"Estou em cima da terra e debaixo do céu; qualquer lugar pra mim ‘tá’ bom" - disse, certa vez, um cantor brasileiro muito famoso e cheio de filosofias baratas (daquelas compradas e vendidas em qualquer esquina mais próxima de casa). Mas não pude deixar de notar que dentro desta humilde frase reside uma permissão a todos os homens para localizarem - por mais difícil que possa parecer - aos seus semelhantes, em qualquer que seja o espaço físico do planeta.
A mesma condição me dominou durante estas duas semanas - com exceção do clima de "deixa a vida me levar" presente na citação do referido cantor -, enquanto estive ausente do universo “blogueano”: estive, assim como ele, entre a terra e o céu; entretanto, encontrar-se com o meu consciente seria uma frustração para os que tentassem se aproximar. Estava em outra dimensão; vivi uma espécie paradoxal de coma: ele era simultaneamente emocional e intelectual - apenas o meu corpo tinha vida e, dinamicamente, se locomovia por entre os lugares mais agitados e mais cobiçados do mundo. Tive ainda, vale salientar, a propriedade formidável do armazenamento; tudo o que presenciei ficou gravado na memória e agora, após ter reinterpretado os acontecimentos, trago-lhes à tona os fatos mais marcantes destas últimas semanas, num gesto semelhante ao de uma criança que corre afoito em direção aos seus amigos para mostrar-lhes tudo o que aprendera.
Enquanto flashes eram disparados em Washington (EUA), vi, a discursar, um Obama diferente daquele apresentado na tevê: aparentava-se relativamente altivo e - concomitante e contraditoriamente - temeroso em relação a qualquer ameaça que pudesse vir a surpreender a ele e ao seu soberbo esquema de segurança; fiquei apenas a observar-lhe o semblante por alguns minutos e, em seguida, prossegui a viagem. Fui ainda a Paris, Berlim, Vaticano, Buenos Aires, São Paulo, Nova Iorque, Madri e outras cidades que, entre outros aspectos, tinham em comum a incapacidade de tirar do semblante dos seus habitantes a preocupação com o desemprego e com a conseqüente miséria, oriundos do “tsunami” da crise financeira.
Mas, em segredo, preciso revelar aos amigos que lêem a esta página que, intimamente, não me sinto proprietário dos problemas globais do mundo. Já não me comovem tanto o Tibete com as suas apelações pela liberdade do seu povo e outras tantas guerras entre povos que, invariavelmente, servem para aquecer a indústria armamentista americana. Acredito, pois, que nós, brasileiros, temos mais com o que nos preocuparmos; exemplos como o fogo que tomou conta do imenso verde que outrora coloria a região da chapada diamantina, a violência presente nos grandes centros urbanos, a fome e a miséria incessantes no semi-árido nordestino, as inundações no Estado de Santa Catarina, a letargia da justiça e os políticos blindados que só mostram as suas caras nas eleições, deverão ser os verdadeiros alvos para os nossos olhares mais solidários.
De volta ao lar, após uma volta ao mundo em vinte dias, tive, verdadeiramente, uma única frustração: a de não poder interferir para inserir - quando jornalistas articulavam, no silencio da madrugada da quinta-feira passada, num lugar acima da terra e abaixo do céu, uma lista com os oitenta maiores blogs do mundo - o nome do “intitulável” no topo.
RF
A mesma condição me dominou durante estas duas semanas - com exceção do clima de "deixa a vida me levar" presente na citação do referido cantor -, enquanto estive ausente do universo “blogueano”: estive, assim como ele, entre a terra e o céu; entretanto, encontrar-se com o meu consciente seria uma frustração para os que tentassem se aproximar. Estava em outra dimensão; vivi uma espécie paradoxal de coma: ele era simultaneamente emocional e intelectual - apenas o meu corpo tinha vida e, dinamicamente, se locomovia por entre os lugares mais agitados e mais cobiçados do mundo. Tive ainda, vale salientar, a propriedade formidável do armazenamento; tudo o que presenciei ficou gravado na memória e agora, após ter reinterpretado os acontecimentos, trago-lhes à tona os fatos mais marcantes destas últimas semanas, num gesto semelhante ao de uma criança que corre afoito em direção aos seus amigos para mostrar-lhes tudo o que aprendera.
Enquanto flashes eram disparados em Washington (EUA), vi, a discursar, um Obama diferente daquele apresentado na tevê: aparentava-se relativamente altivo e - concomitante e contraditoriamente - temeroso em relação a qualquer ameaça que pudesse vir a surpreender a ele e ao seu soberbo esquema de segurança; fiquei apenas a observar-lhe o semblante por alguns minutos e, em seguida, prossegui a viagem. Fui ainda a Paris, Berlim, Vaticano, Buenos Aires, São Paulo, Nova Iorque, Madri e outras cidades que, entre outros aspectos, tinham em comum a incapacidade de tirar do semblante dos seus habitantes a preocupação com o desemprego e com a conseqüente miséria, oriundos do “tsunami” da crise financeira.
Mas, em segredo, preciso revelar aos amigos que lêem a esta página que, intimamente, não me sinto proprietário dos problemas globais do mundo. Já não me comovem tanto o Tibete com as suas apelações pela liberdade do seu povo e outras tantas guerras entre povos que, invariavelmente, servem para aquecer a indústria armamentista americana. Acredito, pois, que nós, brasileiros, temos mais com o que nos preocuparmos; exemplos como o fogo que tomou conta do imenso verde que outrora coloria a região da chapada diamantina, a violência presente nos grandes centros urbanos, a fome e a miséria incessantes no semi-árido nordestino, as inundações no Estado de Santa Catarina, a letargia da justiça e os políticos blindados que só mostram as suas caras nas eleições, deverão ser os verdadeiros alvos para os nossos olhares mais solidários.
De volta ao lar, após uma volta ao mundo em vinte dias, tive, verdadeiramente, uma única frustração: a de não poder interferir para inserir - quando jornalistas articulavam, no silencio da madrugada da quinta-feira passada, num lugar acima da terra e abaixo do céu, uma lista com os oitenta maiores blogs do mundo - o nome do “intitulável” no topo.
RF
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