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AMOR DE ADOLESCENTE - A ORIGEM DE TUDO

Ana Clara descobriu que o mundo mudava para ela, quando sentiu o seu corpo infantil se transformar. Quase que instantaneamente, surgiram os mamilos, os pêlos, as curvas, as saliências e o sangue. Sim, o jorrar do sangue da sua menarca. Foi marco inicial da sua adolescência. Não se interessava mais tanto em pular elástico, brincar de casinha ou aprontar com suas priminhas. Ela era uma mulher, aos doze anos. As amizades mudaram. Aos poucos, Clarinha, como era conhecida, começou a andar com as garotas mais desenvolvidas. Era um pouco tímida, mas descobriu um universo maravilhoso. Achou o máximo ser olhada de alto a baixo pelos garotos, quer dizer pelos homens. Seus amigos de treze e quatorze anos foram sendo colocados de escanteio por ela. Clarinha queria se aproximar de garotos mais velhos, que pudessem compreendê-la. Ela queria ser bem vista, queria receber cartinhas, queria ser amada por alguém. As suas novas colegas eram mais experientes. Uma delas já namorava sério um cara a três meses.Outra era muito espevitada. Vivia ficando com caras diferentes e já tinha feito coisas que Clarinha não gostava nem que ela contasse. Clarinha era romântica e sonhava como seu príncipe encantado. Ela achava Flavinho o máximo. Era um menino de dezessete anos, que estava em duas séries a sua frente. Quando passava por ele, sentia o coração acelerar. Ela o olhava discretamente e percebia que ele a cortejava. Algumas vezes, ele a devorava apenas pelo olhar. Ela amava os olhos dele. Estava ficando apaixonada. Queria poder dar o seu primeiro beijo em Flavinho, poder ficar bem juntinha dele. Mas ela ainda não sabia se soltar. Procurou ajuda com suas amigas. Tudo foi armado e em menos de uma semana ela teve o seu primeiro encontro. A sós com ele. Ele foi muito cavalheiro. Conversou com ela e no meio de gracejos e elogios, ele a beijou. Ela amou o seu beijo, amou o quentinho do corpo dele. Ele era o seu príncipe.

Em pouco tempo, Clarinha conheceu um pouco da história de vida do Flavinho. Ele já tinha namorado sua amiga e uma outra garota que ela não conhecia. Mas tudo era passado. Ele a amava de verdade. Começaram a namorar. Foram juntos ao cinema. Passearam no parque. Foram à praia. Clarinha já havia feito treze anos, quando eles completaram três meses de namoro. Estavam bem íntimos. Ele, devagarzinho, tinha se aproveitado de cada deslize dela, e aos poucos, tudo havia passado de apenas beijinhos e conversas. Ela até tentava resistir às carícias dele, mas não podia negar que gostava. Ela achava o máximo quando podia estar com ele sozinha e ele a abraçava com ímpeto, a beijava com intensidade, acariciava o seu corpo. Mesmo assim ela tentava ser forte. Num fim de semana na casa de sua amiga, ela quase não resistiu. Não havia ninguém na casa, além dela e Flavinho. Ele, maliciosamente, havia feito tudo que ela gostava até começar as suas investidas. Ela foi segurando a barra até o momento em que percebeu que não conseguiria suportar. Disse a ele que não queria fazer isso agora.Que ele a entendesse. Você já é uma mulher e eu te amo - ele disse com voz rouca. Por favor, meu amor - ele insistia. Ela acabou cedendo aos seus carinhos e teve ali mesmo a sua primeira vez. Não tinha sido nada anormal. Tudo entre eles estava tão bom. O relacionamento se aprofundou mais e ela se sentia cada vez mais num conto de fadas. Ele voltou a tentar outras vezes. Ela resistiu novamente.Tinha medo de ser descoberta por seus pais. Tinha medo de engravidar. Eram cinco meses de namoro deslumbrantes. E ela não era mais uma adolescente apenas. Era mulher. Mulher feita por Flavinho. Queria ficar com ele para sempre. Casar com ele e formar uma família.

O mundo romântico de Clarinha desabou e se tornou mundo real na noite em que ela e Flavinho completavam seis meses de namoro. Ele queria levá-la ao motel. Ela teve medo. Não quis ir. Disse que seu pai a estava esperando. Ele, meio contrariado, levou-a para casa e despediu-se dela. Meia hora depois, uma amiga de Ana Clara ligou para ela, informando-a de ter visto Flavinho e outra garota juntos. Pior: saindo do motel. A noite foi de insônia e agonia. Ela não conseguia acreditar naquilo. Mas ele dizia que me amava - pensava ela. E eu acreditei - suspirava. Foram muitas lágrimas em seu travesseiro. Ela foi conversar com ele no dia seguinte. Ele negou tudo. Ela chorou, esbravejou, disse que tinha provas. Ele acabou cedendo. Disse que era homem, que estava precisando e que teve de se arranjar com outra. Ela não acreditava no que ouvia. Será que você não se lembra de nada de nós? Pois eu não consigo esquecer - falou Clarinha. Ele não sabia responder. Ela chorou. Recusou o consolo dele. Terminou tudo. Disse que precisava esquecer tudo. Colocar as suas mágoas num navio e afundá-lo no imenso mar. Só assim ela teria paz. Ela entendeu que o amor não existia. O prazer era o que importava para ele. Decidiu se vingar. Não apenas dele. Mas de si mesma. Como havia sido boba! Os seus olhos estavam secos como pedras. As suas mãos estavam quebradas. Houve novos namoros. Relações curtíssimas. Todas intensas. O sexo tornou-se rotina. Com apenas quinze anos, ela era uma mulher experiente. Já havia conhecido muitos homens e iniciado diversos garotos imaturos. Uns no seu primeiro beijo, outros em sua primeira relação. Não havia o amor de adolescente, pelo menos para ela. E divulgava isso aos quatro cantos. Traía seus namorados infantis por homens mais experientes e sentia um enorme prazer. Mas apenas um prazer carnal. Não havia espiritualidade em nada daquilo, pois faltava o amor. E ela havia perdido a capacidade de amar.

Comentários

Gabriel França disse…
Não só na adolescência, mas em qualquer outra fase da vida, nós passamos por situações variadas, no qual aprendemos diversas lições, mesmo que sem querer. Tudo realmente tem sua origem, e neste caso, foi muito bem explicado. O grande amor se transformou em decepção, e assim os sentimentos ruins puderam ser passados a diante.
Valeu, primo, pelo texto!
Muito massa mesmo!
Rafael França disse…
A personagem Clarinha transcende o universo adolescente e insere-se no universo dos seres que, natural e instintivamente, difundem a deslealdade amorosa e a banalização dos laços fraternos entre os homens. Mais um ótimo texto, meu velho! Um abraço,

RF

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