Antes de nascer esse texto, havia um dilema: o que escrever? Um conto ou uma crônica? A dúvida existe porque os meus últimos textos foram predominantemente híbridos. Vem da adolescência esta mania que tenho de entremear estórias com fatos da realidade. Então busco um norte agora, exatamente como fez Toby Temple em sua tão agraciada existência literária; ele que hoje está sufocado pelas páginas amarelas do livro que, empoeirado, agora repousa sobre a estante.
Só em ter mencionado o seu nome, devo ter provocado em Toby um súbito desejo em ser relido. E os seus olhos devem ter brilhado novamente, enquanto a sua mente começa a tramar um retorno triunfal aos palcos de outrora. Explico melhor: imagino que os personagens literários, presos em páginas de velhos livros sobre velhas estantes, estão sempre à espera de um leitor curioso que possa lhes explorar o mundo e tirá-los da nostalgia do esquecimento. Toby Temple não pode ser esquecido. Levantar-me-ei agora da cadeira e irei à estante; vou trazê-lo de volta.
Sidney Sheldon deve ter levado meses ou anos para criar Toby; o escritor, que faleceu recentemente, trouxera o meu personagem predileto em 1996, ao escrever "Um estranho no espelho", este que acredito ser o melhor dos seus livros. Durante a minha viciada leitura, ainda na adolescência, Sheldon e Temple pareciam viver em perfeita sintonia: eu precisava estar muito desprendido para não imaginar que as palavras escritas por Sidney eram, na verdade, as vozes de Toby, narrando os seus próprios passos.
Enquanto o meu texto não se define mais uma vez, quero brevemente apresentar Toby. Este nato comediante, que viria mais tarde tornar-se um bajulado astro do cinema, fugiu de casa aos quinze anos, após ter engravidado uma moça de sua cidade natal. Após a fuga, consagrou-se como um notável comediante. Apresentou-se e foi ovacionado em diversos seguimentos sociais. No auge, transformou-se no mais bem pago ator do cinema hollywoodiano. Até conhecer Jill Castle e se apaixonar. Viveu com ela uma intensa e trágica relação amorosa. E, entre os muitos acontecimentos que o livro me ensinou a guardar em segredo, está o seu desfecho. O fim de Toby Temple prescinde da versão adaptada do cinema para ser visto: ele pode ser contemplado pela habilidade em descrever cenários de Sheldon. Mas não é o desfecho da vida de Toby o que mais me fascina. O que existe de mais fascinante está marcado nas duzentas e noventa e seis páginas de sua vida: o seu espírito aventureiro.
E agora, perdido em pensamentos e imerso em mornas lembranças da minha vida, vou entremeando histórias minhas com as dele, dando à mania citada no parágrafo inicial uma nova modalidade. A nossa comparação torna-se inevitável, então. E no paradoxo existente entre o meu medo sobressalente e a sua interminável coragem, encontro o equilíbrio necessário para sobreviver. Logo, não vivo; apenas sobrevivo, concluo. O dilema da primeira frase - assim como outros dilemas que tenho na vida -, agora entendo, é resultado de uma insegura imparcialidade. Só me restou a pressa em findar este texto para consumar um novo propósito: ir ao encontro do meu espelho. O despertar de mais um estranho pode ser iminente.
RF
Só em ter mencionado o seu nome, devo ter provocado em Toby um súbito desejo em ser relido. E os seus olhos devem ter brilhado novamente, enquanto a sua mente começa a tramar um retorno triunfal aos palcos de outrora. Explico melhor: imagino que os personagens literários, presos em páginas de velhos livros sobre velhas estantes, estão sempre à espera de um leitor curioso que possa lhes explorar o mundo e tirá-los da nostalgia do esquecimento. Toby Temple não pode ser esquecido. Levantar-me-ei agora da cadeira e irei à estante; vou trazê-lo de volta.
Sidney Sheldon deve ter levado meses ou anos para criar Toby; o escritor, que faleceu recentemente, trouxera o meu personagem predileto em 1996, ao escrever "Um estranho no espelho", este que acredito ser o melhor dos seus livros. Durante a minha viciada leitura, ainda na adolescência, Sheldon e Temple pareciam viver em perfeita sintonia: eu precisava estar muito desprendido para não imaginar que as palavras escritas por Sidney eram, na verdade, as vozes de Toby, narrando os seus próprios passos.
Enquanto o meu texto não se define mais uma vez, quero brevemente apresentar Toby. Este nato comediante, que viria mais tarde tornar-se um bajulado astro do cinema, fugiu de casa aos quinze anos, após ter engravidado uma moça de sua cidade natal. Após a fuga, consagrou-se como um notável comediante. Apresentou-se e foi ovacionado em diversos seguimentos sociais. No auge, transformou-se no mais bem pago ator do cinema hollywoodiano. Até conhecer Jill Castle e se apaixonar. Viveu com ela uma intensa e trágica relação amorosa. E, entre os muitos acontecimentos que o livro me ensinou a guardar em segredo, está o seu desfecho. O fim de Toby Temple prescinde da versão adaptada do cinema para ser visto: ele pode ser contemplado pela habilidade em descrever cenários de Sheldon. Mas não é o desfecho da vida de Toby o que mais me fascina. O que existe de mais fascinante está marcado nas duzentas e noventa e seis páginas de sua vida: o seu espírito aventureiro.
E agora, perdido em pensamentos e imerso em mornas lembranças da minha vida, vou entremeando histórias minhas com as dele, dando à mania citada no parágrafo inicial uma nova modalidade. A nossa comparação torna-se inevitável, então. E no paradoxo existente entre o meu medo sobressalente e a sua interminável coragem, encontro o equilíbrio necessário para sobreviver. Logo, não vivo; apenas sobrevivo, concluo. O dilema da primeira frase - assim como outros dilemas que tenho na vida -, agora entendo, é resultado de uma insegura imparcialidade. Só me restou a pressa em findar este texto para consumar um novo propósito: ir ao encontro do meu espelho. O despertar de mais um estranho pode ser iminente.
RF
Comentários
Não sei o que disse o seu espelho, mas um terceiro interessado pode vislumbrar um talentoso (Ripley?) jovem que manuseia as palavras com a facilidade que tem de dominar uma bola...
Simplicidade, coerencia e dominio!
Um absurdo de magnitude.
Espelho, espelho seu... consegue ver um talentoso como eu vejo?
Abraços,
Tio Bay
TIAGO FRANÇA