Ela era uma adolescente comum. Na verdade, estava ficando jovem. Concluíra o seu Ensino Médio. Tinha alguns cursos profissionalizantes em seu currículo. Decidiu correr atrás do seu primeiro emprego. Não queria se submeter como mão-de-obra barata, por isso queria um emprego de carteira assinada. A luta era diária. Diversas viagens perdidas. Muitos currículos deixados em agências. De repente, um telefonema. Mas a euforia desmoronava depois das provas e entrevistas. Parecia ser impossível fazer parte da PEA (População Economicamente Ativa). Houve novas oportunidades. Mais entrevistas. Nada! Uma vez, ela chegou perto. Passou na entrevista. Foi selecionada. Pediram a documentação. Abriu a conta bancária. Parecia que enfim ela iria conseguir realizar o seu desejo. Mas, não. Frustração. Decepção. Enrolaram-na. Deixaram-na no aguardo. Não voltaram a chamá-la. Ela parecia não acreditar em tudo aquilo. Ela já tinha 22 anos. Queria estar livre. Ser independente. Ter seu salário.
O primeiro emprego dela, enfim, chegou. E foi da forma mais comum hoje em dia: indicação! Uma amiga trabalhava por lá e levou seu currículo. Foi chamada. Uma demora danada no dia da entrevista. Estavam fazendo ela de boba novamente? Pensou em desistir. Mas resolveu esperar. Foi selecionada. E dessa vez foi para valer. Ela agora era uma promotora de vendas. Sua função: atrair os consumidores, para que eles fizessem um cartão de crédito. Tudo era novo e maravilhoso. Trabalharia seis dias na semana. Sete horas e vinte minutos diários que perfaziam as constitucionais quarenta e quatro horas semanais. Não gostou muito do seu horário. Mas teve de se adaptar. Teve que se acostumar também com o cansaço, com as dores nas pernas, com o estresse rotineiro. E tinha mais. Tinha pressão hierárquica. Era preciso mostrar serviço, dar produção. Mas era uma loucura. Aquilo ali independia da força de vontade dela. Ela podia fazer mil consultas, mas se os clientes tivessem restrições financeiras, ou fossem novatos no mercado financeiro, as propostas eram negadas. Assim, no final de um dia muito cansativo, não haveria uma boa produção. Apenas o medo; o inquietante temor da demissão.
Em menos de dois meses de trabalho: um susto. Na volta para casa, ela se descuidou. Na ânsia para não perder o caro e esporádico transporte coletivo, ela tropeçou ao subir os degraus da traseira do ônibus. Seu pé esquerdo aparentemente torceu. Aquilo doeu. As lágrimas vieram ao seu rosto. Encontrou uma amiga e foram juntas a uma clínica com atendimento especializado para traumas. Seu pé foi engessado. Não era uma simples torção, mas havia ocorrido uma pequena fratura. Estava de atestado por quinze dias. Ao fim desse período, não houve melhora. Seria necessário entrar em licença, receber um auxílio doença-acidentário do INSS, já que o seu acidente, qualificado como “de trajeto”, era equivalente ao acidente de trabalho. Toda a burocracia ficou por conta da empresa dela. Mas eles não fizeram o que deveria ser feito. Alegaram não conseguir. Aquela trabalhadora começou a sentir-se impotente frente aos seus superiores. Ela não sabia lidar com aquela situação. Foi orientada a entrar na justiça trabalhista para exigir os seus direitos. Ao final de um mês sem trabalhar efetivamente, o seu salário havia sido depositado. No segundo mês, mais uma vez ela teve salário. Ela se empolgou. Sua empresa estava sendo generosa. Estava fazendo fisioterapia. Sua empresa avisou-a que iria começar a dar-lhe faltas. Mas ela ainda não tinha condições de voltar. Estava angustiada, mas não queria perder o seu emprego, tão duramente conquistado. Depois de duas semanas, ela, ainda sem condições, retornou ao trabalho.
Ela teve medo de acionar a justiça. Sabia da morosidade. No Brasil, infelizmente, além da justiça tardar, muitas vezes, ela falhava e não respeitava o principio da proteção do trabalhador, dando, na maioria das vezes, ganho de causa aos empresários. Voltou a suas atividades normais. O estresse retornou. E, aos poucos, ele se agravou. O primeiro mês que se seguiu não teve salário. Descontos de faltas. O seu salário chegou a ser negativo, o que ocasionou um déficit em sua conta bancária, liquidado efetivamente pelo limite bancário oferecido pelo banco, em troca, obviamente, de uma altíssima taxa de juros. No mês seguinte, mais uma devastação no seu contracheque. Aquilo tudo parecia impossível. A piada maior era que no “Banco de Horas” ela continuava devendo. E ela continuava se matando de trabalhar. Lutando para fazer mais cartões. Querendo ter comissão e mostrar serviço. Ela foi chegando ao seu limite. O seu pé não estava completamente curado. A sua saúde estava debilitada. Ela estava sentindo na pele a vida de um verdadeiro trabalhador. Entendeu que não existe generosidade, quando se trata de empresa. O patrão tem sempre em mente o lucro e para tal ele precisa explorar o operário. Ela deu seus primeiros chiliques. Mas não foi prontamente atendida. Pouca coisa havia sido esclarecida. Aquilo tudo parecia um inferno. Eles são todos iguais: os empresários, os banqueiros, os donos-de-terra etc. São todos capitalistas! Vivendo com um patrimônio exuberante graças à fome no mundo e a subserviência de milhões e milhões de trabalhadores.
Distante dali havia ecos de uma insurreição. A revolução bolivariana, como estava sendo chamada, estava acontecendo em países latino-americanos. Mas aquela trabalhadora brasileira não entendia muito daquilo. Havia pouco tempo para assistir jornais, para ler e para estudar. Aquilo tudo parecia ser muito bonito, mas parecia distante. Ela, como muitos, estava revoltada, triste e fatigada. Mas também estava, infelizmente, alienada. Mais uma vez se curvou. Posicionou-se subservientemente. Continuou a viver a sua vida de trabalhador.
O primeiro emprego dela, enfim, chegou. E foi da forma mais comum hoje em dia: indicação! Uma amiga trabalhava por lá e levou seu currículo. Foi chamada. Uma demora danada no dia da entrevista. Estavam fazendo ela de boba novamente? Pensou em desistir. Mas resolveu esperar. Foi selecionada. E dessa vez foi para valer. Ela agora era uma promotora de vendas. Sua função: atrair os consumidores, para que eles fizessem um cartão de crédito. Tudo era novo e maravilhoso. Trabalharia seis dias na semana. Sete horas e vinte minutos diários que perfaziam as constitucionais quarenta e quatro horas semanais. Não gostou muito do seu horário. Mas teve de se adaptar. Teve que se acostumar também com o cansaço, com as dores nas pernas, com o estresse rotineiro. E tinha mais. Tinha pressão hierárquica. Era preciso mostrar serviço, dar produção. Mas era uma loucura. Aquilo ali independia da força de vontade dela. Ela podia fazer mil consultas, mas se os clientes tivessem restrições financeiras, ou fossem novatos no mercado financeiro, as propostas eram negadas. Assim, no final de um dia muito cansativo, não haveria uma boa produção. Apenas o medo; o inquietante temor da demissão.
Em menos de dois meses de trabalho: um susto. Na volta para casa, ela se descuidou. Na ânsia para não perder o caro e esporádico transporte coletivo, ela tropeçou ao subir os degraus da traseira do ônibus. Seu pé esquerdo aparentemente torceu. Aquilo doeu. As lágrimas vieram ao seu rosto. Encontrou uma amiga e foram juntas a uma clínica com atendimento especializado para traumas. Seu pé foi engessado. Não era uma simples torção, mas havia ocorrido uma pequena fratura. Estava de atestado por quinze dias. Ao fim desse período, não houve melhora. Seria necessário entrar em licença, receber um auxílio doença-acidentário do INSS, já que o seu acidente, qualificado como “de trajeto”, era equivalente ao acidente de trabalho. Toda a burocracia ficou por conta da empresa dela. Mas eles não fizeram o que deveria ser feito. Alegaram não conseguir. Aquela trabalhadora começou a sentir-se impotente frente aos seus superiores. Ela não sabia lidar com aquela situação. Foi orientada a entrar na justiça trabalhista para exigir os seus direitos. Ao final de um mês sem trabalhar efetivamente, o seu salário havia sido depositado. No segundo mês, mais uma vez ela teve salário. Ela se empolgou. Sua empresa estava sendo generosa. Estava fazendo fisioterapia. Sua empresa avisou-a que iria começar a dar-lhe faltas. Mas ela ainda não tinha condições de voltar. Estava angustiada, mas não queria perder o seu emprego, tão duramente conquistado. Depois de duas semanas, ela, ainda sem condições, retornou ao trabalho.
Ela teve medo de acionar a justiça. Sabia da morosidade. No Brasil, infelizmente, além da justiça tardar, muitas vezes, ela falhava e não respeitava o principio da proteção do trabalhador, dando, na maioria das vezes, ganho de causa aos empresários. Voltou a suas atividades normais. O estresse retornou. E, aos poucos, ele se agravou. O primeiro mês que se seguiu não teve salário. Descontos de faltas. O seu salário chegou a ser negativo, o que ocasionou um déficit em sua conta bancária, liquidado efetivamente pelo limite bancário oferecido pelo banco, em troca, obviamente, de uma altíssima taxa de juros. No mês seguinte, mais uma devastação no seu contracheque. Aquilo tudo parecia impossível. A piada maior era que no “Banco de Horas” ela continuava devendo. E ela continuava se matando de trabalhar. Lutando para fazer mais cartões. Querendo ter comissão e mostrar serviço. Ela foi chegando ao seu limite. O seu pé não estava completamente curado. A sua saúde estava debilitada. Ela estava sentindo na pele a vida de um verdadeiro trabalhador. Entendeu que não existe generosidade, quando se trata de empresa. O patrão tem sempre em mente o lucro e para tal ele precisa explorar o operário. Ela deu seus primeiros chiliques. Mas não foi prontamente atendida. Pouca coisa havia sido esclarecida. Aquilo tudo parecia um inferno. Eles são todos iguais: os empresários, os banqueiros, os donos-de-terra etc. São todos capitalistas! Vivendo com um patrimônio exuberante graças à fome no mundo e a subserviência de milhões e milhões de trabalhadores.
Distante dali havia ecos de uma insurreição. A revolução bolivariana, como estava sendo chamada, estava acontecendo em países latino-americanos. Mas aquela trabalhadora brasileira não entendia muito daquilo. Havia pouco tempo para assistir jornais, para ler e para estudar. Aquilo tudo parecia ser muito bonito, mas parecia distante. Ela, como muitos, estava revoltada, triste e fatigada. Mas também estava, infelizmente, alienada. Mais uma vez se curvou. Posicionou-se subservientemente. Continuou a viver a sua vida de trabalhador.
Comentários
POde parecer desastroso ler o que alguém falou sobre o seu primeiro emprego dessa forma, mas não se preocupem...as coisas só tendem a piorar e isso de alguma forma pode ser divertido.
E também vale lembrar que isso é a primeira experiência,meu trabalho vai chegar e em breve estarei na VIVO, comemorando,rsrs.
Abraços.