havia sinais de paz. Reinava a incompreensão. O abatimento chegou. Minha alma tornou-se um turbilhão. Era uma angústia extenuante. Era uma agonia intermitente. O mundo estava desabando sob minha cabeça. A palavra ouvida não foi terna. Ela penetrou. Invadiu o recôndito do meu ser e traspassou meu coração. De repente, a dor. E ela veio forte. Era estranho, mas era real. Mais agonia. Estava tendo um infarto do miocárdio? Não dava para saber. Apenas sentia. Tudo por dentro se convulsionou até explodir na mais bela forma de expressão dos sentimentos. As minhas glândulas lacrimais trabalharam e, aos poucos, pequenas gotículas brotaram dos meus olhos. Internamente ainda havia um grito, um urro buscando liberdade. Não era um lugar adequado. Eu precisava de máscaras. As aparências são sempre as aparências. Então contive em mim o som. Mas a gotícula já havia se tornado gota. E elas estavam inundando o meu rosto. Tentei lutar contra mim mesmo. Procurei me conter. Lavei o rosto. Tentei não sofrer. Incrivelmente, eu me sentia só, apesar de estar cercado por uma imensa multidão. Os sons que me circundavam eram inaudíveis. A volúpia dos meus pensamentos não me permitia interagir naquele lugar. Mais desespero. E mais dor. Agora na cabeça. Ou seria na nuca? Era uma forte dor. Será que estou hipertenso? Agora era uma confluência de dores no corpo. Parecia que eu teria um derrame. Tudo parecia girar. O mundo estava turvo. Um enorme martelo estava sobre minha cabeça. O meu coração parecia uma espoleta. Faltava calma. Tentei relaxar. Tentei ser racional. A razão deu a mão devagarzinho à emoção para ajudá-la, assim como um pai amoroso dá gentilmente a mão a sua filha para juntos atravessarem a rua. Mas a menina era teimosa. Desgrudou-se do pai. Atravessou correndo e por pouco não foi atropelada. As lágrimas continuavam rolando. Elas pareciam eternas. Eu continuava lutando contra o meu eu. Naquele momento eu não precisava de intelectualidade, mas de inteligência emocional. Eu sabia que essas situações são inerentes ao amor. É difícil a convivência humana. O amor une, mas ele também sofre. E se amamos, sofremos junto com ele. As lágrimas foram se secando. Eu sabia que nada havia acabado ainda. Era preciso uma posição. Era necessário coragem. Era imperioso haver um diálogo. Mas eu me sentia fraco. Diferentemente de Cecília Meireles, eu não queria perder a capacidade de amar. Não queria renunciar aos meus sentimentos. As minhas mãos não podiam se quebrar. Não! Eu quero ainda poder chorar, seja por amor ou pelo que for. A perfeição sem o amor é inexistente. Prefiro as tempestades, as águas revoltas. Não quero findar a tragédia com sarcasmo e humor. Quero paz. Quero reconciliação. Quero amizade. Quero amor. Quero poder recuperar o prestígio. Voltar a amar. Voltar a viver. Tornar a derramar lágrimas.
Comentários
Gostei bastante desta parte: " A perfeição sem o amor é inexistente. Prefiro as tempestades, as águas revoltas. Não quero findar a tragédia com sarcasmo e humor. Quero paz. Quero reconciliação. Quero amizade. Quero amor. Quero poder recuperar o prestígio. Voltar a amar. Voltar a viver. Tornar a derramar lágrimas. "
O que você mencionou no texto é bem verdade. Antes vale o sofrimento em prol do amor, do que o riso sem ele.
Grande abraço!
RF