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MENINA DE OURO


Os leitores mais assíduos do INTITULÁVEL devem ter notado que a 10ª posição da lista dos melhores filmes foi alterada. Antes lá constava o dinâmico e efusivo “Efeito Borboleta”. Entretanto, ele foi substituído, acertadamente, pelo dramático longa metragem “Menina de Ouro”. Seria, com certeza, uma enorme injustiça manter esse filme fora desse arrolamento. Além de ter conquistado 4 oscars e ter um roteiro surpreendente, o filme conta com um show de representação da pouco conhecida Hilary Swank e dos veteranos Clint Eastwood e Morgan Freeman. O drama é bem bolado. A história começa empolgante. Acostumados aos filmes medíocres, esperamos o desfecho comum e ansiamos pela melhora abrupta da lutadora Maggie Fitzgerald (Hillary Swank), desejando que ela possa voltar a lutar e possa se vingar. Mas o roteirista segue outro caminho. O filme fica denso e triste. Ele comove pela dor de Maggie, pelo descaso de sua louca família e pelo amor fraterno de Frankie Dunn (Clint Eastwood) à Maggie. Ele nos faz refletir, principalmente sobre o direito à vida. Daí emerge um tema atual e muito controvertido: a eutanásia. Este tema envolve questões de bioética e biodireito, sendo juridicamente distinto de país para país. No Brasil, a Constituição Federal assegura o direito à vida, que é irrenunciável. E o Código Penal classifica a eutanásia como homicídio, cabendo as devidas cominações legais. Existem correntes que não concordam com estes princípios e lutam por mudanças jurídicas, que permitam, de alguma forma, a eutanásia. O assunto é realmente complicado e por isso vem sido debatido e discutido por longas décadas. O que se segue está isento de imparcialidade, ou seja, é a minha opinião pessoal. A vida é nosso bem maior, doação de Deus. Não deve ser eliminada por deliberação de um médico ou de um parente, qualquer que seja a ocasião, pois o que é crônico hoje, amanhã poderá não sê-lo e uma anomalia incurável poderá ser reversível na semana seguinte.Afinal, se a sociedade brasileira não acolhe a pena de morte, é óbvio que esta mesma sociedade não aceita que se disponha da vida de um inocente, para poupar o sofrimento ou as despesas de seus parentes. Para os mais desatualizados no cinema, fica o convite para assistir ao filme. E para os que desconhecem a temática abordada, o Google, com certeza, será uma ótima ferramenta. Para ter uma opinião bem formada é preciso conhecer detalhadamente os dois lados da moeda e ter uma base sólida para posicionar-se. Então, mãos a obra: assistam o filme, reflitam, pesquisem e não esqueçam de comentar para fomentar a nossa discussão!

Comentários

Jaque disse…
Uau... Não sei quando vou parar de me surpreender. Tiago, mais uma vez um excelente texto! Assisti o filme "Menina de Ouro". Ótimo. Com certeza está na minha lista pessoal de 'os melhores'.
Quanto ao assunto aboradado... Realmente é muuito complicado comentá-lo pois, além da discussão tanto na bioética quanto no biodireito, tem também a opinião pessoal de cada um. Concordo plenamente com você neste ponto: "A vida é nosso bem maior, doação de Deus. Não deve ser eliminada por deliberação de um médico ou de um parente, qualquer que seja a ocasião, pois o que é crônico hoje, amanhã poderá não sê-lo e uma anomalia incurável poderá ser reversível na semana seguinte". Exatamente. Ninguém tem o direito de decidir por você, mas se eu estivesse em tal situação, escolheria morrer. E acho que se a pessoa doente decide, como foi o caso no filme, assim deve ser feito. Apesar da vida ser uma dádiva divina, não podemos imaginar a dor física e emocional da pessoa em semelhante situação.
Pode-se ocorrer qualquer tipo de pensamento, desânimo e em muitos casos depressão. EU acho que é direito do doente decidir se quer ou não continuar naquele estado. E penso que deveria ter um meio de deixar um parente avisado para casos em que a pessoa não pudesse falar.
Há também a questão religiosa envolvida. Esta, pesa muito em quase todas as decisões quando o assunto é VIDA.
Bom, acho que vou terminar aqui porque do jeito que eu me expresso mal, passaria o resto da noite comentando.
Mais uma vez, PARABÉNS pelo texto!
Rafael França disse…
Jaque, você não se expressou mal no seu comentário mais recente. Pelo contrário, parabenizo-lhe pelas palavras e agradeço-lhe pela presença solidária em tempo de folia. E o meu grande amigo Tiago deu mais um show: esta não foi a primeira vez em que ele buscou grandes polêmicas em grandes filmes. O retrospecto do blog e a habilidade do nosso principal colaborador contribuem para uma nova modalidade de textos: temas que promovem ampla discussão na sociedade, ilustrados com classe pelo cinema. Embora ache que posicionar-se sobre o tema em questão seja extremamente delicado, sou a favor da prática, desde que seja respeitada a vontade do enfermo e que as circunstâncias da sua enfermidade o remetam ao estado terminal de vida. A eutanásia não deve ser comparada com o suicídio ou com o homicídio. Ter essa distinção em mente é, em primeiro plano, um fator determinante para entender a contenda. As particularidades dos casos, quando pautadas em níveis de sofrimento, devem transcender os apelos religioso, moral e constitucional e tornarem-se uma questão de escolha individual e familiar.

RF

PS.: Aos que optarem pelo silêncio na página de comentários em relação à temática, uma sugestão: votem na nossa enquete sobre o tema; ela fica à direita dos textos publicados no site.
Joás Designer disse…
Não tenho ainda um comentário concreto em relação ao filme, pois fiquei meio que triste porque "tiraram" o 'Efeito Borboleta' da lista. Mas, tudo bem. sobre a eutanásia: Sou contra. Acho que a vida é um dom de Deus, um presente. Temos liberdade pra quase tudo na vida e ainda queremos mandar na vida?! A vida só pode ser tirada por aquele que a deu, Deus, o único que tem esse poder. Não interfiramos no destino natural da vida humana, portanto. Vei!!! o texto ta massa!! só que eu vou fazer um abaixo-assinado pra o "Efeito Borboleta" reaver seu lugar na lista dos melhores.
Gabriel França disse…
Notei a mudança na posição dos filmes, e para ser bem sincero, não gostei! Eu gosto muito do filme 'Efeito Borboleta' e acho que ele tem lugar entre os 10 melhores do INTITULÁVEL. Bem, em relação à eutanásia, eu sou contra. Somente nós temos o direito de decidir pela nossa própria vida.
Vou assistir o filme depois pra verificar se ele merece realmente a vaga de 'Efeito Borboleta'. Joás, estou com você nesse abaixo-assinado.
Gostei do texto, apesar da mudança feita no top 10 de filmes do INTITULÁVEL.
Valeu, Tiago!
Um abraço à todos!
Analu disse…
O filme é incrível (mesmo preferindo o Efeito Borboleta, pelo qual sou apaixonada, apesar da decepção com o segundo que nem se compara com o primeiro).. admito que a primeira vez que comecei a assistir o 'Menina de Ouro' parei no meio, achei banal.. Mas o final me surpreendeu, quando assisti ao filme todo num outro dia!

Acho absolutamente diferente apoiar ou não pena de morte, de tomar as mesmas decisões sobre eutanásia!
Sabe, eu só não apoio a pena de morte no Brasil, porque além de um sistema educacional falido, nosso sistema penal é uma droga.. Corrupto desde pequenas cadeias, grandes penitenciárias, ao proprio juiz e seu julgamento..
Não se pode condenar à morte aqui, porque não temos capacidade de julgar os reais culpados! Em meias palavras, acredite, só quem morreria, seriam os chamados 'escória da sociedade', os bodes espiatório pra verdadeiros criminosos...

Com a eutanásia não.. sinceramente não queria viver em estado vegetativo, viver pela metade ligada à aparelhos, alheia à tudo o que acontece, e sem poder ser tão ativa quanto um dia fui, ver minha familia ruindo em dívidas (porque manter as pessoas ligadas à aparelhos É REALMENTE CARO), e com o emocional em frangalhos! Preferiria que desligassem os aparelhos.. Até porque quais quer que fossem os avanços na medicina, as sequelas depois disso seriam descomunais.. e não me imagino, acordando depois de 20 anos em coma.. subtamente acordar 20 anos mais velha, não ter visto presidentes, revoluções, avanços tecnológicos, ter perdido etapas da vida.. é muito triste (mesmo aparentemente a pessoa tendo 'ganhado outra oportunidade')!

2 decisões que as pessoas deveriam poder tomar antes de fatalidades, que deveriam tomar desde q já fossem capazes pra não por a família nessa situação.. Escolher por ser ou nao sacrificado em caso de coma irreversível; ou escolher doar ou não os órgãos em caso de mortes cerebrais ou outra forma que possibilite doação!
Evitaria discursões, e julgamentos à cerca da família que é quem hoje toma esa decisão em alguns países!

Não gostei da mudança dos filmes, mas como é uma opção tua! Enfim, adorei o texto, e toda a abrangência dele!
Beeijao ;*
Quéren disse…
Texto de Tiago França?! Descomunal. Formidável. Não quero entrar na questão dos filmes do top 10, minha opnião diverge com a de alguns, mas ambos, tanto o que saiu como o que entrou são bons filmes, não na sequência disposta.
Com relação a eutanásia,sou a favor. Se a situação estivesse sido vivenciada por mim eu iria preferir a morte. Com certeza a vida é um dom. Desperdiçá-la em gozo perfeito de saude mental e física é jogar fora o que Deus nos dá de graça, porém nessa situação, de estado vegetativo,a morte seria o caminho mais correto. Claro, que tudo isso vai do perfil da pessoa. O fato é que não queria estar na situação de decidir pela vida ou morte de alguém.
Textos polêmicos como esse nos fazem pensar na importância das coisas. Esse nos faz pensar sobre a vida.
Abraços a todos.
Anônimo disse…
Quanto à eutanásia, eu mantenho minhas posições, mas aceito as opiniões contrárias. Quanto ao filme, sugiro a Rafael, nosso colaborador e produtor do blog, que faça uma enquete sobre que filme deve sair para Efeito Borboleta retorne, como quer a maioria. Tenham paciência, porque nosso "supervior" tem andado muito lentamente. Mas ele vai voltar ao ritmo dinâmico, assim como o INTITULÁVEL também voltará.

Um abraço a todos

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