A arte de transliterar o que se fala em vernáculo sempre me fascinou. Os livros foram uma paixão de adolescência. Conheci o mundo em que hoje vivo através deles. Eu era voraz! Queria conhecer a literatura completa de cada autor, a antologia inteira de cada prosador, as poesias completas de cada trovador. Aos poucos, me imiscuí no mundo das palavras. Era um caminho sem volta. Elas me seduziram, me atraíram e hoje me dominam. A minha rotina estressante sempre me permitiu alguns momentos de subterfúgio. Quase sempre através da escrita. Com os vocábulos espanto a dor, celebro o amor, cultivo a alegria e descrevo a vida. Essa paixão inata aflorou definitivamente com a idéia de um blog. Era uma forma de colocar o dom em prática, utilizando uma das benesses da tecnologia moderna. Foi tudo abrupto. Nada planejado. Os passos para a criação do blog eram simplórios. Mas faltava um nome! Pensei em vários. Mas todos eles restringiam. E eu queria expandir. Queria um espaço para falar de tudo, ou melhor, para escrever sobre tudo. A palavra “intitulável” já existia em minha mente. Entretanto, o meu cérebro não a conhecia como um neologismo. Achei que “intitulável” significava “o que não se pode titular”. Equivoquei-me. A bela palavra não estava presente nos mais modernos dicionários. O mal já estava feito. O blog vingou e a nova palavra talvez um dia também logre o êxito de ser reconhecida pelos imortais. Quanto a escrever, como diria Sofocleto - pseudônimo de Luis Felipe Algell de Lama, humorista peruano -, é apenas uma maneira de falar sem que nos interrompam. Aqui eu tenho plena liberdade. Escrever é um ato de liberdade. Com o teclado eu posso tudo! A escrita me proporciona isso. Não só a mim, mas a todos. É como diz o fenomenológico José Saramago: somos todos escritores; só que uns escrevem, outros não. O ato de escrever tem como finalidade deixar uma marca. Um sinal permanente. E fazê-lo não é tão simples. Wander Soares, presidente da Abrelivros, frisou bem ao dizer que “Quem não lê não escreve”. Daí decorre que para escrever é necessário uma disciplina recheada de exercícios de leitura. Por isso, exijo de mim mesmo coerência, contextualização, ortografia, objetividade, clareza, concisão. São árduas tarefas, nem sempre muito bem realizadas. Os frutos estão se aperfeiçoando. Não posso parar de escrever. Sei que como Roland Barthes estou sacudindo o mundo. Alguém vai ser salvo com o meu texto; aprendi isso com a inolvidável Clarice Lispector. Caso contrário, as minhas palavras salvarão a mim mesmo. Sim, pois escrevo pura e simplesmente por prazer.O que estou fazendo agora, ao criar esse texto, me aquieta a alma, satisfaz o meu ego e me dá uma leve sensação de eternidade. Por todas essas razões eu escrevo. E não me canso. O INTITULÁVEL é hoje o meu veículo. E ele continuará sendo um instrumento de explosão de minha ansiedade literária e jornalística e um meio de veiculação do conhecimento e da informação. Findo esta postagem comemorativa com uma belíssima citação de Ledo Ivo, um poeta, romancista e ensaísta alagoano. Ela demonstra que nós, escritores e seguidores do INTITULÁVEL, somos realmente os melhores!
“Uns escrevem para salvar a humanidade ou incitar lutas de classes, outros para se perpetuar nos manuais de literatura ou conquistar posições e honrarias. Os melhores são os que escrevem pelo prazer de escrever."
Comentários
Vi no readder uma atualização do intitulável.. ahaahah abri e vi uma foto de um gordinho apertado numa camisa do corinthias.. Nem li!
Mas amei tudo o que escreveu hoje.. toda essa paixão pela palavra! Todo o seu dom e facilidade com a escrita.. as citações oportunas! Um conjunto de 99% de coisas com as quais eu partilho e concordo.. "Com os vocábulos espanto a dor, celebro o amor, cultivo a alegria e descrevo a vida."
Devo admitir que comecei um blog quase que única e exclusivamente por isso: "quanto a escrever, como diria Sofocleto - pseudônimo de Luis Felipe Algell de Lama, humorista peruano -, é apenas uma maneira de falar sem que nos interrompam."..
Anda tudo muito corrido, quase não tenho tempo pra escrever, ler ou comentar.. mas vou continuar a vir aqui, é sempre uma leitura agradável (exceto pelo gordinho do post anterior).. Só o que me resta dizer, é que continue sempre apaixonado pelas letras, e passando a paixão pra cada uma das palavras que escreve.. aah, e parabéns pelo quinquagésimo texto do intitulável.. e que muitos mais venham por aí!
Beijo ;*
RF
Escrever é o dom. E Tiago que é um verdadeiro 'mago' das palavras me surpreende com esse texto que pra mim é um dos melhores postados até hoje.
Texto perfeito. Sugiro até que o nome do blog mude de 'intitulável' para 'indescritível', pois realmente me faltam palavras para descrever e elogiar a sua escrita.
Gabriela =D
Ovaciono vocês, todos que ajudam neste blog.
Parabéns.
O prazer pela escrita é realmente sensacional. Tiago e Rafael fazem isso com muita sabedoria.
Tiago, seus textos, com os pontos contínuos, são simplesmente deliciosos de serem lidos.
Agradeço à todos que participam direta ou indiretamente do blog, e espero que possamos melhorar cada vez mais!
Parabéns ao INTITULÁVEL!
E que venham mais 50 textos!
Um grande abraço!
Tiago França
Olha, não tenho nenhum post sobre isso, nem escrevo muito poesia ou textos no meu blog, mas se der uma passadinha lá no meu blog, agradeço por toda opinião sincera que eu recebo (risos)!
Abraços,
Edu