Pular para o conteúdo principal

Barack "Amin" Obama: o último rei da América?

A esperança por um mundo melhor foi renovada após ter sido encerrada a contagem de votos das urnas americanas, nesta última quarta-feira. O mundo agora já faz contagem regressiva para assistir à saída - sem a menor deploração - do reprovado e prepotente George W. Bush do trono de Washington no ano que vem e já se prepara para receber, de braços abertos, o mais novo fenômeno (fenômeno?) da política global: Barack Obama - eleito com mais de 52% dos votos e o primeiro negro a se tornar presidente na terra do tio Sam (corram, chamem o "guiness book"). Mas não deixemos de notar nas estrelas o que já é saliente e que nelas está escrito: o fato de a mão responsável pela assinatura mais importante do mundo (a partir de janeiro de 2009) ser negra, não significa, ainda, que testemunharemos uma extraordinária mudança mundana. Pode ser apenas mais uma mania de perseguição, mas qualquer futura semelhança detectada entre o recém eleito presidente dos EUA e o inexorável e memorável imperador de Uganda, não será mera coincidência. Em comum, eles já têm o sorriso fácil, a simpatia e a eloqüência em suas declarações. A parte desagradável da conjecturada parecença poderá ser ratificada se Obama, assim como fez Amin, fechar os olhos e os ouvidos para os seus semelhantes ao redor e lançar mão do autoritarismo abusivo em vez daquele elaborado discurso de autoridade conselheira e aconselhável, caracterizado durante os seus tempos de campanha e militância, respectivamente.
Idi Amin Dada Oumee reinou em Uganda entre 1971 e 1979, após instituir o golpe de estado que o levara ao poder. Conhecido por ser vingativo e muito violento, expulsou do seu país cerca de 40 mil asiáticos, descendentes de imigrantes do império britânico na Índia, dizendo que Deus lhe havia dito para transformar Uganda num país de homens negros. A sua história pode ser melhor ilustrada no filme "The Last King of Scotland" ("O último Rei da Escócia"), lançado em 2007 e dirigido por Kevin Macdonald.
Obama terá mais poderes, mais recursos e maior influência que Amin, mas se não mostrar-se equilibrado diante das pressões - remetidas pela crise gerada pelo descrédito financeiro, pela necessidade de manutenção da política expansionista militar, pela “onda verde” em defesa ambiental e pela pobreza já em crescimento vertical por causa do decadente setor imobiliário - poderá esquecer-se dos princípios (democráticos e liberais) que o levaram ao poder e tornar-se mais um monstro ditatorial a ganhar espaço nos nossos futuros livros de história.
Obama já declarou que deseja manter uma maior aproximação com os países sul-americanos: mostrou-se interessado em discutir, com o Brasil e com o mundo, o futuro "sustentável" da Amazônia e está a declarar, indisfarçadamente, que não pretende conviver com o etanol brasileiro. Não, não pensemos ainda em sentir saudades de Bush somente porque ele "permitiu" os ensaios das futuras integrações entre os países da América Latina - a exemplo da expansão do MERCOSUL e de novos acordos bilaterais, como o acordo fechado entre Brasil e Argentina que prevê a viabilização do câmbio e da circulação entre as suas respectivas moedas nos seus respectivos territórios – enquanto os seus olhos estavam atentos ao Oriente Médio; devemos, sim, enterrá-lo para sempre no hall dos "vivos, porém esquecidos". As prerrogativas que sustentaram a comparação entre dois dos mais destacáveis homens negros da nossa história talvez sejam descabidas e improváveis, mas ainda é mesmo muito cedo para tirarmos a roupa do "superman" do armário no desígnio de condecorarmos com relativa (ou quase nenhuma) importância um, até então, inteligente e agradável recém eleito presidente americano.

RF

Comentários

Anônimo disse…
Kra, pensei que vocÊ tinha falado de "Amir",protagonista de "O Caçador de Pipas". Quanto ao "Último Rei da Escócia",não o assisti, nem li o livro. Achei interessante a comparação e embora eu seja muito radical, achei que exagerou um pouco. Mas a idéia é válida: não é apenas porque Obama é negro que ele será um bom Presidente. Bush é branco e é o crápula que é. Koff Anan é negro e é o crápula que é. Angela Merthel é branca e é a bruxa que é. Condolissa é negra e ´´e a bruxa que é. Não é a cor que nos define, mas as nossas atitudes revelam quem somos.

Um forte abraço
Gabriel França disse…
Texto inteligente, adicionado ao comentário de Tiago obtemos a mais pura verdade. Obama, hoje, é a grande esperança de todo o mundo. Mas essa esperança está no fato de ele ser negro. Eu acho que aí está o grande equívoco de todos. Brancos, negros e mulatos fazem as mesmas perversidades. Agora é esperar pra ver!

Postagens mais visitadas deste blog

EDMÉIA WILLIAMS - UM EXEMPLO DE FORÇA E CORAGEM

Vivemos em um mundo altamente egoísta. São raras as ações de humanitarismo e solidariedade. Por isso mesmo, elas merecem grande destaque. São poucos os relatos de pessoas que abandonam o seu cotidiano e a sua comodidade para contribuírem para o bem-estar do próximo. A “personalidade da semana” do INTITULÁVEL é uma dessas exceções da sociedade hodierna. Edméia Willians nasceu em Santarém, interior do Pará. Entretanto, sua família migrou para Salvador, na Bahia, onde ela passou a maior parte de sua vida. Aqui ela cresceu, realizou seus estudos, se casou, constitui família e obteve os bacharelados em Pedagogia, Filosofia, Psicologia e Música. A sua vida era normal, como de muitos. Passou a morar no Rio de Janeiro, devido ao emprego de seu marido. Chegou até a morar no Iraque, ainda na época de Sadan, também por motivos profissionais relativos ao seu esposo. Tudo transcorria normalmente até que duas tragédias mudaram a história de sua vida. Em um período muito curto, Edméia perdeu o seu es

POR DENTRO DA CAIXA DE PANDORA

Mais uma operação da Polícia Federal. Seu nome: CAIXA DE PANDORA. Os resultados: corrupção, caixa dois, mensalão. Envolvidos: José Roberto Arruda (DEM) - governador do Distrito Federal , Paulo Octávio (DEM) - vice-governador, Durval Barbosa (o delator) - secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal e mais uma corja enorme de deputados distritais corruptos. E o que podemos aprender com tudo isso? Vamos começar pelo excêntrico nome da operação policial. Pandora é uma personagem da mitologia grega, considerada a primeira mulher, filha primogênita de Zeus. A famosa Caixa de Pandora era usada por ela para guardar lembranças e a sua mente. A tragédia aconteceu quando ela guardou lá um colar que seu pai havia dado a ela. A caixa não podia guardar bens materiais e por isso o colar foi destruído. Pandora entra em depressão e tenta dar fim na caixa, mas ela era indestrutível. Por fim, ela se mata, por não conseguir continuar vivendo carregando aquela maldição. Comumente, a expres

TELA AZUL

Meu recente deslumbramento com a qualidade dos livros de Fernanda Torres permitiu que eu olhasse o livro da Maitê (É duro ser cabra na Etiópia) com olhar caridoso, adquirindo-o para o longínquo voo. A leitura diferente e intrigante, com textos de vários autores desconhecidos, rememorou em mim que o meu prazer de ler sempre foi equivalente ao de escrever. Apesar da voracidade para acabar o livro, a rinite estava atacada. Além disso, os últimos dias haviam sido bem cansativos. Decidi, então, tentar cochilar. Fone no ouvido, voo de cruzeiro. O barulho das crianças no assento de trás não era mais tão perceptível. O avião estava acima da enorme nebulosidade e eu observei a luminosidade variando na asa para avaliar possíveis turbulências. Tudo planejado, era hora de tentar dormir, coisa rara para mim em voos. Entre as variadas cochiladas, a mente tentava conciliar o descanso exigido e a consciência plena da situação. Num dos lampejos, após tornar a fechar os olhos, vi tudo azul.