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O ATO DE ESCREVER - 50º TEXTO DO INTITULÁVEL


A arte de transliterar o que se fala em vernáculo sempre me fascinou. Os livros foram uma paixão de adolescência. Conheci o mundo em que hoje vivo através deles. Eu era voraz! Queria conhecer a literatura completa de cada autor, a antologia inteira de cada prosador, as poesias completas de cada trovador. Aos poucos, me imiscuí no mundo das palavras. Era um caminho sem volta. Elas me seduziram, me atraíram e hoje me dominam. A minha rotina estressante sempre me permitiu alguns momentos de subterfúgio. Quase sempre através da escrita. Com os vocábulos espanto a dor, celebro o amor, cultivo a alegria e descrevo a vida. Essa paixão inata aflorou definitivamente com a idéia de um blog. Era uma forma de colocar o dom em prática, utilizando uma das benesses da tecnologia moderna. Foi tudo abrupto. Nada planejado. Os passos para a criação do blog eram simplórios. Mas faltava um nome! Pensei em vários. Mas todos eles restringiam. E eu queria expandir. Queria um espaço para falar de tudo, ou melhor, para escrever sobre tudo. A palavra “intitulável” já existia em minha mente. Entretanto, o meu cérebro não a conhecia como um neologismo. Achei que “intitulável” significava “o que não se pode titular”. Equivoquei-me. A bela palavra não estava presente nos mais modernos dicionários. O mal já estava feito. O blog vingou e a nova palavra talvez um dia também logre o êxito de ser reconhecida pelos imortais. Quanto a escrever, como diria Sofocleto - pseudônimo de Luis Felipe Algell de Lama, humorista peruano -, é apenas uma maneira de falar sem que nos interrompam. Aqui eu tenho plena liberdade. Escrever é um ato de liberdade. Com o teclado eu posso tudo! A escrita me proporciona isso. Não só a mim, mas a todos. É como diz o fenomenológico José Saramago: somos todos escritores; só que uns escrevem, outros não. O ato de escrever tem como finalidade deixar uma marca. Um sinal permanente. E fazê-lo não é tão simples. Wander Soares, presidente da Abrelivros, frisou bem ao dizer que “Quem não lê não escreve”. Daí decorre que para escrever é necessário uma disciplina recheada de exercícios de leitura. Por isso, exijo de mim mesmo coerência, contextualização, ortografia, objetividade, clareza, concisão. São árduas tarefas, nem sempre muito bem realizadas. Os frutos estão se aperfeiçoando. Não posso parar de escrever. Sei que como Roland Barthes estou sacudindo o mundo. Alguém vai ser salvo com o meu texto; aprendi isso com a inolvidável Clarice Lispector. Caso contrário, as minhas palavras salvarão a mim mesmo. Sim, pois escrevo pura e simplesmente por prazer.O que estou fazendo agora, ao criar esse texto, me aquieta a alma, satisfaz o meu ego e me dá uma leve sensação de eternidade. Por todas essas razões eu escrevo. E não me canso. O INTITULÁVEL é hoje o meu veículo. E ele continuará sendo um instrumento de explosão de minha ansiedade literária e jornalística e um meio de veiculação do conhecimento e da informação. Findo esta postagem comemorativa com uma belíssima citação de Ledo Ivo, um poeta, romancista e ensaísta alagoano. Ela demonstra que nós, escritores e seguidores do INTITULÁVEL, somos realmente os melhores!


“Uns escrevem para salvar a humanidade ou incitar lutas de classes, outros para se perpetuar nos manuais de literatura ou conquistar posições e honrarias. Os melhores são os que escrevem pelo prazer de escrever."

Comentários

Analu disse…
Bom comecei a escrever sobre o post do Efeito Borboleta.. mas o blogger atualizou sozinho, não salvou o que eu tinha escrito, eu estava atrasada enfim.. acabei não comentando!
Vi no readder uma atualização do intitulável.. ahaahah abri e vi uma foto de um gordinho apertado numa camisa do corinthias.. Nem li!

Mas amei tudo o que escreveu hoje.. toda essa paixão pela palavra! Todo o seu dom e facilidade com a escrita.. as citações oportunas! Um conjunto de 99% de coisas com as quais eu partilho e concordo.. "Com os vocábulos espanto a dor, celebro o amor, cultivo a alegria e descrevo a vida."
Devo admitir que comecei um blog quase que única e exclusivamente por isso: "quanto a escrever, como diria Sofocleto - pseudônimo de Luis Felipe Algell de Lama, humorista peruano -, é apenas uma maneira de falar sem que nos interrompam."..

Anda tudo muito corrido, quase não tenho tempo pra escrever, ler ou comentar.. mas vou continuar a vir aqui, é sempre uma leitura agradável (exceto pelo gordinho do post anterior).. Só o que me resta dizer, é que continue sempre apaixonado pelas letras, e passando a paixão pra cada uma das palavras que escreve.. aah, e parabéns pelo quinquagésimo texto do intitulável.. e que muitos mais venham por aí!

Beijo ;*
Rafael França disse…
O gosto pela escrita, infelizmente, está presente numa pequena parcela da população brasileira. O seu texto foi, também, um convite aos cidadãos que não têm, na leitura e na escrita, práticas constantes em seus dias: você caprichou nas palavras; expôs uma retórica de primeira linha. Então resta-me apenas agradecer às pessoas que nos acompanham, que participam e que fazem deste blog um endereço cada vez mais interessante. Os cinquenta textos do "intitulável" são frutos de um processo gradual de interação que instalamos aqui: não há como negar que as pessoas que nos prestigiam são motivadoras indispensáveis para a nossa prazerosa escrita. O intitulável é democrático, controverso, não tem bandeiras fixas e se permite renovar-se diariamente. E eu faço parte disto, com prazer.

RF
Gabriela disse…
Já pedindo desculpas pela ausência, queria com as minhas humildes palavras parabenizar esse texto.

Escrever é o dom. E Tiago que é um verdadeiro 'mago' das palavras me surpreende com esse texto que pra mim é um dos melhores postados até hoje.

Texto perfeito. Sugiro até que o nome do blog mude de 'intitulável' para 'indescritível', pois realmente me faltam palavras para descrever e elogiar a sua escrita.

Gabriela =D
Quéren disse…
Pra ser bem sincera, esse foi o melhor texto do blog, não por ser o quinquagésimo, não por ter sido meu mano o autor, somente por causa do tema. Amo ver o quanto vcs crescem a cada dia, e escrevem cada vez melhor, amo ler, principalmente textos que falam da nossa vivência, do cotidiano. Eu também gosto de escrever. Já escrevi diários, um começo fantástico pra quem não tem semântica, ortografia, coesão...perfeitos, bons. O gosto de ler partiu da tentativa de conhecer, curiosidade, descoberta. Pra mim, só escreve bem quem lê muito. E isso é nítido nesse blog.
Ovaciono vocês, todos que ajudam neste blog.
Parabéns.
Gabriel França disse…
Me sinto cada vez mais honrado em participar dessa equipe de feras, que faz do blog um verdadeiro sucesso. O 50º texto do INTITULÁVEL foi, na verdade, um grande presente. O maestral Tiago se superou mais uma vez, escrevendo esse excelente texto, que para muitos, e tambem para mim, trata-se do melhor texto do blog. O INTITULÁVEL tem sido, pra mim, uma experiência inesquecível. Tenho aprendido muito aqui.
O prazer pela escrita é realmente sensacional. Tiago e Rafael fazem isso com muita sabedoria.
Tiago, seus textos, com os pontos contínuos, são simplesmente deliciosos de serem lidos.
Agradeço à todos que participam direta ou indiretamente do blog, e espero que possamos melhorar cada vez mais!
Parabéns ao INTITULÁVEL!
E que venham mais 50 textos!

Um grande abraço!
Anônimo disse…
Vocês, meninas, me deixam sem jeito: acho que estão exagerando! Estou muito longe ainda de textos perfeitos e de habilidade extrema com os vocábulos. Reconheço meus méritos, mas sei que ainda tenho muito que melhorar. O INTITULÁVEL também! Escrever não é nenhum icho de sete cabeças. Mas também não é nada simplório. Cinquenta textos foi a primeira meta alcançada e estou orgulhoso por isso. Quero agradecer a todos que colaboraram escrevendo, lendo e comentando. Não desejo fama, nem reconhecimento, quero apenas ter o prazer de ver os meus textos serem lidos e avaliados por vocês. Um MUITO ORIGADO a todos vocês! E um forte abraço...

Tiago França
Joás Designer disse…
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Eduardo disse…
Amei o texto! O final foi simplesmente lindo, sabia? Isso eu venho falado a muita gente mas ninguém entende que saber escrever é algo além de uma técnica, é uma dádiva! O que seria da humanidade sem a leitura e a escrita hoje em dia?

Olha, não tenho nenhum post sobre isso, nem escrevo muito poesia ou textos no meu blog, mas se der uma passadinha lá no meu blog, agradeço por toda opinião sincera que eu recebo (risos)!

Abraços,
Edu

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