Ele era a impaciência em pessoa. Não era defeito de caráter. O mundo hodierno e suas loucas cobranças deixaram-no assim. A doença do século XXI já estava instalada em seu corpo. Todas as suas ações imcompreensivas e intolerantes eram justificadas por uma única palavra, o seu subterfúrgio – o ESTRESSE.
Tudo era muito acelerado. Acordar cedinho. Deglutir rapidamente o desjejum. Beijo na esposa. Beijo nos filhos. Hora de ir pro escritório. Segunda-feira. Qual o carro do rodízio para hoje? Trânsito caótico. Engarrafamento. Xingamentos. Vou chegar atrasado. Melhor começar a trabalhar agora. Pega o celular. Vai dirigindo e conversando com fornecedores ao celular. De repente um som estranho. Ah, não acredito: MULTA. O dia inteiro de trabalho foi um inferno. Problemas. Desgaste. Melhor ficar até mais tarde no escritório. Com sua agonia, ele já tinha magoado muita gente ali. Pelo menos, de noite todos já teriam ido e ele trabalharia em paz. Não sabia mais trabalhar em equipe. Chegou em casa tarde. Sua esposa reclamou. Por que não ligou? Ih, não me chateia. Brigas. Já basta o meu dia inteiro. Choramingos. Os filhos já dormindo. Quanto tempo não via seus filhos direito. Só TRABALHO. E nos fins de semana, ele tinha de confessar, não tinha muita paciência para aturar seus anjinhos de 4 e 6 anos.
As coisas só faziam se complicar. Teve mais problemas no trabalho. Não teve paciência para aturar alguns funcionários. O clima estava terrível. O seu superior hierárquico teve de intervir. Não quis demiti-lo. Ele era um excelente profissional. Era um momento difícil, pensava ele. Resolveu dar-lhe férias. Ele relutou. Foi obrigado a aceitar. Viaje, fuja deste mundo louco, você precisa se renovar - esbravejou o chefe. Ele realmente não estava bem. Sentiu um fio de depressão surgir no seu recôndito. Foi para casa. A esposa amou a idéia. Incentivou-o a viajar. Sozinho. Ela não poderia ir. Porque todos ao meu redor estão me abandonando? - se perguntava ele. Sou realmente insuportável? A tristeza estava batendo à sua porta.
As suas poupanças foram gastas para que ele tivesse uma semana de descanso inesquecível. Uma viagem de turista. Iria conhecer as belezas extraordinárias do litoral nordestino. Na terceira noite de viagem, ele ainda estava entediado. Não tinha conseguido aproveitar nada. Estava irritadiço. Tudo o estressava. Nada o agradava. Chegou a pensar em voltar para casa. Deitou para dormir, mas a insônia de todos os dias ali também estava. Decidiu que o dia seguinte seria o último. Era a última chance que ele daria a natureza para curá-lo.
Acordou indisposto como sempre. Depois de reclamar do desjejum, do tempo e da roupa, pegou o roteiro de viagem para averigüar suas possibilidades. Ficou surpreso ao ver que a aventura do dia não seria nas praias, como havia sido desde o começo. Eles iriam seguir uma trilha até a Cachoeira da Paciência. O nome era sugestivo, mas ele não acreditava em superstições. A caminhada dentro da mata não estava sendo agradável. Ele queria chegar logo na tal cachoeira. Não pelo desejo de conhecê-la, mas pelo enorme calor que sentia. Além de querer se livrar daqueles mosquitos inconvenientes que se deliciavam do repelente ineficaz, posto previamente em seus braços. Depois de quase meia hora de caminhada de muita impaciência, eles se aproximaram da cachoeira. Já era possível ouvir o som das águas. Os turistas que com ele estavam começaram a preparar as câmeras digitais para registrar o espetáculo natural. Ele só queria banhar-se. Tirar aquele repelente idiota e refrescar o seu corpo daquele calor insuportável.
(EXPLOSÃO) A surpresa que se fez presente em seus olhos foi simplesmente inolvidável. Era uma linda cachoeira. De uma beleza exuberante. Ele já havia visitado as cataratas do Iguaçu e do Niágara. Mas nada se comparava a aquilo que seus olhos estavam a contemplar. Era uma simples queda d´água, mas a água límpida e sonora tinha um imã natural que o atiçava. O verde que circundava as águas era mais vivo, recompensador. Havia flores que pareciam imarcescíveis. Ele não resistiu e foi logo banhar-se. De súbito aquele calor insuportável desapareceu. A água possuía um frescor incomensurável. Era uma miscelânia de sensações. De repente ele sentiu paz. Só ouviu o canto dos pássaros nativos dali e o som das águas a deslizar. E um vento benfazejo a arejar o seu pensamento. Cerrou os olhos e começou a meditar. Há muito tempo não se sentia em paz. Era como se uma paciência imane tivesse invadido todo o seu ser. Ele estava tomado por aquela “magia natural”. Refletiu em todas as suas ações. Ele iria ser diferente. Seria mais tolerante. Mais bondoso. Mais paciente. Teria a paciência de Jó. Não havia mais estresse ou irritação. Tudo parecia tão claro e tão factível. Após alguns minutos de êxtase espiritual, percebeu que apenas ele era participante desse momento incomum. Os outros turistas apenas fotografavam, comentavam e já se preparavam para ir embora. Para ele, aquilo tudo era maravilhoso e providencial. Ele descobriu que precisava apenas banhar-se nas águas da Paciência para transformar todo o seu estilo de vida. Pensou que estava sonhando. E despertou confirmando as suas últimas expectativas. Estava no quarto do hotel. O dia de amanhã é que seria a sua última chance. Ao amanhecer, ele arrumou suas malas e voltou para os seus. Ele estava curado.
Tudo era muito acelerado. Acordar cedinho. Deglutir rapidamente o desjejum. Beijo na esposa. Beijo nos filhos. Hora de ir pro escritório. Segunda-feira. Qual o carro do rodízio para hoje? Trânsito caótico. Engarrafamento. Xingamentos. Vou chegar atrasado. Melhor começar a trabalhar agora. Pega o celular. Vai dirigindo e conversando com fornecedores ao celular. De repente um som estranho. Ah, não acredito: MULTA. O dia inteiro de trabalho foi um inferno. Problemas. Desgaste. Melhor ficar até mais tarde no escritório. Com sua agonia, ele já tinha magoado muita gente ali. Pelo menos, de noite todos já teriam ido e ele trabalharia em paz. Não sabia mais trabalhar em equipe. Chegou em casa tarde. Sua esposa reclamou. Por que não ligou? Ih, não me chateia. Brigas. Já basta o meu dia inteiro. Choramingos. Os filhos já dormindo. Quanto tempo não via seus filhos direito. Só TRABALHO. E nos fins de semana, ele tinha de confessar, não tinha muita paciência para aturar seus anjinhos de 4 e 6 anos.
As coisas só faziam se complicar. Teve mais problemas no trabalho. Não teve paciência para aturar alguns funcionários. O clima estava terrível. O seu superior hierárquico teve de intervir. Não quis demiti-lo. Ele era um excelente profissional. Era um momento difícil, pensava ele. Resolveu dar-lhe férias. Ele relutou. Foi obrigado a aceitar. Viaje, fuja deste mundo louco, você precisa se renovar - esbravejou o chefe. Ele realmente não estava bem. Sentiu um fio de depressão surgir no seu recôndito. Foi para casa. A esposa amou a idéia. Incentivou-o a viajar. Sozinho. Ela não poderia ir. Porque todos ao meu redor estão me abandonando? - se perguntava ele. Sou realmente insuportável? A tristeza estava batendo à sua porta.
As suas poupanças foram gastas para que ele tivesse uma semana de descanso inesquecível. Uma viagem de turista. Iria conhecer as belezas extraordinárias do litoral nordestino. Na terceira noite de viagem, ele ainda estava entediado. Não tinha conseguido aproveitar nada. Estava irritadiço. Tudo o estressava. Nada o agradava. Chegou a pensar em voltar para casa. Deitou para dormir, mas a insônia de todos os dias ali também estava. Decidiu que o dia seguinte seria o último. Era a última chance que ele daria a natureza para curá-lo.
Acordou indisposto como sempre. Depois de reclamar do desjejum, do tempo e da roupa, pegou o roteiro de viagem para averigüar suas possibilidades. Ficou surpreso ao ver que a aventura do dia não seria nas praias, como havia sido desde o começo. Eles iriam seguir uma trilha até a Cachoeira da Paciência. O nome era sugestivo, mas ele não acreditava em superstições. A caminhada dentro da mata não estava sendo agradável. Ele queria chegar logo na tal cachoeira. Não pelo desejo de conhecê-la, mas pelo enorme calor que sentia. Além de querer se livrar daqueles mosquitos inconvenientes que se deliciavam do repelente ineficaz, posto previamente em seus braços. Depois de quase meia hora de caminhada de muita impaciência, eles se aproximaram da cachoeira. Já era possível ouvir o som das águas. Os turistas que com ele estavam começaram a preparar as câmeras digitais para registrar o espetáculo natural. Ele só queria banhar-se. Tirar aquele repelente idiota e refrescar o seu corpo daquele calor insuportável.
(EXPLOSÃO) A surpresa que se fez presente em seus olhos foi simplesmente inolvidável. Era uma linda cachoeira. De uma beleza exuberante. Ele já havia visitado as cataratas do Iguaçu e do Niágara. Mas nada se comparava a aquilo que seus olhos estavam a contemplar. Era uma simples queda d´água, mas a água límpida e sonora tinha um imã natural que o atiçava. O verde que circundava as águas era mais vivo, recompensador. Havia flores que pareciam imarcescíveis. Ele não resistiu e foi logo banhar-se. De súbito aquele calor insuportável desapareceu. A água possuía um frescor incomensurável. Era uma miscelânia de sensações. De repente ele sentiu paz. Só ouviu o canto dos pássaros nativos dali e o som das águas a deslizar. E um vento benfazejo a arejar o seu pensamento. Cerrou os olhos e começou a meditar. Há muito tempo não se sentia em paz. Era como se uma paciência imane tivesse invadido todo o seu ser. Ele estava tomado por aquela “magia natural”. Refletiu em todas as suas ações. Ele iria ser diferente. Seria mais tolerante. Mais bondoso. Mais paciente. Teria a paciência de Jó. Não havia mais estresse ou irritação. Tudo parecia tão claro e tão factível. Após alguns minutos de êxtase espiritual, percebeu que apenas ele era participante desse momento incomum. Os outros turistas apenas fotografavam, comentavam e já se preparavam para ir embora. Para ele, aquilo tudo era maravilhoso e providencial. Ele descobriu que precisava apenas banhar-se nas águas da Paciência para transformar todo o seu estilo de vida. Pensou que estava sonhando. E despertou confirmando as suas últimas expectativas. Estava no quarto do hotel. O dia de amanhã é que seria a sua última chance. Ao amanhecer, ele arrumou suas malas e voltou para os seus. Ele estava curado.
Comentários
RF
Torcendo pra que tudo dê certo com você, primo!
Grande abraço!